21 - Pecadores Merecem Morrer

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Dornelles acabara de chegar ao local de um novo crime. A imprensa, claro, já acampava do lado de fora, ensandecida.

- Vem pra cá agora, pegamos o Assassino da Rosa de Sangue! - disse o delegado Cabral, quase eufórico no telefone mais cedo. 

O dia havia apenas começado e uma mulher, uma diarista, havia informado a polícia do crime na casa de Alfredo Bongiovani. Sim, ele mesmo, o dono da Clínica Ventre Prime, mesmo médico que havia atendido Thalita e, após descobrir o estratagema, a denunciado.

O local do crime era a casa dele, mas Dornelles ainda não sabia o que havia ocorrido, se o médico estava envolvido, se era uma vítima ou o próprio assassino. Só o que estava claro é que a clínica estava envolvida e mil coisas passavam na mente do investigador antes de entrar.

Dessa vez, pelo menos quatro policiais faziam a guarda na entrada, o que indicava que a situação era bem séria. A Polícia Militar prestava apoio e duas equipes técnicas estavam a caminho. Cabral estava do lado de dentro da casa e muito provavelmente até o secretário estadual de Segurança Pública daria as caras, se é que era mesmo verdade o que o delegado havia dito, que haviam apanhado o assassino.

Como era de se esperar, Afonso morava muito confortavelmente, em uma residência bem localizada no Morumbi. Dornelles analisou cuidadosamente o ambiente antes de entrar, havia câmeras pela região, então era possível que alguma pista pudesse ser encontrada.

A casa de Afonso era um sobrado espaçoso, com uma entrada com um pequeno jardim entre a porta e o portão enorme de grades firmes e com pouco espaço para enxergar o interior. A entrada para a garagem ficava mais à direita do portão, levando ao subsolo.

Tudo estava interditado, cercado por fita zebrada e além dos quatro policiais que faziam a guarda na entrada, havia outros espalhados, inclusive na sala, que era o primeiro cômodo da casa.

Dornelles entrou e um dos policiais apontou para a escada.

- Lá em cima! - disse.

O investigador subiu as escadas e encontrou Cabral, que estava no corredor, próximo a uma porta.

- Dornelles! Conseguimos! Pegamos ele! - disse, assim que viu o investigador - Estou esperando chegarem as equipes técnicas, vamos periciar tudo, mas acho que está tudo aqui.

Dornelles se aproximou, cumprimentou o delegado enquanto colocava as luvas. Olhou finalmente para dentro do quarto e foi preciso um longo momento para que pudesse assimilar pelo menos um pouco do que encontrara.

Na parede atrás da cama, havia uma mensagem, escrita com spray. "Pecadores merecem morrer". Mas não era a única. Havia escritos em várias paredes. "O inferno é o destino dos abortistas" e "Quem salva uma criança, salva todas". A última delas, sobre a porta de entrada, que Dornelles teve que se virar para olhar, dizia: "E que Deus absolva os meus pecados". Em alguns trechos, a tinta usada para escrever era sangue, era possível notar a diferença logo de cara.

Em cima da cama, o corpo de Afonso descansava e mesmo que não tivesse um corte profundo na garganta e todo o sangue que manchara os lençóis, seria fácil perceber que estava morto, visto que a pele já estava sem cor. Tinha uma faca enorme e cheia de sangue em uma das mãos.

Olhando ao redor, Dornelles conseguiu ver ainda duas bolsas, com algumas rosas de plástico ao lado - algumas sem pintura - e a lata de spray. Tudo indicava que Afonso era o assassino, havia cometido suicídio e deixado uma mensagem, ainda não muito clara.

Dornelles tomou cuidado para não se aproximar demais e não contaminar a cena. Por sorte e para aplacar sua ansiedade, a primeira equipe técnica, liderada por Tobias, chegou logo.

- Eita! E eu achei que já tinha visto de tudo! - disse Tobias, colocando a máscara e as luvas, enquanto os outros dois técnicos da equipe começavam a examinar o local.

Apesar da curiosidade em acompanhar todo o processo, Dornelles foi até o corredor onde Cabral estava falando agitadamente pelo celular. O investigador esperou que ele desligasse.

- O secretário de Segurança não vai deixar a gente sair daqui sem dar um desfecho pra esse caso. Ele é um babaca, mas fazer o que, temos de obedecer. O que achou da cena? Acho que não resta dúvida de que pegamos o nosso maluco. - falou ininterruptamente, quase atropelando as palavras pela agitação.

- É, pode ser. Mas ainda não dá para afirmar nada, né? Tem que esperar a perícia, pode ser um monte de coisa isso...

- Como um monte de coisas, Dornelles? O cara deixou a confissão praticamente escrita na parede, a gente já desconfiava dele, as coisas encaixam! - o delegado também parecia ansioso para encerrar o caso.

Dornelles não respondeu, apenas deu de ombros e concordou com a cabeça, reticente. Em seguida, voltou para a entrada do quarto para observar o trabalho da equipe. Havia muita coisa que indicava que Afonso era o assassino. Os equipamentos, as rosas, as mensagens em sangue.

Mas muita coisa não se encaixava. Por que ele faria isso, para começo de conversa? Por que mataria algumas clientes? Teria ele fundado a clínica de abortos apenas para matar mulheres que procuravam o procedimento? Além disso, como ele havia escrito as frases com sangue na parede? Teria usado o próprio sangue?

Nesse momento, enquanto ponderava as questões, Dornelles foi interrompido por Tobias.

- Aí, chama o Cabral, vocês vão querer ver isso que encontramos... 

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora