O investigador respirou fundo e pediu que o policial o levasse até o namorado da vítima, que era obviamente o principal suspeito, embora Dornelles sequer considerasse que ele seria burro a ponto de preparar toda uma cena e chamar a polícia. Burro ou louco. Se bem que, por outro lado, as pessoas nunca paravam de impressionar pela sua burrice e o "sarrafo" que media a loucura já havia sido superado tantas vezes que nem valia a pena contar.
Do lado de fora da casa, o investigador se encontrou com o namorado da mulher, um homem que não devia ter mais do que 35 anos, barba bem aparada, camisa social, jeans e sapato. Dornelles sentiu que se ele tivesse fugido, com essa descrição, jamais seria encontrado, pois se assemelhava à uns 70% dos homens da sua idade na cidade.
- Bem, foi você que encontrou a vítima, certo... senhor... Angelo... - disse o investigador, olhando a ficha com as informações do caso até o momento.
- Sim... - respondeu o rapaz, com os olhos vermelhos, provavelmente de tanto chorar.
- E ela estava desse jeito? O que o senhor fez? Mexeu nela? Ou chamou a polícia de imediato?
- Eu fui até ela quando entrei, a TV estava ligada e ela sentada à mesa. Achei estranho que ela não respondia, eu estive aqui mais cedo, conversamos...
- Tá, então o senhor foi até ela e fez o que?
- Eu coloquei a mão no ombro dela, vi que estava fria. Chamei e ela continuou não respondendo, aí que vi que ela estava presa à cadeira e não respirava. No mesmo momento eu liguei para a polícia e fiquei aqui esperando... - lamentou, contendo o choro para ser capaz de falar.
- A TV estava ligada?
- Sim, eu acabei desligando depois que chamei a polícia.
- Hum. O que conversaram mais cedo quando esteve aqui, ela deu sinais de algo suspeito?
- Não, eu trouxe flores... a gente havia reatado fazia um tempo...
- Reatado?
- Sim, ficamos umas semanas separados, uma bobagem; eu a traí uma vez, ela acabou descobrindo, mas não foi nada demais, estávamos bem... - não foi capaz de conter as lágrimas.
Dornelles examinou o homem, que a cada palavra ia perdendo a compostura e estava prestes a se desmanchar em um choro convulsivo. Ou era o melhor ator amador que ele havia encontrado até então ou estava mesmo falando a verdade.
- Ok senhor Angelo. O senhor vai ter que comparecer na delegacia para dar seu depoimento, um policial vai te orientar, mas por hora, não saia da cidade e se tiver qualquer mudança de endereço, não esqueça de comunicar.
Não esperou que o rapaz respondesse e voltou para dentro da residência. Orientou que o lugar deveria permanecer fechado para que a polícia técnica fizesse as análises necessárias e, assim como o café que havia deixado de tomar mais cedo, lamentou que não estivesse em uma série de TV com todos os recursos para identificar digitais e prender o assassino no mesmo dia.
Enquanto não tinha opções, seguiu com seu trabalho. Contando com a ajuda de dois outros policiais, falou com vizinhos, fez um rascunho das pessoas que poderia chamar para depor - não eram muitas a princípio - e esperou a vontade dos policiais da equipe técnica chegarem para vistoriar o local, o que aconteceu logo depois do almoço, quase um novo recorde de rapidez.
Ao fim do dia, se preparava para finalmente ir para casa depois de um dia exaustivamente improdutivo - ninguém tinha pista nenhuma que pudesse levar a algum suspeito, a vítima, a jovem Daniela, era trabalhadora, discreta, educada e não parecia possuir inimigos, nem mesmo o namorado ou a suposta "amante", que sequer morava no mesmo estado.
Antes de colocar-se a caminho de casa passou uma última vez na cena do crime, o cadáver já havia sido retirado, mas procurou saber se os técnicos já tinham alguma novidade.
- E aí Tobias, não achou por acaso a carteira de motorista do assassino esquecida em algum canto? - brincou, tentando quebrar o gelo com Tobias, um policial técnico que já tinha mais de cinquenta anos e adorava se gabar de como o trabalho e seus, segundo ele, charmosos cabelos grisalhos, atraíam as mulheres novinhas na faculdade onde dava aulas.
- Tá fácil né? - brincou, colocando as mãos na cintura - Mas acho que você tá com sorte Dornelles...
- Ah é? Por que, o que encontraram?
Tobias entregou ao investigador uma flor, uma rosa vermelha, provavelmente tirada do buquê, e só então ele notou que era artificial.
- O que tem? - perguntou Dornelles, sem entender a relevância da flor.
- Olha... ainda vamos analisar, então não é oficial, mas posso te garantir... esse flor não foi colorida com tinta. Isso é sangue. - concluiu Tobias, para espanto de Dornelles.
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O Assassino da Rosa de Sangue
Misterio / SuspensoO investigador Augusto Dornelles se depara com o caso mais complicado de sua vida e precisa lutar contra o tempo para tentar encontrar e prender o cruel e metódico assassino serial que tem matado pessoas em São Paulo e deixado uma rosa artificial co...