Ane saltou do cavalor e retirou a sela, dando-lhe um tapa para que fosse embora. Ela sabia que ele voltaria para floresta da Corte e sobretudo para Vougan, como sempre fazia. A sua frente a floresta estava escura, embora ainda estivesse na metade do dia, e ela sentia uma hostilidade gigante emanando dela. Embora Liliane houvesse lhe falado diversas vezes sobre aquela floresta, e Ane soubesse o poderia encontrar, estar ali a frente dela lhe dava arrepios. A floresta era viva, dos animais até as plantas, tudo era feito pra matar qualquer um que entrasse ali com intenções ruins e era um dos únicos lugares no mundo onde Viktor jamais colocou os pés. E Ane entraria com a intenção de matar Rowena, então sabia que não passaria tão fácilmente.
Ela se lembrava de quando enfrentou Rowena, e se lembrava da floresta que Logarius conjurou para enfrentá-la, mas quinhentos anos haviam se passado desde aquele dia e não sabia que tipo de poder Rowena poderia ter despertado desde então. Retirou Ebony e Ivory do cinto, num ritual que já havia feito milhares de vezes ao longo da vida, mas quando as girou algumas vezes nas mãos, as deixou cair. Ane ficou parada por um momento, pensando que aquilo jamais aconteceu depois se aprendeu a utilizar as adagas. Ela abaixou para pegá-las e as beijou, embainhando novamente. Era um sinal ruin, mas não podia voltar atrás, então adentrou a floresta.
Ela caminhou por um tempo em meio a árvores enormes. A vegetação era densa e parecia a todo momento se fechar sobre ela, e podia ouvir com frequencia sons de animais por todos os lados. Ela nao sabia exatamente para onde deveria ir, mas sabia que no momento em que pisou dentro da floresta, Rowena sabia que ela estava lá. Pensou nos diversos avisos de Liliane para jamais ir até la, dizendo que uma das armas da floresta era poder se moldar como queria, criando um labirinto infinito para visitante indesejados, que ou ficariam eternamente perdidos lá dentro, ou seria direcionados a algo forte o bastante para matá-los. Sentia os pelos da nuca arrepiados e todos os seus instintos estavam gritando para que saísse dali. Sabia que estava sendo observada, e por vezes contemplou olhos hostis sobre si mesma. A floresta era úmida e escura, mas ela não tinha dificuldades em enxergar. Um mosquito pousou em seu braço e tentou picá-la sem sucesso e ela sorriu - Não pode me ferir pequenino - e ele voou para longe.
Ela começou a pensar que estava andando em círculos, pois tinha constantemente a sensação de já ter estado em cada lugar em que ia. Com o tempo Ane começou a se sentir tonta e com falta de ar. A floresta parecia cada vez mais fechada e densa, e por mais que andasse nunca chegava a lugar algum - deve ser o labirinto que Lili me falou - estava suada e a boca estava seca. Sua mãos transpiravam e sentia certo desconforto segurando Ebony e Ivory por causa disso. Também ouvia sons ameaçadores, rosnados, rugidos e gritos de criaturas bem maiores que animais nativos, mas também não os encontrava.
Ane andou até se cansar, sentou e pensou por um tempo, voltou a andar e se cansou de novo. Ela não sabia mais dizer se estava ali a horas, dias ou meses, e começava a achar que parte dos sons que ouvia não eram reais. Conseguiu água que coletou de algumas plantas, mas não tinha muita certeza do que poderia ou não comer, então preferiu não se arriscar. Ela estava perdida, e estar perdida em um labirinto infinito quando se é imortal é a pior coisa que poderia acontecer.
- Muito bem Rowena, vamos mudar a abordagem - Ane girou Ebony e Ivory e decidiu cortar a floresta em linha reta para ver se chegava em algum lugar, mas quando golpeou o primeiro galho a sua frente, sua mão passou direto e ela perdeu o equilíbrio, caindo em uma clareira que se abria a sua frente. Lá, uma Harpia a encarava pousada em um tronco enorme caído na floresta.
- Não ouse tentar machucar a floresta - ela disse enquanto a encarava - Ela vai recebê-la agora.
Antes que Ane respondesse a Harpia partiu e a floresta a sua frente se abriu em um imenso corredor, onde agora a luz do sol iluminava tudo. Nas laterias diversos seres mitológicos a observavam passar. Équidnas, minotauros, quimeras, ninfas da floresta e faunos a olhavam de forma hostil e Ane agora entendia que realmente esteva sendo observada por eles o tempo todo. No fim do corredor havia um jardim quase infinito de flores, onde borboletas e pássaros iam e vinham a todo momento. No meio dele Rowena se balançava em um balanço feito de flores e grama suspenso no ar e preso em lugar algum.
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As Crônicas de Luz e Sombra - Ane
FantasíaAs Crônicas de Luz e Sombra narram a jornada de Ane em meio a uma guerra entre Vampiros, Lobos, Bruxas e a Igreja. Mas o que fazer quando foi você quem começou a guerra? Desperta sem lembranças de quem é, o que fez ou o porque, Ane será movida pelo...