Capítulo 10 - Ligação

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(POV Sakura)

Como acordei atrasada nessa sexta-feira, saí de casa com pressa sem nem parar para comer algo. Por pouco não perco meu ônibus, talvez se tivesse perdido e esperado o seguinte até teria conseguido um lugar para sentar o que não foi o caso daquele ali. Me espremi no corredor procurando um apoio para segurar e só não cochilei porque estava de pé. Essa história de ficar até de madrugada fazendo projeto estava acabando comigo, isso era óbvio.

Quando desci no meu ponto de sempre senti uma vertigem e me apoiei em um poste, talvez o sono mais problemático do que eu pensava. Respirei fundo e segui até uma padaria ali perto, tinha certeza que se explicasse para Rin o que estava acontecendo ela não se importaria, eu realmente precisava de um café e algo para comer ou não iria parar em pé.

Ao me sentar rente ao balcão fiz o pedido e enquanto esperava olhei para a televisão, um rosto muito familiar estampava a tela, seguida por imagens de um acidente automobilístico. Demorei alguns segundos para entender do que se tratava a notícia e quando percebi só consegui cancelar o pedido e correr cambaleante para o escritório.

— Sakura? — A voz de Genma soava distante. Me sentei no sofá da recepção, um zumbido intermitente somada a visão turva me deixou tonta. Abaixei a cabeça entre os joelhos e esperei até que me recuperasse.

— Querida, o que aconteceu? — Rin afagou minhas costas.

— Eu não sei... uma indisposição. — Levantei a cabeça lentamente e aceitei o copo de água que Genma estendia em minha direção. — Obrigada.

— Quer que eu ligue para alguém? — Genma perguntou, e naquele momento eu percebi que não tinha para quem ligar. Minha mãe estava com Iori, e tirando ela a única pessoa que eu poderia contar era Madara. Que agora estava morto.

— Não. — Respondi simplesmente. — Só preciso comer alguma coisa e já vou melhorar. — Dei meu melhor sorriso, mas nessa hora meu celular tocou e o nome na tela fez meus joelhos vacilarem, voltei a me sentar no sofá. Me virei para Rin e Genma. — Será que eu poderia ficar sozinha para atender? — Ambos se entreolharam receosos, mas concordaram me deixando sozinha na recepção.

— "Sakura, como está?"— A voz de Itachi me fez arrepiar da cabeça aos pés.

— O que precisa Uchiha? — Tentei manter minha voz o mais consistente possível, o que eu menos precisava agora era parecer fraca.

— "Direta como sempre." — Aguardei em silêncio ele continuar. — "Imagino que já deva saber sobre a morte do meu tio. Existe televisão naquele fim de mundo onde você mora não é mesmo?" — O deboche em sua fala fez meu sangue ferver, mas eu sabia que revidar a ofensa era tudo o que ele esperava então me mantive em silêncio. — "Bom, indo ao que interessa, quero que saiba que respeitei a forma como meu tio lidava com toda a situação, mas que agora acredito que seja necessária uma nova abordagem..."

— A situação a que você se refere tem nome e sobrenome. Iori Haruno é seu filho, e se você não me dá o devido respeito, sugiro que respeite pelo menos ele. — Falei entredentes. Uma coisa era escutar ofensas dirigidas a mim, outra era menosprezar meu filho.

— "Tinha esquecido que você era esquentadinha, mas como queira. Eu gostaria de conhecê-lo."

Sinto que o mundo parou ao meu redor para que eu absorvesse o teor de suas palavras. Em nenhum momento nos cinco anos e meio de vida de Iori eu imaginei que esse pedido chegaria. Um alerta vermelho de proteção tomou todo meu ser e foi cautelosa que segui com a conversa.

— Imagino que tenha algum motivo para isso. — Itachi não faria aquilo se quisesse apenas manter o convívio com o filho. Infelizmente conhecia o Uchiha e sabia que se tratava da pior espécie de ser humano, e tê-lo longe de Iori era até mesmo um alívio.

— "Claro que tenho, mas sobre isso imagino que seja melhor uma conversa pessoal. Sabe como odeio tratar de assuntos dessa magnitude por telefone."

— Claro, porque o Iori realmente tem alguma significância para você. — Não contive a ironia. — A menos é claro, que seu segredo esteja ameaçado. — Pelo silêncio que se seguiu tive certeza que estava certa. — De qualquer forma, concordo que esse não é assunto para uma conversa por telefone. No entanto, posso pressupor que você estará acompanhado de Shisui, então é no mínimo esperado que eu vá acompanhada também.

— "Estou sem dúvidas impressionado, mas se prefere assim então que seja." — Sua voz ácida vacilou com a surpresa e me senti vitoriosa. — "Se puder vir hoje a noite no meu escritório ficarei agradecido, com o falecimento do meu tio a universidade decretou luto por três dias então imagino que tenha a noite livre, a não ser que prefira trabalhar."

— Estarei lá. — Respondi firme, ignorando a insinuação.

Ao desligar me deparei com o vazio. Não havia ninguém que eu pudesse contar numa situação dessas. Talvez pedisse a Rin e Genma, eles certamente iriam, mas não parecia adequado. Além dos dois, uma outra pessoa surgiu em minha mente, e apesar de rejeitar essa ideia ardentemente, eu sabia que poderia contar com ele.

Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora