Veintiocho

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Me levantei, lavei o rosto e escovei os dentes na força do ódio. Por que ele havia mentido?! Vesti a primeira roupa que vi, peguei minha bolsa e a chave do carro, segui rumo ao seu apartamento. Eu não tinha memória boa para decorar caminhos, mas de alguma forma lembrava perfeitamente o caminho para a sua casa. A essa hora as ruas estavam vazias, em poucos minutos já estava na porta do seu condomínio.


PORTEIRO: - Mas senhora, ninguém atende. Não seria melhor a senhora voltar mais tarde para então interfonarmos de novo? – Argumentava constrangido.

DUL: - Não. O senhor pode interfonar de novo e de novo e de novo, até que ele atenda. – disse impaciente.

PORTEIRO: - Mas é madrugada, o Sr. Uckermann deve estar dormindo.

DUL: - Então ele vai ter que acordar.  

Percebi que ele estava relutante, pois tinha medo que isso causasse algum problema para seu emprego. 

DUL: - O Senhor por ficar tranquilo, é por minha responsabilidade. Somos amigos e é um assunto urgente.

Ele ficou um pouco mais tranquilo e interfonou mais duas vezes, até que alguém atendesse. Provavelmente Christopher havia perguntado ao porteiro quem era, para saber se liberava ou não o acesso, pois quando o porteiro disse "É a Senhora Dulca María. Disse que é urgente!", ele levou longos segundos para liberar a minha entrada.


Dirigi até o bloco onde ele morava e deixei o carro no estacionamento do mesmo. Peguei o elevador e em questão de segundos estava parada em frente à sua porta. Respirei fundo tentando controlar o que estava sentindo. Impossível. Toquei a campainha e ele logo abriu a porta.

Estava super sério. O rosto ainda amassado, provavelmente estava mesmo dormindo. Ele vestia uma calça de moletom e uma blusa do Pink Floyd.

- Você mentiu! – joguei sem perder tempo.

- Do que está falando, Dulce? – perguntou seco, dando passagem para que eu entrasse em sua casa.

- Estou falando que você é um mentiroso! – alterei um pouco a voz – Mentiu quando perguntei se havíamos ficado.

Percebi que ele respirou fundo e fechou a porta com impaciência, depois que entrei.

- Fala logo o que você quer!

- NÃO TÁ ÓBVIO? – forcei uma risada – QUERO QUE ME FALE O PORQUE MENTIU E QUERO QUE ME CONTE EXATAMENTE O QUE ACONTECEU ONTEM. 

Christopher parecia nervoso, passava a mão em seu rosto e cabelo. Andou de um lado para outro até que parou na minha frente.

- ESTOU CANSADO DISSO, DULCE! QUER MESMO SABER A VERDADE?

- Quero! – Tremi por dentro com o que poderia vir.

- Eu não menti quando você perguntou se havíamos dormido juntos. Mas você está certa, eu menti quando disse que não havíamos tido nada. – Respirou fundo – Anahí havia ido dormir e você voltou aqui pra sala para terminar o seu vinho. Depois quis que eu abrisse outra garrafa...

As cenas vinham em minha memória à medida que ele contava.

- Eu bebi pouco, mas o suficiente para perder o raciocínio por um momento e te beijar. Por um segundo deixei de pensar e meu corpo me controlou... – fez uma pausa como se lembrasse da cena.

- E o que aconteceu depois, Christopher? – Impaciente.

- Eu disse que te queria, e você disse que também me queria..., mas por diversão. – falou de forma amarga, virando as costas e andando até a cozinha.

O acompanhei com meus olhos. Estava paralisada de pé na sala, recobrando de forma gradativa a memória.

- Nesse momento recobrei a consciência. Você estava muito bêbada. Fui errado em deixar que aquilo acontecesse, mas parei antes que tomasse um rumo pior. – Serviu um pouco de água em um copo e tomou um gole – Pode ficar com a consciência tranquila que não aconteceu nada além.

Havia me lembrado de tudo: De tudo isso que ele havia contado e também do sentimento de rejeição e humilhação que havia tomado conta de mim, e agora voltava. Estava confusa. Com raiva por ele ter novamente brincado comigo e grata por ter me respeitado naquele estado.

- Agora me lembrei. – Sorri amarga – Quando você consegue o que quer, você pula fora. A cena repete, quase como em 2008.

- COMO VOCÊ É DIFICIL, DULCE! – coçou o rosto nervoso – Quando enfia algo na cabeça só enxerga o que quer!

- Difícil, por que? Vai dizer que em Madri depois que você conseguiu o que queria não desapareceu do quarto? – forcei uma risada irônica – Nós transamos e você sumiu, Christopher! E sabe o que foi o pior? Você me falar um monte de mentiras para me levar pra cama. Como eu te disse, bastava ter sido sincero ao dizer que só queria diversão. Você foi baixo falando tudo aquilo, me fazendo sentir coisas por você, que eu nunca havia imaginado sentir.

Respirei fundo tentando me controlar para não voltar a exaltar a voz. Um filme passava em minha cabeça e eu vomitava o que estava guardado por muito tempo.

- Ou será que não foi isso agora também? Quando viu que mais uma vez havia conseguido o que queria, que era me levar pra cama, pulou fora?! Dessa vez só teve a decência de não prosseguir, já que eu estava bêbada demais. Tudo pra você não passa de um desafio! – eu estava cega pela raiva.

- DROGA, DULCE! – bateu a mão sobre o balcão da cozinha e colocou o copo com força sobre o mesmo – VOCÊ É TÃO INTELIGENTE E AO MESMO TEMPO NÃO CONSEGUE ENXERGAR UM PALMO NA FRENTE DO NARIZ! – Apertou as têmporas com os dedos, respirou fundo buscando se acalmar e prosseguiu:

- Vou repetir mais uma vez, quem sabe assim você acredita: EU-NÃO-MENTI-EM-NADA-DO-QUE-FALEI-EM-MADRI! – falou pausadamente, mas mantendo o tom seco – E fui errado em te deixar sozinha depois de termos passado a noite juntos. Mas eu apavorei, tá bom?! – Respirou fundo – A muito tempo eu havia fechado o meu coração, estava bem e feliz com a minha vida de solteiro pegador. Mas de alguma forma me envolvi com você, sem você nem fazer ideia.

Meu coração estava ainda mais acelerado. Não conseguia falar nada, não conseguia pensar em nada, apenas ouvia tudo o que ele estava falando em uma tentativa de entender o que estava acontecendo.

- Eu dei uma pirada, Dulce. Quando acordei e te vi dormindo tão linda ao meu lado... - suspirou - Eu havia acabado de falar que fazia um tempo que te desejava, que queria te ter em meus braços e apesar de você ter correspondido meus beijos e minhas carícias, em nenhum momento você correspondeu minhas palavras. Eu não queria me enganar achando que aquilo teria o mesmo significado pra você. Então fui embora, por não ter coragem de ficar para descobrir o que passava pela sua cabeça.

- Eu não fazia ideia... – iniciei incerta – Nunca havia percebido que você sentia algo por mim... Não retribui as palavras, pois realmente não estava certa quanto a elas. Até aquele momento não havia me permitido descobrir qualquer outro sentimento por você. Eles só vieram à tona depois de tudo o que passamos juntos naquela noite...



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Veio aí!!!

Será que vão se resolver?

E aiiiii, o que vocês estão achando?


Não vou conseguir publicar nenhum capítulo amanhã (sábado) e talvez domingo também não. Para compensar estou postando esses dois. 


Aliás, querem que poste mais um hoje ainda?


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obrigada por todo o apoio, vocês são o máximo! 💖

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