19 - Lágrimas de Pedreiro

13 1 0
                                    

Dornelles havia passado uma noite inquieta. Dormira poucas horas, na maior parte do tempo, se revirava na cama pensando nos assassinatos. Raquel não deixara passar despercebida a preocupação do companheiro, ela mesmo se levantando algumas vezes para ir ao banheiro na madrugada - reflexo da gravidez que avançava.

Como dormir parecia impossível, o investigador levantou antes do sol nascer, fez um café bem forte e foi para a delegacia, enquanto Raquel tentava aproveitar um pouco o sono sem alguém se debatendo ao seu lado na cama.

Dornelles chegou ao local de trabalho com rapidez, o trânsito ainda estava tímido àquela hora, e já começou a trabalhar. Voltou a analisar o histórico da última vítima. Ainda não estava convencido de que ele havia sido morto pelo Assassino da Rosa de Sangue, mas não podia descartar nada.

Para tanto, não bastava apenas uma pesquisa pelo Google ou fuçar redes sociais da vítima. Tinha que fazer o bom e velho trabalho policial, que consistia, principalmente, em falar com pessoas, conhecidos e familiares.

Genivaldo Machado, o velho encontrado morto há dias em sua humilde casa, não tinha familiares próximos. O filho morava em outro estado e sequer comparecera no enterro, era óbvio que não se davam bem.

Então restou conversar com vizinhos e outros conhecidos, tarefa que ocupou toda a manhã de Dornelles. Um contato, no entanto, daria novo ânimo ao investigador. Tratava-se de Pedro, um homem de meia idade e expressão firme, que havia trabalhado com Genivaldo, sendo companheiro no bar em diversas ocasiões.

- O senhor conhecia o Genivaldo de onde, tinham contato? - perguntou Dornelles, já sem conseguir manter tanto o foco do início do dia.

- A gente trabalhou junto numas obras, sabe? E de vez em quando a gente tomava uma depois do trabalho. - afirmou o homem.

- Certo. Quando foi a última vez que o senhor o viu?

- Ah, já tava fazendo mais de mês... Porque ele foi dispensado, nem pra servente tavam chamando mais ele, por causa da bebida. Ele era um bom trabalhador, mas acho que bebia pra esquecer, sabe? Ele dizia que tinha errado muito com o filho, que bateu muito no moleque, que na época ele se transformava quando enchia a cara e por isso o filho nunca mais falou com ele. A última vez que trabalhamos juntos foi na obra da clínica...

A palavra "clínica" imediatamente chamou a atenção de Dornelles.

- Clínica? Que clínica?

- Ah, uma clínica médica perto do centro. A gente fez uma reforma lá, foi a última vez que trabalhei com o velho Genivaldo.

Dornelles rapidamente buscou em seu notebook fotos da clínica Ventre Prime e virou a tela para Pedro.

- Foi nessa clínica que vocês fizeram a reforma?

O homem analisou a foto por uns instantes.

- Foi, foi aí sim. Trabalho grande, levou uns dois meses...

Os olhos de Dornelles se iluminaram como uma criança que encontra um brinquedo novo sob a árvore de Natal.

- Sr. Pedro, vou precisar de todos os detalhes sobre esse trabalho.

- Claro, mas aí você tem que falar com a empreiteira. Eu só faço o trabalho pesado, né? - riu.

Dornelles agradeceu, pegou os contatos, ignorou que estava faminto para almoçar e ligou para a empreiteira. Pegou o carro e foi pessoalmente até lá, comendo algumas bolachas de arroz, insossas e sem gosto, que guardara na gaveta de sua mesa - recomendações de Raquel e da chata da irmã.

Não demorou para chegar no local e, depois de ser atendido pelo gerente, confirmar que Genivaldo havia trabalhado em uma reforma realizada na Ventre Prime, há alguns meses. Realmente havia sido seu último trabalho com a empreiteira. "Ele bebia muito, estava aposentado e não deu para continuar mantendo", lamentou o gerente.

Antes de voltar à delegacia e contar para o delegado o que havia descoberto, fez uma parada no apartamento-muquifo da irmã.

Entrou esbaforido pela porta, animado.

- O velho, a última vítima, ele trabalhou em uma reforma na clínica. É certeza que a clínica tem ligação com os crimes, não pode ser coincidência! - disse, enquanto a irmã o analisava com uma caneca de café na mão.

- Certo, certo. Pega um café e me conta o que você descobriu. Prometo que só vou publicar quando a polícia autorizar. Mas não esquece que tenho exclusiva, heim? - respondeu.

Dornelles serviu-se e contou com calma o que havia descoberto. Longe dali, a conversa seguia sendo gravada, com todo o áudio sendo capturado pela onipresente "agente-dupla" Alexa.

Mais tarde, uma figura misteriosa chega para escutar a conversa gravada. Ouviu atentamente, certo de que suas atividades estavam ficando perigosas. Achou que teria mais tempo, que se vingaria com mais rapidez dos merecedores e faria de exemplo mais pecadores, mas parecia que já estava na hora de partir para o desfecho.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora