Capítulo 12

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Ane se sentia tonta e precisou se apoiar em uma parede para não cair, enquanto o mundo parecia girar ao seu redor. Tentava entender tudo que havia acontecido e sentia o corpo todo tremer. Sua visão estava embaçada, e foi obrigada a fechar os olhos por alguns instantes, encostando as costas na parede e deixando o corpo cair no chão, até que não pode mais conter o choro.

O horizonte tomava tons avermelhados e o sol começava a se por. Lá embaixo os cardeais cumprimentavam o novo líder da igreja, enquanto o povo celebrava. O sino tocava de minuto em minuto anunciando as boas novas e Ane esfregava as pálpebras tentando se acalmar e limpar as lágrimas.

- Você está triste?

Ane se assustou,  levantando os olhos ao ouvir aquela voz doce e inocente e encontrando um garotinho de uns oito anos de idade. Ela sorriu de forma triste.

- Você não entenderia - ela suspirou e encostou a cabeça na parede, olhando para cima.

- Toma - Ela olhou para ele, que estendia a mão em sua direção, oferecendo um doce - Eu sempre como doces quando estou triste. Minha mãe diz que é errado e não devo comer doces, então eu os escondo na roupa.

Ane sorriu, mas dessa vez era um sorriso mais genuíno. Pensou no que o garotinho acharia dela se soubesse o monstro que era e o que viera fazer, mas aceitou o doce e deu uma mordida, se surpreendendo com o quanto era bom - Bem, acho que você é muito sábio.

- Não fale de boca cheia, é falta de educação.

Dessa vez ele arrancou um risada sincera dela e se sentou no beiral de uma casa, de forma que ficaram frente a frente. Seus pés não alcançavam o chão e suas pequenas pernas ficaram penduradas no ar, fazendo com que voltasse a memórias de um passado que agora parecia muito distante. Ficaram ali por um tempo, comendo doces sem dizer nada, enquanto ela se perguntava qual havia sido a última vez que comera um doce, ou simplesmente conversou com alguém sem compromisso algum com isso, mas teve seus pensamentos interrompidos por ele.

- Você está machucada?

Ane levou a mão ao nariz para onde ele apontava e ao olhar seus dedos viu sangue, dando um pequeno sorriso e lambendo o próprio dedo de forma discreta.

- Eu estou sangrando? disse em voz baixa pra si mesma - Você é realmente poderosa Rowena. Se tivesse usado aquele poder para me atacar ao invés de invocá-lo, é provável que tivesse me matado - ela mordeu o lábio inferior, pensando se deveria continuar e olhou pro garotinho - Ei, você sabe alguma forma de sair da cidade sem ser pelos portões?

Ele olhou pra ela com um ar arteiro e balançou a cabeça fazendo que sim. Ane se ajoelhou e se aproximou dele, olhando em seus olhos.

- Obrigado pelos doces, você tem razão, são um ótimo remédio para a tristeza e já me sinto muito melhor. Pode me fazer um favor? Pode ir lá fora e contar quantos barcos estão ancorados e depois vir aqui me contar? Mas não pode mentir hein, tem que contar todos eles de verdade.

O garotinho se levantou alegre e cheio de energia.

- Eu sou o melhor contador de barcos do mundo. Me espere aqui está bem?

Ane assentiu enquanto ele ia correndo em direção a alguma passagem que conhecia. Ela se recostou novamente na parede, olhou pro horizonte e se levantou.

- Salva por um menino de oito anos. Você é patética Ane - suspirou fundo e tocou o cabo de Ebony e Ivory para se certificar que estavam lá - pelo menos ele não vai estar aqui quando acontecer.

Depois, levou os dedos ao nariz novamente, mas o sangramento havia parado. Olhou para o próprio corpo, mas as roupas estavam intactas e não haviam indícios de outros ferimentos.

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora