13 - Morte Tardia

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Cabral bufou, mas acompanhou o policial, seguido por Dornelles. E não demorou para que perdoasse a intromissão afobada do jovem policial, uma nova vítima havia sido encontrada e o caso acabara de ficar mais complicado.

Dornelles acompanhou o delegado até o carro e saíram em disparada, Cabral dando ordens no celular para que toda a perícia se dirigisse para o local. Dirigiu descontroladamente pela cidade, quase parou o veículo para dar ordem de prisão a um motoqueiro que chutara seu retrovisor por levar uma fechada, mas desistiu.

Dornelles, na medida do possível, ia conferindo as informações iniciais na tablet da polícia e ficando confuso. A vítima, um homem já de certa idade, não se encaixava no padrão até agora. Mas só teria as dúvidas esclarecidas quando a identidade fosse confirmada. Talvez nem fosse obra do Assassino da Rosa de Sangue, embora as informações iniciais falavam sobre uma rosa vermelha e uma garrafa de bebida alcóolica na cena do crime.

Chegaram ao local, uma casa humilde em um bairro na periferia, parecia até abandonada. Moradores cercavam a residência, curiosos. O mato alto no pequeno quintal de entrada levava a uma porta antiga, que havia sido arrombada sem muita dificuldade. O cheiro fétido de um cadáver, como bem sabia Dornelles, podia ser sentido até na rua e fora realmente o que atraíra a atenção.

- Esse é o Iran, foi ele que encontrou o corpo. - disse um policial, apresentando a Dornelles e Cabral um homem moreno e forte, um pouco acima do peso e pele judiada pelo sol.

Cabral pediu que Dornelles falasse com ele e seguiu para a casa, vestindo as luvas. 

- Você era conhecido da vítima, sabe quem é? - perguntou o investigador, deixando a tablet de lado, no carro, para anotar tudo em sua caderneta, que julgava mais confiável.

- A gente conhecia sim, era o seu Genivaldo. Ele era aposentado, morava sozinho aí, mas muitas vezes passava a noite na rua. Ele bebia muito... - disse o homem, trazendo um sotaque bastante carregado da região nordeste do país.

- E como você encontrou o corpo?

- A gente percebeu que tava vindo um cheiro bem forte de lá de dentro, sabe? Aí a gente decidiu chamar, batemos na porta, mas ninguém atendeu não. Aí eu dei um tranco na porta, ela abriu e ele tava lá, morto no sofá. Eu nem quis entrar, ninguém entrou. Fiz umas fotos com meu celular dali da porta mesmo. A gente logo ligou para a polícia. 

Dornelles anotou as informações, pediu para que o policial pegasse os dados de Iran e de todos os vizinhos para averiguação e correu para dentro da casa. Havia visto as fotos no caminho, mas só agora confirmaria se o crime tinha mesmo a assinatura do psicopata que perseguia há semanas.

Mesmo com a máscara que usava, o cheiro ainda podia ser sentido. A perícia ainda não havia chegado e era importante manter a cena como haviam encontrado. De qualquer forma, o investigador começou sua análise inicial.

O velho Genivaldo estava sentado no sofá como se estivesse apenas descansando. Vestia apenas uma cueca velha e folgada e, ao seu lado, encaixado junto ao corpo abaixo do braço esquerdo, havia uma garrafa de bebida. Tentou sentir o odor, arrependendo-se imediatamente, já que o fedor do cadáver era muito mais forte. Mas a bebida era transparente, não guardava semelhança com o vinho encontrado na cenas de crime anteriores. Poderia ser só um imitador. Ainda que a rosa vermelha artificial estivesse ali, jogada aos pés do homem. 

Olhando mais de perto, Dornelles percebeu outra diferença. As vítimas anteriores não tinham marca de violência. Inclusive, a causa da morte ainda era dúvida na investigação. Tudo indicava veneno, mas qual? Enfim, a nova vítima tinha marcas pelo corpo, ferimentos roxos e marcações de pressão, como se tivesse estado preso, amarrado.

- Olha isso Cabral... acho que ele foi amarrado. E parece estar morto há dias... - disse Dornelles, apontando para regiões do corpo, o que fez com que o delegado se abaixasse um pouco para enxergar.

Nesse momento, os policiais da perícia chegaram, liderados por Tobias. Não era comum atenderem tão rápido, mas o local já estava um pandemônio, jornalistas já se espremiam do lado de fora da casa tentando saber mais detalhes da nova vítima do Assassino da Rosa de Sangue.

Sem cerimônias, Tobias já deu o primeiro veredito, enquanto colocava sua bolsa com os equipamentos em um canto.

- Vixe, esse tá morto faz tempo. Uns três dias pelo menos? - hesitou, buscando confirmação em um dos outros técnicos.

- Pelo menos... - respondeu Rogério, que também já tinha pelo menos uma década de experiência.

- É... - complementou Tobias - vamos começar que esse vai dar trabalho... segura as feras lá, chefe! - finalizou, fazendo um sinal para o delegado.

Nesse momento, o celular de Dornelles tocou. Não queria atender, mas era da delegacia.

- Um minuto... - disse, saindo da casa e tirando uma das luvas - o que foi...? - começou a perguntar, mas foi interrompido, era sua irmã do outro lado da linha.

- Preciso te mostrar uma coisa urgente. A gente tava certo!


O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora