Capítulo 33

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Ane levou um tempo até conseguir se acalmar e parar de tremer pelo medo e pela dor. Ela não sabia como lidar com esses sentimentos, e foi atingida por todos eles de uma única vez, então Rowena a deixou lá prostada no chão enquanto caminhava pelo domínio e o enfeitava com deocrações que criava sem motivos. Depois de um tempo voltou a se sentar próxima a Ane que estava sentada no chão completamente disolada. Rowena ficou em silêncio por um tempo e a hostilidade que Ane sentiu antes havia desaparecido completamente.

- Me desculpe por fazê-la sentir tudo isso, mas eu precisava que você vislumbrasse apenas uma fração da dor que me causou, e que eu poderia causar a você se quisesse. Você realmente a ama não é?

- É a única coisa no mundo que eu amo Rowena. Eu a amo com todo o meu coração.

- Então me diga a verdade Ane, e eu te prometo por minha vida que não farei mal a ela e que vou protege-la até meu último suspiro.

- Há muita coisa pra explicar Rowena, vai levar tempo.

- Estamos no meu domínio Ane, e como sabe o tempo lá fora nao passará nem um único segundo enquanto estivermos aqui. Também posso suprir qualquer necessidade que tenha pelo tempo em que estiver sob os meus cuidados, então, se estiver pronta, vamos começar pelo princípio, sua imortalidade.

- Essa é a resposta mais curta e fácil de todas. Eu não sei como ela funciona ou porque eu a tenho se é o que quer saber. Eu ainda era criança quando percebi que nada podia me machucar, então eu simplesmente nasci com isso, eu acho.

- Seus pais?

- Não tenho lembrança alguma deles. Na verdade eu só tenho lembranças de uns dez anos pra frente, então sejá lá o que aconteceu antes disso, eu não saberia te dizer. Eu estava sozinha quando dei por mim e cresci sozinha desde então.

Rowena pensou por um tempo enquanto construía alguns arcos de flores em volta delas. Ela fez um banco para que Ane se sentasse e ofereceu uma mesa com vinho e carnes para que comessem enquanto conversavam.

- Como você faz isso - Ane falava baixo e ainda estava visivelmente abatida.

- É só magia Ane. Eu não sei  te explicar como faço isso, é como uma energia que flui através de mim e tudo aquilo que eu quero eu consigo criar - Ane cortou uma fatia de carne e se serviu, enquanto alguns pássaros voavam até elas. Ane tentava acariciá-los sem sucesso e Rowena pediu que ela estendesse a mão, passando sua mão por cima da dela, onde uma centena de pequenos graus surgiu no lugar, atraindo os pássaros. Ane sorriu e Rowena prosseguiu com suas perguntas - qual sua relação com o emissário da morte?

Ane olhou para ela sem entender e Rowena esticou a mão até que o livro viesse até ela, abrindo ele na última página - Quando evocamos o portão da morte o emissário é enviado através dele ao preço de uma vida pela outra. Não existe exceção Ane. O emissário saiu e foi até você para te levar e simplesmente te soltou, e claramente aquela não foi a primeira vez que você o viu - Rowena fechou o livro e o mandou pra longe - como alguém encontra o emissário da morte duas vezes e continua viva?

Ane pensou por um tempo em como responderia, mas decidiu que não iria mentir. Ela bebeu um pouco de vinho e se encostou no banco pensativa. Passou um tempo olhando os pássaros cantando e voltou a olhar para Rowena, que aguardava pacientemente enquanto beliscava alguns pedaços de carne.

- Eu não sei muito bem como responder isso, porque existem partes da história que eu nao compreendo completamente, mas vou tentar.

- Faça o seu melhor Ane, e deixe que eu decido se acredito ou não em você.

 - O livro dos mortos, ou como é chamado agora, o Livro de Rowena, era só uma lenda que eu e Liliane perseguiamos ao longo dos séculos.

Rowena assentiu - Liliane sempre ia e vinha como queria desde que a aceitei na Floresta das Bruxas. Ela dizia que viajava com uma amiga em busca de tesouros e eu nunca dei muita importância, ou quis saber quem era. Só que um dia ela veio até mim com ele em mãos e eu nem sabia o que fazer com ele, porque eu nem acreditava na sua existência. Ela só me disse que o encontrou no deserto do oceano de areia, e que a magia ali era poderosa demais pra ela, então concordamos que eu o aceitaria sem fazer perguntas e que não o deixaria ao alcance das outras bruxas, e essa é toda a história que eu sei.

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora