22 - Saindo do Armário

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Dornelles e Cabral seguiram Tobias até a suíte, onde, a princípio, havia sido feita apenas uma vistoria prévia. O local parecia limpo e sem sinais de sangue, mas uma observação mais minuciosa mostrava que havia alguns respingos também no local.

- O que queria nos mostrar, fala logo Tobias, pra que o suspense? - zangou-se Cabral, que começava a ficar ranzinza.

- Calma chefe. Tá aqui. - ele respondeu, mostrando um armário que ficava em um dos cantos da parede do espaçoso banheiro, a mesma que dividia com o quarto.

Ele puxou uma alavanca e o armário revelou um fundo falso. Quando o retirou, havia mais um corpo, que havia sido colocado no interior de forma um tanto atabalhoada.

- Caramba, quem é essa? - gritou Cabral.

- Não sabemos ainda, queria mostrar pra vocês antes. Já registramos as fotos e vou começar a retirar o corpo, vamos tentar identificar, mas dá para dizer que é uma mulher, jovem, entre 20 e 25 anos, eu diria.

Dornelles, mesmo de luvas, colocou as mãos nos bolsos, um gesto que o ajudava a pensar. Encontrar outra vítima no local mudava um pouco as coisas. Poderia significar que Afonso fosse mesmo o assassino, tivesse usado o sangue da jovem para escrever as mensagens antes de colocar fim à própria vida. Mas por que agora, por que assim?

O investigador seguiu acompanhando a perícia e a mulher logo foi identificada. Era Juliana, uma das recepcionistas da clínica. Dentro do armário também havia alguns documentos da clínica, que comprovavam que abortos clandestinos eram realmente realizados. Também havia um pouco de dinheiro e, sem dúvida, provas suficientes para que Afonso fosse identificado como o responsável pelos assassinatos.

O armário era amplo, já que atravessava a parede e usava uma parte do fundo do guarda-roupas no quarto também. Na parte de cima dele, havia um cofre trancado.

- Abram isso o mais rápido possível, traz o esquadrão de bombas, sei lá, quero tudo aqui revirado! - orientava Cabral, que estava incrivelmente descabelado, o que demonstrava o quanto estava focado na situação, já que fazia questão de estar sempre bem penteado, ainda mais quando apareceria em rede nacional - talvez até internacional.

A cada momento, novos técnicos chegavam ao local, que se tornara um pandemônio. Uma equipe para abrir o cofre, um especialista para desbloquear o celular encontrado com a jovem e todo tipo de profissional técnico disponível fora mandado para lá. Dornelles havia descido ao primeiro andar, decidira dar uma volta pela casa, ainda que tudo indicava que todas as provas haviam sido deixadas no quarto principal.

Todo o resto da residência estava bem organizado, sem sinal de nada que pudesse indicar uma pista. A cozinha estava limpa, ainda que houvesse alguns pratos na pia. Dois deles, de sobremesa. Provavelmente tinham sido usados por Afonso e Juliana. Será que tinham um caso? Ou ela era cúmplice? Difícil saber sem mais informações. Mas tudo indicava para a culpa de Afonso.

Ainda assim, alguma coisa não batia. Os crimes anteriores foram bem trabalhados, havia uma mensagem. A rosa de sangue, a bebida, a posição dos corpos, tudo parecia contar uma história. Assim como a cena do crime atual, mas essa soava artificial, mentirosa, armada para esconder uma história ou desviar a atenção da verdadeira. Sentia isso, mas talvez fosse apenas a decepção por ter deixado o assassino escapar, ainda que fosse com a morte.

- O sistema de segurança foi desligado e as imagens das câmeras apagadas. Então não tem registro de nada do que aconteceu desde ontem. - avisou um irritado Cabral, surpreendendo Dornelles na cozinha espaçosa.

O investigador continuou com as mãos nos bolsos, pensativo. Sentia que era um momento péssimo para decidir não fumar, um cigarro era tudo que queria naquele momento, mas teria de se conformar com um café bem forte assim que possível.

Enfim, parecia não haver nenhuma pista que indicasse em outra direção e talvez Dornelles tivesse de aceitar que tudo era como parecia mesmo.

- Cabral! - quem gritara era Tobias, da ponta da escada na sala, para chamar o delegado que estava com Dornelles na cozinha.

- Que foi? - respondeu Cabral.

- Acho que conseguimos mais umas coisas, você quer ver?

- Claro que sim, tô indo aí!

Delegado e investigador se dirigiram rapidamente de volta à cena do crime. Talvez os assassinatos estivessem mesmo solucionados.

Quando entraram no quarto, Tobias estava com um notebook, provavelmente que pertencia a Afonso. Colocou-o em um móvel que já havia sido periciado e apontou.

- Espero que não tenham tomado o café da manhã...

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora