Após a morte dos soldados Ane sabia que era questão de tempo até que mais barcos viessem a ilha, e nas semanas seguintes ela vigiou o mar incansávelmente. A cada leva que barcos que se aproximavam Hanzo levava a menina para dentro da casa e Ane os aguardava na praia. Três semanas depois, quando um barco veio da vila, Ane explicou o que havia ocorrido e os moradores de lá ajudaram a espalhar o boato de que um demônio habitava a ilha e de que hanzo estava morto, até que os barcos pararam de vir.
Os dias na ilha eram monótonos e sempre iguais. Ane limpava o pátio, cortava lenha e alimentava vacas e galinhas que Hanzo criava ao sul do templo. Nas horas vagas, se divertia correndo pra cima e pra baixo com a menina, e acabou por conhecer cada canto da ilha, que agora ela sabia se tratar de um arquipelogo gigante no meio do mar. Hanzo jamais permitiu que entrasse nos templos e se negou a forjar a arma que queria, mas ela ganhou a confiança dele e por fim um quarto na casa.
A noite, acostumada a não dormir, passou a treinar em um jardim que descobriu no meio de das montanhas. Era um lugar escondido, que mais parecia um buraco gigante feito na rocha, onde nasceram cerejeiras em todos os cantos, dando um aspecto todo rosado ao lugar. O chão estava sempre coberto de folhas e ela considerava um dos lugares mais bonitos que já tinha visto na vida, sendo seu lugar favorito na ilha. Passava horas lá todas as noites girando a espada em todas as direções, estocando, cortando e golpeando. Treinava até se sentir cansadao suficiente e conseguir dormir.
Certa noite, enquanto treinava, Hanzo a procurou no jardim de cerejeiras. A lua estava cheia e iluminava a noite como o sol. Um vento fresco vinha do mar e podia-se ouvir de longe a vida selvagem da ilha se movimentando noite adentro.
- Porque ficou?
Ane estava treinando, mas o sentiu chegar muito antes.
- Do que está falando vovô? - ela fez um giro no ar e simulou um movimento onde aparava um ataque e estocava em seguida.
- Porque ficou na ilha? Todos os meses o barco vem verificar como estão as coisas e os soldados do imperador não voltaram mais graças ao que você e os moradores da vila fizeram. Você já poderia ter partido. Porque ficou?
Ane fez outro movimento em que golpeava em váridas direções com velocidade e força suficientes para partir um homem grande ao meio - Eu já te disse, vim de muito longe para encontra-lo e não vou embora sem me dar o que vim buscar.
- Porque precisa de uma arma feita por mim? Já tem suas espadas - ele caminhava em volta dela, com as mãos nas costas.
- Já estive em muitas guerras e lutei contra muitos guerreiros vovô- ela dizia enquanto golpeava o ar de um lado para o outro - venci algumas, perdi outras, mas em todas elas eu sempre tive a mesma sensação. A espada me deixa lenta - disse ofegante enquanto fazia um corte de cima para baixo, fazendo as folhas do chão se movimentarem.
- E acha que uma espada feita por mim a deixaria mais rápida? Isso não faz nenhum sentido. Faz mesmo alguma ideia do que veio procurar aqui? - Ele se sentou em uma pedra e ficou observando ela se movimentar.
- Eu disse que precisava que me fizesse uma arma, nunca falei sobre uma espada - ela parou de se movimentar para olha-lo - Eu conheci muitos ferreiros ao longo da vida, estive em muitos lugares diferentes, com civilizações e costumes diferentes. Todos eles me disseram que era impossível fazer uma arma como eu queria, algo que me permitisse lutar com os punhos e que servisse para atacar e me defender sem ter que pensar muito. Há alguns anos encontrei um homem que vestia um longo kimono e um chapéu gigante na cabeça. Fisicamente eu poderia vencê-lo facilmente é claro, mas lutamos apenas por diversão para testar nossas habilidades e eu perdi. Foi ele quem me disse que se existia alguém que podia entender o que eu queria, esse alguém era você. O problema é que ele não me disse onde encontra-lo e você era um fantasma, uma lenda, e não importava aonde eu ia ou as perguntas que eu fizesse, suas armas eram conhecidas, mas pra todos, você era só um mito.
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As Crônicas de Luz e Sombra - Ane
FantasyAs Crônicas de Luz e Sombra narram a jornada de Ane em meio a uma guerra entre Vampiros, Lobos, Bruxas e a Igreja. Mas o que fazer quando foi você quem começou a guerra? Desperta sem lembranças de quem é, o que fez ou o porque, Ane será movida pelo...