Capítulo 8

24 0 0
                                    

Ane acordou sentindo o corpo balançar levemente e percebeu que não estava mais no celeiro. Ouvia as vozes de Altair e do Padre conversando a sua frente e se sentou, percebendo que era levada agora em uma carroça bem mais confortável que o trenó de antes.

- Onde diabos conseguiram cavalos? - ela olhava pra eles que montavam dois cavalos bem cuidados a sua frente puxando a carroça.

- Bom dia - Altair disse se sentando de costas na sela e a encarando.

- Bom dia Ane - o padre disse enquanto comia uma fruta que ela não reconheceu.

- Porque não me acordaram? - ela se ajeitou esfregando os olhos - e ainda não me responderam sobre os cavalos.

- Ontem a noite ouvimos um barulho vindo da casa e quando fomos olhar eles estavam andando em volta dela - Altair apontou para o lado dela, indicando alimentos que deixou lá para quando acordasse - acreditamos que sejam dos antigos donos da fazenda e ficaram soltos por aí, mas sinceramente, pode ser só uma incrível coincidência - ele deu de ombros enquanto apontava para uma enorme árvore mais a frente, indicando ao Padre para conduzir o cavalo até lá - de qualquer maneira, tivemos sorte. 

Ane cortou alguns pedaços de pão e engoliu com um pouco de água enquanto o Padre se dirigia para onde Altair indicou.

- Vamos fazer uma pausa, deixar os cavalos descansarem um pouco e depois seguimos. Nós cobrimos uma área bem maior do que eu esperava já que não estamos mais a pé, então preciso avaliar um pouco onde estamos e pra onde vamos a seguir.

Ane e o Padre assentiram e após amarrar os cavalos próximos a árvore, Altair ajudou Ane a descer e a sentou na sombra, enquanto o Padre checava algumas coisas na carroça.

- Altair, você me explicou como a igreja encontrou uma forma de me matar, mas ainda não explicou porque eu e Abraham fomos derrotados, não faz sentido nós nos rendermos.

- Você era imortal, Abraham não, simples assim. Entenda que Abraham equilibrou a guerra quando surgiu, mas nao foi porque não podia ser ferido como você, e sim porque você deixou de lutar as batalhas por Viktor e passou a lutar contra ele, deixando Viktor e sua guerra contra a igreja sem sua arma invencível. Quando Abraham se feriu, fugir ficou complicado porque vocês ficaram lentos, então você fez um acordo e se rendeu, na condição de que ele fosse poupado pela igreja.

- Onde ele está agora?

- Morto - o padre respondeu de forma fria e direta - Eles fizeram um acordo que se conseguissem parar você, te entregariam a igreja, Abraham seria entregue a Viktor e o livro de Rowena ficaria com as bruxas. Você obviamente não sabia disso e no instante em que usaram o feitiço em você Viktor o matou. 

Ane estava triste, mas também se sentia profundamente irritada.

- Eles tiraram tudo de mim. Apagaram quem eu era, mataram o homem que supostamente amei e não consigo me sentir triste por tudo isso, porque simplesmente nao me lembro de nada, e agora, não contentes com tudo que tiraram de mim, levaram minha filha. Que tipo de pessoa eu fui a ponto de despertar tanto ódio? - Ane falava mais para si mesma, do que uma pergunta propriamente dita.

- Eu disse que isso te enlouqueceria. - Altair respirou fundo, olhou pra um pássaro que fazia seu ninho tranquilo em uma árvore e sentiu inveja daquela vida. Pensou em tudo que viveu até ali, em todas as vidas que tirou e naquelas que salvou. Pensou nos amores que teve e viu morrer. Pensou em Liliane e se entristeceu.

- Viktor, quem é ele? - Ela estava com mais raiva ainda agora.

Altair suspirou em protesto, mas sabia que ela não iria parar. 

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora