Capítulo 38

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Elas entraram no corredor tão rápido que os homens da guarda levaram alguns segundos até entender que estavam sob ataque e erguerem seus escudos e armas. Ane e Cassandra corriam pelo corredor como se não tivessem nada a perder, enquanto um guarda aos fundos soava uma trombeta de guerra para alertar os outros sobre as invasoras. 

No estreito corredor da torre, sob o som da tempestade que açoitava com violência as paredes da Fortaleza de Pedra, o choque de aço contra aço ecoava como trovões. Ane e Cassandra enfrentavam sozinhas uma formação esmagadora de quase trinta soldados da igreja numa dança mortal testemunhada apenas pelas frias paredes de pedra e pelas chamas trêmulas de velas derretendo.

Ane brandia Ebony e Ivory numa velocidade e habilidade impressionantes. Seus golpes eram precisos e ela se desviavam como podia dos golpes que vinham de várias direções. Cassandra se movia de um lado para outro, retalhando como podia os guardas pelos espaços que encontrava entre escudos e cotas de malha.

O corredor estreito impedia que os guardas as flanqueasse e limitava seus movimentos, já que portavam armaduras e escudos grandes, o que os tornava alvos fáceis e vulneráveis aos ataques rápidos e coordenados delas. Os golpes das lâminas encontravam aquilo que procurava, e os gritos de batalha ecoavam pela passagem enquanto os corpos caíam um após o outro. Eles tentaram formar uma barreira de escudos, mas Ane e Cassandra eram implacáveis como a tempestade lá fora, rompendo as fileiras inimigas com uma determinação sem fim. 

Cada passo, cada movimento, era uma coreografia mortal no palco estreito do corredor. A força e agilidade das duas desafiava todas as probabilidades que eles conheciam, enquanto os guardas, agora hesitantes e aflitos, lutavam para conter a tempestade que enfrentavam. Eles conheciam a história, leram incansávelmente sobre o dia em que Ane rompeu as fileiras da igreja e levou destruição a Fortaleza de Pedra, mas eles não a enfrentaram, e sobretudo não faziam idéia de quem era a outra mulher que lutava ao lado dela.

Um a um ele caíram, e no fim apenas as duas estava de pé.

- Está ferida - Cassandra estava ofegante a apontava para um sangramento no abdômen de Ane.

- Você também - Ane apontou vários cortes e perfurações no corpo de Cassandra.

Agora que o calor da batalha havia chego ao fim, ambas começavam a notar o preço de uma luta tão visceral.  Estavam banhadas em sangue, delas e dos guardas que haviam matado. Ane se aproximou lentamente da porta pensando no que a filha pensaria ao vê-la daquela maneira. Teve medo, estava ansiosa e não sabia nem mesmo se Melanie a reconheceria. Ficou parada com a mão na maçaneta, mas antes que pudesse entrar teve sua atenção desviada para passos pesados nas escadas. Ao olhar uma nova formação de guardas entrava no local e fazia uma parede de escudos.

- Eles não vão nos deixar sair daqui com vida não é? - Cassandra passava por cima dos corpos que haviam matado a pouco e falava sem olhar para Ane. 

Ane removeu a mão da maçaneta e retirava Ebony e Ivory dos cintos novamente e ao olhar para frente encontrou o sorriso sincero de Cassandra.

- Não vamos sair daqui garota, então essa é sua única chance de ver sua filha - Ela apontou para a porta e voltou a encarar os guardar - vou segurá-los pelo tempo que eu conseguir, agora vá encontrá-la.

- Cassandra não posso permitir que faça isso - Ane se aproximou dela se colocando em posição de combate.

- Eu não estou pedindo permissão Ane - ela se transformou lentamente em lobo e olhou para ela novamente - vá e dê um último abraço na sua filha ou irá morrer com esse arrependimento.

Uma lágrima correu pelo rosto de Ane e ela exitou por um momento. O som de um trovão ecoou pelo pequeno corredor quando os escudos se chocaram fechando o caminho e passaram a avançar contra elas.

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora