12 - Fichada

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A ordem de prisão partiu de um policial fardado, de arma em punho. 

Thalita colocou imediatamente as mãos na cabeça e desceu da pequena escada lentamente - sabia que não tinha alternativa - e por trás do policial pôde ver o "meio calvo" esboçando um sorriso quase de prazer, divertindo-se, talvez por achar que ela estava tentando fugir pela janela.

Uma policial feminina apareceu na sequência e a conduziu até a viatura. Thalita sabia como funcionava, embora nunca tivesse sido presa - e seu pai levantaria do túmulo para dar-lhe uma bronca por isso, se pudesse. 

*****

Instintivamente, Dornelles se dirigia para a clínica quando seu celular tocou. Atendeu achando que fosse a irmã, mas era o delegado Cabral.

- Cabral, delegado, desculpa, mas tô com uma situação familiar urgente aqui, posso te ligar daqui a pouco? - disse o investigador, antes mesmo que o chefe dissesse algo.

- Eu sei que está. Sua "situação familiar urgente" tá aqui na delegacia, aliás. Era para estar algemada, mas sei que ela não vai fugir...

- A Thalita tá aí? - perguntou, tão rápido enquanto guiava que as palavras foram pronunciadas quase todas juntas na frase.

- Sim. Vem pra cá. A gente tem que conversar. Seriamente. - respondeu o delegado, frisando bem a última palavra e desligando em seguida, sem esperar nenhum retorno.

- O que sua irmã aprontou Nel? - perguntou solícita Raquel, no banco de passageiros.

O investigador apenas respirou fundo, olhou para ela e balançou a cabeça. 

- A culpa dessa vez é minha Kel, ela tava fazendo um favor pra mim e pelo jeito deu errado. Acho que ferrei nós dois dessa vez...

Toda a emoção que o casal sentira no ultrassom acabou ficando de lado com a tensão da prisão de Thalita. Dornelles deixou Raquel em frente ao prédio em que ela morava, se despediu com um beijo rápido e partiu, dizendo que ficaria tudo bem, no fim das contas. Não que ele achasse realmente isso, era apenas para acalmá-la. Mas também sabia que ela não era idiota e que sequer acreditaria. De qualquer maneira, essas questões teriam de ficar para depois. 

Chegou na delegacia o mais rápido que pôde, quando entrou foi direto à sala de Cabral. Achou que a irmã estaria lá, mas ela estava em outro setor. Havia uma queixa contra ela por uso de documento falso, como ele ficou imediatamente sabendo pelo delegado, e o Boletim de Ocorrência estava sendo lavrado junto ao advogado da clínica. 

- Fecha a porta, Dornelles. - disse Cabral, depois de explicar que a irmã estava sendo "fichada". 

O investigador obedeceu. Sabia que a bronca viria. 

- Isso é coisa sua né? Você mandou sua irmã futucar a clínica, mesmo eu falando para você investigar outra coisa.

Dornelles não respondeu de imediato, estava até constrangido pelo amadorismo com que ele e a irmã haviam sido flagrados. Até que enfim conseguiu desengasgar.

- Foi, foi coisa minha. A Thalita tava só me ajudando, eu assumo a responsabilidade. 

- Não. Você não vai assumir nada agora. Sua irmã jurou pelo seu pai, que eu não conheci, mas sei que era muito respeitado, que você não tinha a nada a ver com isso. E vamos manter assim. Senão pode rolar um processo contra a polícia, contra o Estado, a gente pode até ser exonerado por causa dessa sua burrice. 

Dornelles engoliu em seco e Cabral continuou.

- O pior de tudo é que se, por acaso, a tal clínica tiver algo a esconder, a gente não consegue chegar nem perto agora. Você pelo menos descobriu alguma coisa?

- Não, pelo menos até hoje. Se a Thalita descobriu alguma coisa, ainda não estou sabendo.

Cabral levava as mãos à cabeça, levantava e girava em torno de si mesmo na sala. Ele era um bom delegado, jovem e ambicioso, que geralmente ouvia seus investigadores nos casos. Mas agora era óbvio que se sentia passado para trás. Talvez até traído.

- Olha Cabral, eu sei que fiz besteira. Eu tinha que tentar algo, era só uma investigação preliminar da Thalita, só ver do que se tratava o atendimento da clínica. Se precisar assumir eu assumo.

- Não, já falei que não e vê se dessa vez me escuta. Dornelles, você é um bom profissional, a gente é amigo também no fim das contas. Vamos tentar salvar as nossas carreiras, salvar sua irmã, prender esse assassino e seguir em frente. Um dia a gente talvez ria disso ou conte nos churrascos. Mas vai demorar bastante... - suspirou, em um misto de frustração e impaciência.

Nesse momento, alguém abriu a porta esbaforido.

- Eita, não se bate mais na porta? Virou a casa da Mãe Joana? - bradou Cabral.

- Desculpa delegado, - disse o policial que abrira a porta inadvertidamente - mas tem uma nova ocorrência.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora