24 - O Assassino Está Morto

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A chegada do secretário Afrânio Brillo deixou todos tensos. Cabral passara dez minutos conversando com ele antes de voltar e dizer para Dornelles que teriam que dar um comunicado à imprensa e anunciar que tudo indicava que Afonso era mesmo o Assassino da Rosa de Sangue.

- É cedo ainda chefe, você sabe disso. Depois se isso der errado, a polícia vai passar um vexame enorme, nas suas costas... - apontou o investigador.

- Eu sei, mas não tenho como rebater o secretário. Ele é um pé no saco. Mas também não podemos ignorar todas as provas encontradas aqui. Tem confissão! - rebateu o delegado.

- Sim, mas não tá achando tudo muito fácil, muito entregue de bandeja?

- Claro, não sou trouxa. Mas vai saber o que passa na mente desses psicopatas? Temos de considerar isso também, o cara era mentalmente instável...

- O que não condiz com o perfil do Afonso, de certa forma. Ele tinha viagem marcada para daqui três meses, de férias na Europa! - insistiu Dornelles.

- É, mas podia ser uma viagem de fuga, não acha? - fez uma pausa - Mas enfim, vou apresentar o que temos para a imprensa, dizer que estamos investigando ainda, checando a veracidade das provas e tudo o mais. Então, ou você tem alguma revelação mágica e me prova que a história contada aqui não é verdade, ou o caso tá encerrado. - concluiu, fazendo uma pausa e dando tempo para que o investigador respondesse.

Dornelles suspirou. 

- Eu sei chefe, eu sei. Você tá certo, pode ser só coisa da minha cabeça também e dado que o cara sempre esteve um passo à nossa frente, pode ser que nunca descubramos qualquer coisa que ele não quisesse.

- Caramba Dornelles, não é pra cair em depressão também. 'Bora, tem muito assassinato pra solucionar ainda, mas antes, vamos falar lá com nossos "colegas" da imprensa. Quero você e qualquer investigador disponível aqui junto. E chama o Tobias também. Quero aquela carona de folgado dele na TV e nos jornais. 

Conforme estipulado pelo secretário, em pouco tempo Cabral teve que organizar uma entrevista coletiva para contar da solução dos assassinatos e da descoberta do culpado. Alfredo Bongiovani havia sido identificado, com sua confissão revelada à imprensa, embora seu conteúdo na íntegra ainda não tivesse sido divulgado. O delegado determinou cautela por conta dos familiares.

Bongiovani era filho de uma família rica de médicos. Os pais viviam nos Estados Unidos junto com a irmã mais nova, enquanto que ele havia permanecido no Brasil. Era divorciado de um casamento que durou cinco anos e sem filhos. A infertilidade da ex-esposa, aliás, foi o que levara o médico a se especializar na área, a princípio, e abrir a clínica. Ela vivia em Santa Catarina, havia sido contatada e se mostrara surpresa com a revelação, dizendo que o ex-marido tinha muitos defeitos, mas ser violento não era um deles. Ela aceitara viajar até São Paulo para prestar depoimento, algo que não causava nenhum ânimo em Dornelles, já que o ex-casal não se falava havia meses.

A entrevista começara e Dornelles aproveitou a deixa para ficar um pouco para trás, detestava ter de aparecer. Cabral, ao lado do secretário Afrânio, falava e gesticulava sem parar, mas não de forma afobada e sim com calma, didática e bastante controlada; ele era excelente nisso.

Após as explicações iniciais, Cabral respondeu algumas perguntas dos jornalistas, que tinham muitas. A primeira, claro, era se estava confirmada a identidade do assassino. E tudo levava a crer que sim, mas as provas ainda seriam analisadas.

- Eu tenho de parabenizar o delegado Cabral e toda a equipe que atuou nesse caso pelo ótimo trabalho, com muita dedicação! - tomou a frente Afrânio, mostrando que não havia comparecido ao lugar apenas para posar para fotos. Não, ele queria cravar uma frase marcante para as manchetes dos jornais também - Eu acompanhei toda a investigação de perto - "mentiroso", pensou Cabral - e posso garantir que o caso foi solucionado. O delegado apenas está tomando cautelas, muito justas, mas posso afirmar com absoluta certeza que o caso está encerrado. O infame Assassino da Rosa de Sangue está morto!

O encerramento da coletiva parecia ter dado a Afrânio o que ele queria, uma frase de efeito para a imprensa, e enquanto Dornelles se preparava para voltar ao trabalho, o homem de meia-idade, elevado à secretaria por seu amor por armas, não como oficial da lei, mas como um grande empresário e dono de clubes de tiro esportivo, se apressava em, agora sim, posar para fotos ao lado de Cabral. 

O investigador observou o terno impecável, o cabelo parcialmente grisalho e o relógio ostensivo no pulso do secretário, enquanto ainda pensava que haviam todos sido enganados pelo verdadeiro assassino.

Não muito longe dali, assistindo televisão, uma figura comia pipoca e saboreava o que classificava como sucesso absoluto. Sim, a não ser que sentisse a quase incontrolável compulsão de matar novamente, jamais seria preso pelos seus crimes e, melhor ainda, um babaca desprezível como Afonso Bongiovani havia carregado toda a culpa.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora