Capítulo 22

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Ane se sentia zonza e era atingida muito rápido por um misto de sentimentos que a deixavam confusa. Ficou deitada, sem abrir os olhos por um tempo, mas sabia que estava na cama de Irina, pois o cheiro delas estava ali, e ela havia memorizado o de Irina muito rapidamente. Sorriu e corou ao perceber a forma que soube onde estava antes mesmo de abrir os olhos, e puxou a coberta sobre a cabeça por um instante. Ela precisava pensar.

- Eu sonhei de novo? - ela abriu os olhos e encontrou o céu estrelado sobre si - Você está ai olhando pra mim vovô?

Ela se sentou, recolhendo as pernas e as abraçando, deixando a cabeça descansar sobre o joelho. Limpou algumas lágrimas que brotaram nos olhos quando se pegou pensando na ligação que tinha com Liliane e varreu o quarto com os olhos lentamente,  encontrando Ebony e Ivory embainhadas em um cinto de couro. 

- O bem e o mal, luz e sombras - ela estendeu a mão e as pegou, retirando da bainha e girando nas mãos algumas vezes - parece que meu corpo se lembrou de como utilizar vocês.

- Sério, dessa vez achei que você tinha morrido - Ane deu um grito pelo susto e tapou a boca com a mão ao reconhecer a voz e encontrar os olhos sorridentes de Altair espiando por cima do teto aberto de Irina.

- Pelo amor de Deus Altair, você precisa parar de aparecer assim - ela sorriu ao lembrar que disse a mesma coisa pra Liliane no passado - aliás, o que está fazendo ai?

Altair saltou para dentro do quarto, caindo de pé sem produzir um único som no processo. 

- O resumo do resumo é que você apagou de novo e estava caída no chão quando Irina a encontrou. Trouxemos você pra cá e desde então estou aqui esperando você acordar.

Ane passou a mão na nuca algumas vezes, como se estivesse se massageando. Depois girou o pescoço algumas vezes e sentiu o corpo dolorido.

- Estava de manha quando apaguei, mas já está escuro. Ficou ai o dia todo? Deve estar faminto.

Altair sorriu, pegando um cesto de frutas que estava em uma mesa próxima a cama. Retirou duas maças e jogou uma pra ela.

- Coma, era sua fruta favorita - ele se sentou sobre a mesa enquanto comia - Na verdade você dormiu por sete dias dessa vez.

Ela engasgou, cuspindo toda a maça da boca quando ele disse que dormiu por sete dias, olhando pra ele sem acreditar.

- Por favor, me diz que não está ai a sete dias, porque isso seria bem estranho.

- Bem todos estavam preocupados com você. Irina veio uma vez por hora nos primeiros dias. Calaham tentou te acordar colocando bebidas de todo tipo pra você cheirar e nosso amigo Padre me obrigou a orar ao lado da cama quando você começou a chorar e a gritar como se estivesse com muita dor.

- Altair - ela fez uma careta e revirou os olhos - não fuja da pergunta. Você ficou ai sete dias?

Ele deu de ombros - Passei quase dez anos vigiando você numa floresta, isso sim é estranho. Sete dias não são nada. Consegue andar?

Ela se sentou na beirada da cama e colocou os pés no chão corando imediatamente enquanto ouvia Altair tentando conter o riso. Ele parou na porta sem olhar pra ela, mas ela sabia que ele estava se divertindo por não ter contado a ela desde o início.

- Vou esperar você se vestir lá fora. 

Ane olhou pro céu rindo de si mesma e falando sozinha - Lili, se estiver ai com o vovô, eu juro, eu não tinha me tocado que estava nua.

- Sabe que eu posso ouvi-la daqui de fora ne?

Ane resmungou e jogou os travesseiros na porta fechada enquanto procurava suas roupas pelo quarto.

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora