Capítulo 4 - Sem rumo

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(POV Kakashi)

        Assim que ela me passou seu endereço eu não pude disfarçar a surpresa. Esperei alguns segundos acreditando ter sido uma piada, mas quando sua expressão começou a parecer irritada eu percebi que ela falava sério.

        Já com raiva Sakura virou o rosto para a janela e eu envergonhado mantive o meu voltado para a estrada. O endereço ficava em um dos bairros mais perigosos da cidade, se não o mais, e certamente cometi o tolo erro de julgar pelas aparências, jamais teria dito que ela viria de um lugar como aquele. Mas afinal o que eu sabia sobre Sakura Haruno, não é mesmo?

        O silêncio estava me matando, precisava ouvi-la falar qualquer coisa então pensei em qual assunto poderia ser seguro para não piorar ainda mais a situação.

— Shikamaru e Sasuke vieram me perguntar se havia acontecido algo para que você saísse do grupo deles. — Ok, não era um assunto tão seguro assim.

— É claro. — Respondeu irônica. — É por isso que eu sempre aviso antes que vou fazer o trabalho sozinha, para evitar esse tipo de questionamento. — Podia sentir ela me fuzilando com o olhar, por isso mantive o meu preso no semáforo enquanto esperava. — Você parece estar a ponto de explodir com essa curiosidade. — Aquilo me pegou de surpresa, estava tão evidente assim?

— Me desculpe.

— Não consegue mesmo deixar uma pergunta sem resposta? — Agora ela era a curiosa, e apesar de achar que era uma pergunta retórica Sakura esperava mesmo por uma resposta.

— Não é bem uma pergunta. Na verdade, são uma enorme quantidade delas. — Respondi sincero.

— Porque esse interesse todo? Todos os outros professores simplesmente deixaram quieto quando disse que por motivos pessoais precisava fazer os trabalhos sozinha, mas você vem tentando achar uma forma de me fazer falar desde o começo, até que me deixou encurralada ontem.

         Ela era certeira em sua fala, e dessa vez me senti mal pelo meu comportamento. E sobre sua pergunta, bom, para essa eu realmente não tinha uma resposta plausível.

— Queria poder responder, mas isso também está me deixando louco. Não tenho ideia do porque estou tão interessado nisso, mas é verdade que você me intriga Haruno.

— Não sou apenas um desafio professor. — Ela enfatizou o termo e engoli em seco. — Isso é a minha vida, não tem o direito de se meter.

— Me desculpe. — Repeti e pude ouvi-la suspirar. — Prometo que de agora em diante não irei mais ser invasivo ou desrespeitoso. — Virei o rosto rapidamente para que ela pudesse ver que eu falava sério. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios e me senti aliviado por ela não estar mais brava comigo. Novamente aquele sentimento me deixou inquieto.

— Duvido piamente disso. — Seu tom desafiador deixou o clima mais leve.

— Será difícil, eu admito. — Sorri. — Então sugiro que puxe um assunto diferente se não quiser que eu pergunte mais nada. — Mal terminei de falar e ela bocejou lentamente. — Ou pode dormir, prometo que não vou sequestrá-la.

— Claro, agora fiquei bem mais tranquila.

— Durma Sakura.

        O caminho era longo e demorado, mas tinha certeza que de ônibus o trajeto devia demorar umas três vezes mais. Olhei de relance para ela que ressonava baixinho coberta pelo meu casaco. Um sentimento de impotência tomou conta. Queria fazer mais por ela, precisava na verdade.

— Iori está tudo bem. — Sakura falava dormindo? Ela franziu a testa, mas logo sua expressão suavizou e nada mais falou.

        Estacionei em frente a uma casa pequena, apenas a luz da frente estava acesa. Mais adiante na esquina um grupo de jovens fumava na calçada e davam risadas altas. Cutuquei Sakura de leve mas ela não acordou, o cansaço havia vencido afinal.

— Sakura, chegamos. — Nada. Acariciei sua bochecha num gesto impensado, mas a esse toque ela reagiu. Apoiou o rosto em minha mão e inspirou em meu pulso me deixando arrepiado.

— O que ...?

— Desculpe, eu te chamei e você não acordou. — Assim que minha mão se afastou dela senti falta do calor de sua pele.

— Ah! — Ela ficou envergonhada e abaixou o olhar para que eu não visse seu rosto. — Obrigada pela carona.

— Sem problemas. — Vi ela abrir a porta, mas ainda assim não saiu.

— Eu... bom, não preciso dizer que meu endereço também é um segredo, ou preciso?

— Eu imaginei.

— Ok então. É isso.

— É isso.

        Assim que ela desceu notei que os jovens da esquina pararam de conversar e a observavam à distância, até que um deles gritou.

— Voltou a trabalhar com isso, Haruno? Ou dessa vez arrumou um fixo? — Sakura abriu a boca incrédula, mas correu para dentro da casa antes mesmo que eu pudesse entender o que ele insinuava.

         Minha primeira reação foi descer do carro e ir até os garotos.

— Olha só ela arrumou um riquinho dessa vez. — O garoto que parecia mais velho falou.

— A deixem em paz. — Falei ao me aproximar.

— Eu não sabia que clientes agora eram super protetores. — Outro gargalhou com o próprio comentário.

— Eu estou avisando, deixem a Sakura em paz. — Mantive meu olhar firme.

— Calem a boca idiotas, quer que ele chame a polícia ou algo do tipo? — Um deles sussurrou para o resto do grupo.

        Todos se levantaram e saíram dali, me deixando parado embaixo da garoa sem rumo, sem saber o que fazer ou o que pensar.

Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora