20 - O Caminho do Fim

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Quando decidiu que tinha que passar uma mensagem ao mundo, sabia que, em algum momento, teria de interromper suas atividades se não quisesse ser apanhado pela polícia. E para que vencesse, seria importante seguir com sua estratégia até o fim. Ainda que, "o fim" pudesse significar mesmo isso.

Mas não esperava que o desfecho precisasse chegar tão cedo. Estava contando com a incompetência da polícia, e com a baixa taxa de resolução de assassinatos - algo em torno de 45% na média nacional, embora as forças de segurança contestassem como próximo de 70% de soluções de homicídios.

Ainda assim, não esperava encontrar alguém tão empenhado quanto o investigador que o transformara em obsessão. Esperava que seus crimes chamassem sim a atenção, que a mídia gastasse tempo discutindo o significado, mas não que chegassem tão perto, colocando em risco todo o plano.

E a mídia, aliás, dera pouca atenção, apenas pontualmente, principalmente quando morrera uma personalidade "mais ou menos famosa". No entanto, ninguém tinha chegado a grandes conclusões, ninguém havia entendido o recado. Com isso ele até já contava. Sabia que a burrice das pessoas não ia permitir que enxergassem além do próprio nariz, que fossem capazes de entender a grandiosidade de tudo que ele tramara nos últimos anos, depois de perder a única coisa com a qual já se importara na vida. 

Os responsáveis já haviam pagado há muito tempo, mas era preciso deixar um recado ainda maior, algo que revelasse a verdade horrível e incontestável do que ele queria mostrar.

Por isso mesmo passara os últimos dias se preparando para revelar o que eles não tinham sido capazes de enxergar sozinhos. Desde que a jornalista havia hackeado informações do computador da clínica (que audácia hackeá-lo!), havia se preparado para o fim.

A princípio, claro, ficara impressionado com a inteligência dela no esquema para investigar a clínica. O nome falso, a interpretação, o programa espião de última geração. Mas ficara um pouco decepcionado quando descobrira que a ideia parecia ter partido do irmão, o investigador Dornelles. Também não podia negar que se decepcionara com a inocência dela em executar o vírus que mandara por e-mail junto ao vídeo das câmeras. Claro, admitia, era uma isca perfeita e o fato das imagens serem verdadeiras, tornava tudo ainda mais insuspeito. Ainda assim, teve esperança de que ela fosse mais esperta que isso.

Não era.

Por isso, ele agora era capaz de escutar tudo que ocorria no apartamento dela graças à onipresença da Alexa - esses jovens e sua confiança ilimitada em tecnologia.

Foi lá que descobriu o quanto Dornelles sabia, de toda a desconfiança com a clínica e o quanto era questão de tempo até que chegassem à verdade.

Mas não a verdade que ele queria mostrar. Não a que o mundo deveria conhecer. Por isso, era imperativo que o fim ocorresse sob seus termos, nas suas condições, exatamente como havia planejado. E a hora havia chegado. 

A noite havia engolido o dia como uma planta carnívora devora sua presa e ele havia deixado pronto tudo o que precisava.

O diário com sua confissão, seus motivos, suas razões e sua história, que deveria chegar ao mundo. Todos deveriam saber porque essas pessoas haviam morrido - mais do que isso, deveriam saber o que eles fizeram, pois ainda havia incontáveis pecadores como eles que mereciam um destino igual ou pior.

As provas necessárias para que fosse reconhecido como autor dos crimes também estavam preparadas, assim como as últimas rosas de sangue que tinha. Talvez um dia a polícia fosse capaz de identificar a quem pertencia o sangue usado nelas, mas duvidava.

Por fim, sua faca mais afiada.

Passou o dedo sobre o fio para ter certeza de que estava impecável e um filete de sangue escorreu. 

Lambeu-o e sorriu. O próximo corte seria muito mais profundo, no pescoço, fazendo com que muito sangue jorrasse. A mídia iria adorar isso, tinha certeza.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora