7 - Por Trás das Câmeras

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Embora não fosse nenhuma informação sobrenatural ou mesmo totalmente inesperada - o irmão era um homem adulto e independente, com um relacionamento estável há um bom tempo -, Thalita fora pega de surpresa, já que esperava que a postura contemplativa de Dornelles tivesse a ver com o caso que investigava e não com algo pessoal.

Demorou alguns segundos para cair em si, até que finalmente foi invadida por uma estranha e inédita onda de alegria.

- Parabéns Gu! - disse enfim, desembarcando do assento e abraçando o irmão, que por um momento se permitiu envolver pelo amor familiar, não deixando de observar o quanto soava estranho ser chamado de Gu, apelido do seu primeiro nome, Augusto. Nem se lembrava da última vez que alguém que ele conhecia se referia a ele assim, e não pelo sobrenome, que praticamente virara a sua verdadeira identidade.

- Obrigado. Não foi algo planejado, mas estamos bem felizes. - respondeu.

- Já estou ansiosa para conhecer o Gabriel! - disse Thalita.

- Quem é Gabriel?

- Meu sobrinho que ainda vai nascer.

- Aff... nem sabe se vai ser menino...

- Sei sim. Mulher sente essas coisas.

- Ah, cala a boca; dois minutos atrás você nem sabia que ia ser tia... e além disso, quem disse que vai chamar Gabriel se for menino?

- Eu sei que você adora esse nome e a Raquel também!

- Ai ai Tha... assim como todo jornalista, você acha que sabe muita coisa e tá quase sempre errada...

- Opa, encarnou o pai aqui, foi?

Dornelles apenas revirou os olhos.

- Ah, mas tem uma coisa que não sei... - retomou ela - O que aconteceu na casa da G-Tox...

- Não vê jornal não? - respondeu o irmão, descendo do banco depois do último gole de café - Vão explicar tudo na coletiva de imprensa mais tarde. - concluiu, em tom áspero, já que, obviamente, havia sido pego de surpresa com a notícia.

*****

A coletiva já estava alguns minutos atrasada para começar e o burburinho entre os jornalistas era enorme. Dornelles havia passado as horas anteriores discutindo com Cabral, outros investigadores e a assessoria de imprensa da polícia sobre o que seria revelado sobre o caso.

O investigador acreditava que o melhor era manter em segredo os detalhes dos crimes, mas o delegado e a assessoria insistiam na transparência das informações. "Mas isso pode motivar imitadores", argumentou ele, recebendo como resposta um misto de zombaria e incredulidade. "O cara acha que tá num filme do Hitchcock", ouviu de Guilherme, o assessor responsável.

Enfim, vencido, concluiu que só lhe restava colaborar como podia e torcer para que a divulgação ajudasse no caso.

Pelo menos dois canais de TV exibiam a coletiva ao vivo em seus respectivos programas jornalísticos "pinga sangue", e o resumo dos crimes, apresentado pelo delegado Cabral, pelo menos foi sucinto, sem dar muitos detalhes, embora, sabia Dornelles, os apresentadores iriam explorar ao máximo qualquer resquício fúnebre que encontrassem. 

Cabral apenas informou que haviam sido encontradas flores no local, que havia duas outras vítimas anteriores encontradas em situação semelhante, mas que, até o homicídio de G-Tox e o namorado, a policia não tinha certeza de que se tratava de um assassino em série, o que parecia ser o caso.

- E a rosa de sangue? - perguntou um jornalista de um dos canais que transmitia ao vivo, antes mesmo da coletiva ser aberta a questionamentos.

Cabral apenas olhou de soslaio para o assessor; era óbvio que algum policial tinha vazado a informação ou, mais provável ainda, que fotos da cena do crime já estivessem percorrendo grupos de WhatsApp, já que ele não havia dado detalhes das flores e muito menos revelado que havia sempre uma tingida com sangue.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora