Eles passaram cerca de duas semanas observando, anotando e discutindo tudo o que viam. A Fortaleza de Pedra não era mais como Ane se lembrava na memória que teve, e as torres dos deuses estavam parcialmente destruídas. Na cidade muitas casas estavam em ruínas, e as que ainda estavam inteiras apresentavam desgaste e estavam sujas, mas ainda era um emaranhado de ruas estreitas, onde a maioria não levaria a lugar nenhum. A arena ainda estava la, e Ane sentia um arrepio na espinha todas as vezes que olhava para ela. Mas o que realmente impressionava eram as muralhas a frente da Fortaleza, que seguiam intactas como no dia da Queda dos Deuses. Eram gigantes e imponentes e a única entrada era pelo imenso portão de madeira, que nas duas semanas em que ficaram observando tudo, não foi aberto uma única vez.
Do porto, onde os barcos ancoravam nas lembranças de Ane, até a Fortaleza, tudo havia sido destruido e queimado pela igreja, os estaleiros, as casas, as árvores, não havia mais nada. Até mesmo a grama havia sido queimada até sobrar apenas terra e pó, o que tornava impossivel qualquer um se aproximar sem ser visto. Dessa vez não haviam civis la dentro. Não havia feira, barcos ou pessoas indo e vindo. Lá dentro, andando pelas ruas e pelas muralhas, havia somente um exército incontavél de soldados que pareciam estar sempre atentos e tensos.
- Eles se enfiaram ai dentro há praticamente um ano, mas não demonstram um segundo de descuido - Altair falava com Ane, enquanto o Padre preparava o desejejum - eu esperava encontrá-los relaxados e distraídos depois de tanto tempo.
O dia amanhecia dando inicio a terceira semana de vigília, e eles se alternavam entre vigiar a Fortaleza e buscar por alimentos e água na montanha. A montanha não havia mudado muito pelo que Ane conseguia se lembrar dela. O lugar ainda era repleto de vida animal e de árvores frutíferas, então comida não era um problema, mas encontrar água era uma viagem de praticamente dois dias.
- Eles estão nervosos Altair, e sabem que cedo ou tarde nós iremos aparecer - Ane se sentou com as pernas cruzadas enquanto marcava em um papel o numero de guardas nas muralhas naquela manhã - da última vez que me subestimaram acabaram mortos.
- Eles estão nos esperando e nem fazer questão de esconder isso - Altair suspirou e parecia irritado. Ele esperava encontrar uma maneira rápida de entrar e sair de lá, se possível sem precisar colocar Ane e o Padre em perigo. Era um vampiro rápido e poderoso, mas a habilidade que mais se destacava nele não tinha nada haver com o fato de ser um vampiro, e sim com o fato de ser um assassino formidável. Altair estava acostumado a entrar e sair dos lugares sem ser notado, mas até aquele momento não havia conseguido pensar em nada.
Tomaram o café repleto de frutas frescas e carne seca e se organizaram para as tarefas do dia. O Padre ficaria e observaria a Fortaleza naquela manha. Altair iria descansar um pouco e mais tarde iria buscar por alimentos, enquanto Ane iria buscar água, que era o trajeto mais cansativo. A única fonte de água limpa que conseguiram encontrar na região era um lago que ficava quase do outro lado da montanha. Era um percurso de quase dois dias, entre ir e voltar, então sempre carregavam água o suficiente para alguns dias, mas era desgastante trazer tanto peso. Altair e o Padre protestaram que Ane deveria deixar essa função apenas para eles, mas ela não aceitou os argumentos que deram.
Ela terminou o café da manhã e partiu. O dia estava fresco e Ane se sentia leve. Sabia que Altair e o Padre estavam preocupados e irritados por ainda não terem encontrado uma forma de entrar na Fortaleza, mas se lembrava de Ane ter levados meses vigiando lá de cima, e se ela, em sua versão mais poderosa e imortal não teve pressa, ela também não teria. É claro que ela estava ansiosa. Passou por coisas que jamais imaginou no último ano, e esteve longe da filha por tempo demais, então estar tão próxima dela e ainda assim se sentir tão distante fazia com que por vezes quisesse ceder ao impulso de correr até lá e bater nos portões.
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As Crônicas de Luz e Sombra - Ane
FantasyAs Crônicas de Luz e Sombra narram a jornada de Ane em meio a uma guerra entre Vampiros, Lobos, Bruxas e a Igreja. Mas o que fazer quando foi você quem começou a guerra? Desperta sem lembranças de quem é, o que fez ou o porque, Ane será movida pelo...