O padre se sentia tonto e abriu os olhos assustado. Sua cabeça latejava e doía, e levou alguns segundos para sua visão se acostumar com a luz. Poucos metros a sua frente Altair e Ane estavam sentados e conversavam tranquilamente enquanto faziam uma refeição. Olhou em volta procurando algo que pudesse usar como arma mas não havia nada. Encontrou seu cajado, mas ele estava encostado em uma árvore atrás deles e para chegar nele, teria que passar por Altair e sabia que seria impossível. Podia ouvir um riacho próximo e pensou que se chegasse lá poderia tentar desaparecer em meio a água, voltando quando conseguisse pensar em um plano melhor. Pensou em todas as possibilidades ate que tentou se mover e percebeu que estava fortemente amarrado.
- Não se dê ao trabalho padre, você sabe que não é possível sair de um nó feito por um assassino. - Altair não olhou pra ele. Mordeu um último pedaço de carne e se levantou, batendo as mãos na calça para se limpar de migalhas de pão caídas sobre ela.
- Altair, não seja rude - Ane olhava com ar de menina e se sentia feliz, embora sentisse que não devia - Tome, ele deve estar com fome - deu a ele uma tigela com alguns frutos e incluiu carne e o cantil de agua.
- Não se preocupe, serei o mais gentil dos homens - Altair fez uma reverencia exagerada, tomou a tigela nas mão e se virou para o padre sorrindo de forma maliciosa - eu e o Padre temos uma linda história de amizade não é Padre?
O padre estava furioso, e se mexeu várias vezes tentando se livrar das cordas, mas no fundo sabia que Altair estava certo.
- E então padre o que vai ser? Frutas? Carnes? Pães? Havia uma vastidão infinita de recursos nas casas onde seus amigos mantiveram ela presa nos últimos dez anos. Temos ótimos vinhos também caso sejam de sua preferência - Altair falava enquanto se aproximava do padre e beliscava vez ou outra alguma coisa da tigela - E então, qual sua escolha?
O padre estava faminto e o cheiro atiçava ainda mais seu apetite. Havia dias que não comia, principalmente se tratando de uma refeição decente, mas jamais partilharia uma refeição com alguém que abominava tanto, por isso se manteve em silêncio, mantendo, como podia, o olhar firme e a postura frente ao homem que havia falhado em matar.
- Eu te disse que ele não iria facilitar não disse? - Ele falava com Ane que estava atrás observando curiosa aquele embate - Deixe eu facilitar pra você padre. Eu iria mata-lo ontem a noite, mas não gostaria de fazer na frente dela que já viu horror demais pra uma vida. Infelizmente pra mim, eu não conseguiria fazer longe dela pois teria que deixa-la sozinha pra isso e poderia colocar sua vida em risco. Então eis-me aqui - fez uma longa e exagerada reverencia, mas dessa vez imitando uma dama, como se estivesse de vestido - com um grande dilema em mãos. Eu e ela tivemos uma longa conversa essa manhã e tive que convencê-la que te matar é a melhor opção, até que ela finalmente concordou comigo.
- Altair... - Ane estava se divertindo com o sarcasmo dele - não foi isso que eu disse.
- Ok. Talvez ela tenha dito que eu deveria conversar seriamente com você e que mais mortes não seriam necessárias, mas eu gosto mais da minha versão da história. O ponto é que ontem a noite você disse algo que despertou minha curiosidade. Qual foi mesmo a palavra? - Altair colocou a mão no queixo como quem está pensando, mas na verdade estava apenas fazendo tudo o que podia para arrancar risadas de Ane - Ah sim, eu não vou deixar que você a mate - ele disse isso da forma mais sarcástica e exagerada que conseguiu, tentando imitar os jeitos e o tom de voz do Padre - o que nos trás a um dilema. Se eu não estou aqui pra mata-la, como você mesmo pode ver, e se você também não está, o que eu ainda não acredito totalmente, acho que é hora da gente conversar - Altair finalmente estava falando sério e seu semblante e tom de voz mudou.
- Você é ardiloso Altair, e tem a fala mansa e sedutora de um assassino, mas não há nada que possa dizer que vá me convencer de que lutamos do mesmo lado.
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As Crônicas de Luz e Sombra - Ane
FantasíaAs Crônicas de Luz e Sombra narram a jornada de Ane em meio a uma guerra entre Vampiros, Lobos, Bruxas e a Igreja. Mas o que fazer quando foi você quem começou a guerra? Desperta sem lembranças de quem é, o que fez ou o porque, Ane será movida pelo...