3 - Rosas e Vinho Tinto - Parte 3

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O restante da semana mostrou-se improdutivo. A perícia confirmara que a rosa artificial havia sido colorida com sangue, mas não era da vítima e não havia como identificar de quem era. O buquê havia sido entregue pelo namorado, mas sem a tal rosa falsa, jurava ele.

Na sexta-feira, depois de dias infrutíferos, o delegado Gustavo Cabral já estava no pé de Dornelles. Havia indícios suficientes para incriminar Angelo, mas o investigador sabia que seria um erro. Ainda não passava das dez da manhã e ele já havia tomado dois comprimidos para dor de cabeça e duas canecas de café sem açúcar.

Sentia que precisava de algo novo, uma pista milagrosa que indicasse qualquer coisa para onde a investigação pudesse caminhar, ou não teria opção a não ser engolir as ordens do delegado e indiciar Angelo como principal suspeito, mesmo sabendo que não havia provas para condená-lo. Provavelmente a polícia seria mais uma vez acusada de negligência.

Na mídia, o caso chamou atenção apenas no primeiro dia, depois disso, com tantas coisas ruins acontecendo o tempo todo, acabou esquecido pela imprensa; o que era ótimo, ter jornalistas enxeridos bisbilhotando só atrapalharia o andamento das investigações.

Foi então que, para o bem ou para o mal, suas preces foram ouvidas.

- Dornelles, o namorado da mulher sem sangue foi encontrado morto... - avisou um policial, entregando um papel rabiscando com as informações da denúncia.

O investigador deu um grande e último gole em seu café e partiu para o endereço junto ao delegado Cabral, que estava cuidando do caso.

No trajeto, enquanto manuseava um tablet com as informações, Cabral foi compartilhando-as com Dornelles. O namorado da vítima deveria ter se apresentado naquela manhã na delegacia - fato que o investigador havia esquecido completamente -, mas não comparecera. Um viatura fora designada a ir até a sua casa intimá-lo e, ao chegar lá, o policial percebeu que o portão estava destrancado e entrou, para bater à porta. Tentou e ela estava destrancada também. Ao abri-la, viu o homem sentado no sofá, vestindo apenas cueca. Chamou-o várias vezes, não obteve resposta e acabou entrando, para em seguida constatar que ele estava morto. 

Chegaram à residência da nova vítima em questão de minutos - a sirene sempre ajudava a acelerar mesmo no trânsito caótico da cidade. 

A dupla policial que encontrara o corpo fazia a proteção do local, ainda sozinhos, aguardando os reforços, mas Cabral e Dornelles eram os primeiros a chegarem.

O delegado apenas cumprimentou os policiais e partiu para dentro da casa, enquanto que Dornelles se deteve para bater as informações prévias que tinha.

- O portão estava destrancado, a porta também, aí você entrou? - perguntou o investigador.

- Sim, eu toquei a campainha algumas vezes e ninguém atendeu. Tentei o portão e estava aberto, então entrei até a porta, bati palmas, bati na porta e nada. Girei a maçaneta e tava aberta, olhei lá dentro e vi alguém no sofá, imóvel. Tentei chamar a atenção e como não houve resposta eu entrei e fui até ele. Parecia só dormindo, mas testei a pulsação e vi que estava morto. Pela natureza da situação, achei que poderia ser um caso de assassinato, então imediatamente avisamos a delegacia e ficamos aqui para preservar o local. - respondeu sem pausas o policial.

- Fez bem - elogiou Dornelles -, parece que a coisa é bem séria e quanto mais pudermos vasculhar o local sem interferências, melhor. 

Em seguida, o investigador seguiu para dentro da residência para encontrar o delegado. A casa não era grande, mas tinha um design bastante moderno, com sala em conceito aberto, com uma mesa de jantar em madeira e metal e cozinha americana com móveis prateados.

Angelo estava na sala, sentado de frente com a TV, como se tivesse adormecido enquanto assistia. O aparelho ainda estava ligado e não parecia haver nenhuma relevância no que exibia. O homem vestia apenas cueca, conforme reportado pelo policial. Ao lado dele, no braço do sofá, havia uma taça de vinho vazia e na mesinha à frente do sofá, onde uma das pernas da vítima estava apoiada, estava a garrafa com outra taça vazia, ao lado de uma rosa artificial. 

Examinando de perto o corpo, Dornelles notou que estava pálido, mas apenas recostado no sofá, não estava preso para manter-se ereto como a primeira vítima. Procurou por marcas no pescoço - a cabeça de Angelo estava aconchegada no encosto -  e nada havia, mas confirmou sua suspeita ao encontrar apenas um furo no braço. Sinal de que o assassino podia ter tirado também o sangue do homem, mas dessa vez sem querer indicar que havia sido com presas caninas, o furo único provavelmente indicava o uso de uma seringa. Teria de esperar a análise da perícia para tirar mais conclusões.

Olhou para a rosa vermelha sobre a mesinha e sentiu um calafrio percorrer a espinha. Sem dúvida se tratava do mesmo assassino, o modus operandi confirmava isso. O que ele não sabia e sequer tinha ideia ainda, era o por quê. O que essas pessoas tinham feito para serem escolhidas, por que retirar o sangue, por que as roupas íntimas, por que a rosa de sangue?

Examinou o corpo novamente, sabia que logo o local estaria cheio de peritos, provavelmente mais um ou dois investigadores colegas seus, talvez até outro delegado. Sua cabeça continuava doendo e ainda nem era meio-dia. "Sextou", pensou ele, enquanto saía da casa para tomar mais uma aspirina que tinha no bolso. 

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora