Querido Professor

Capítulo 14 - Discussão

(POV Sasuke)

Eu me sentia atordoado, de certa forma até mesmo enojado com aquela situação. Quando Kakashi e Sakura saíram não levaram consigo aquele clima pesado do escritório, e me afundei um pouco mais na cadeira torcendo para desaparecer naquele emaranhado de problemas que haviam surgido da noite para o dia.

— Você está bem? — A impaciência na voz de Itachi era audível, no entanto não me deixei levar.

— Não adianta estar com pressa, você não vai sair deste escritório sem antes me explicar direito essa história. — Falei com raiva e isso só o fez bufar de irritação.

— Não sei o que mais você quer saber, já resumi a história inteira.

— Tem uma coisa que não consigo entender nessa história toda. — Dessa vez ele se virou para me encarar, a testa franzida mostrava que apesar de tudo ainda se preocupava com a minha opinião. Ótimo. — Em nenhum dia dentro desses quase seis anos você se deu o trabalho de conhecer seu filho? — Percebi que minha pergunta o pegou de surpresa.

— Porque eu faria isso? — O fato dele achar aquilo normal deixou a situação ainda pior. Quem afinal era Itachi Uchiha?

— Talvez porque ele seja teu filho! — Exclamei irritado.

— Ele tem o meu sangue, isso não quer dizer que eu o considere. Imagina o escândalo que seria para o escritório se vazasse a informação que tive um filho com uma garota de programa.

— Devia ter pensado nisso antes de contratar uma! E Izumi? Não acha que ela merece a verdade?

— A verdade só ia magoá-la, não vejo qual benefício isso ia gerar.

— Você é desprezível. — Cuspi aquelas palavras com escárnio. — Não acredito que Shisui está do seu lado nessa história. — Ele riu, como se eu fosse um garotinho ingênuo.

— Abra os olhos Sasuke, Shisui é a mente por trás de todo o acordo que fiz com a Sakura. Você parece acreditar num mundo de conto de fadas, onde as pessoas são moralmente corretas. Acorda Sasuke, se quiser ser alguém na vida você precisa passar por cima de situações como essa.

— E pensar que eu admirava vocês dois cegamente.

— Não vai me dizer que está do lado da Haruno?! — Ele perguntou descrente.

— Eu não sei se estou de algum lado, mas eu tenho meus valores Itachi e seu comportamento vai contra tudo aquilo que mamãe e papai nos ensinaram. — Dessa vez a prepotência e arrogância de Itachi vacilaram. Mencionar os pais era sempre como armar uma bomba na conversa e dessa vez não foi diferente.

— Não coloque nossos pais no meio da conversa. — Ele sibilou nitidamente furioso.

— Não colocar? Você acha que a mamãe ficaria orgulhosa com vocês dois? Madara sabia que ela acolheria Iori e Sakura e por isso tomou a frente. Você me dá nojo Itachi, e mesmo não sabendo como vou lidar com isso, eu tenho certeza que farei melhor do que o Shisui. Por isso quero que me entregue toda a documentação no que diz respeito ao Iori.

— Você gosta dela. Gosta da Sakura. — Ela estreitou os olhos na minha direção antes de gargalhar maldosamente. — Você e o Kakashi são iguaizinhos. Metidos a corretos que adoram uma boa causa perdida. Olha devo admitir que a Sakura está se saindo melhor do que eu esperava, mas não tenho dúvidas que Iori vai se sentir envergonhado quando souber que a mãe é uma garota de programa.

— Limpe sua boca para falar dela. — Era difícil de acreditar naquela história toda, mas depois de cinco anos estudando com a Haruno eu tinha certeza que ela era a pessoa mais esforçada e dedicada que eu conhecia.

— E eu que achei que você ficaria do meu lado. — A falsa mágoa em sua voz notável. — Não acredito que estou cogitando conhecer o moleque. — Aquela última frase me pegou de surpresa.

— Por que?

— Como eu disse antes, preciso estar no controle da situação. E cada vez mais pessoas estão envolvidas nisso, as chances de isso vir a público só aumenta. — Era óbvio que o motivo não seria algo sentimental.

— Pense bem, porque a ameaça da Sakura me pareceu veridica. — No fundo um sentimento ruim começava a se espalhar, e aquilo me assustou. Apesar de ser contra todas as atitudes do Itachi, o fato dele querer se aproximar do filho, e consequentemente da mãe, me deixaram com um amargor que facilmente reconheci como ciúmes.

— E o que uma garota como ela pode fazer contra mim? — Sua superioridade cega era até engraçada.

— Ela pode acabar com a sua vida, seu merda! — Sorri satisfeito quando vi seu sorriso desaparecer. — E saiba que eu adoraria assistir isso de perto.

— Por que está com tanta raiva de mim? Essa história não tinha nada a ver com você até hoje.

— Porque me sinto traído por vocês dois. Realmente achei que eram exemplos de pessoas e no final são os piores tipos. Independente se fosse com outra garota que não a Sakura, você tem agido como um covarde do pior tipo, aquele que foge por conveniência e não por medo. E o que mais me deixa triste nessa história é que Izumi e sua filha que está para nascer é que vão pagar o preço da sua covardia.

— Izumi vai me apoiar quando eu explicar meu lado para ela. — Já não havia tanta certeza em sua voz.

— Explicar o inexplicável? Boa sorte, mas preciso te lembrar que nenhuma mulher ama cegamente e infinitamente como você supõe. Isso vai magoá-la da pior forma possível, porque vai ferir o orgulho dela e tudo isso enquanto ela carrega a sua filha no ventre. Você realmente superestima o amor que ela sente por você, mas não percebe que agora o amor dela é muito maior com a bebê.

— O que você entende de amor?! — Ele gritou exasperado. — Não passa de um moleque mimado, tem muito o que aprender com a vida, Sasuke.

— Com certeza tenho, e aprendi uma coisa importante hoje com toda essa história. — Ele virou-se de costas. — A não ser como você, Itachi.

Saí daquele escritório batendo a porta, queria gritar, queria correr. Não sei, apenas queria extravasar tudo aquilo que me atormentava a mente. Todavia eu precisava manter a mente clara para lidar com o que estava por vir.