Capítulo 34

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Ane e Rowena liam com atenção todos os livros da Biblioteca Infinita que fizessem qualquer menção sobre o mundo dos mortos. Procuraram por todas as culturas e civilizações perdidas da humanidade. Buscaram nos livros de religiões que já não existiam mais. Leram o livro dos deuses, estudaram os símbolos sagrados dos mortos, e tudo aquilo que pudesse dar a elas qualquer pista sobre o que poderia estar preso com o emissário e como matá-lo.

Ane descobriu que Rowena chamava seus filhos de Filhos da Floresta, e eles ajudavam como podiam. Pouco a pouco Ane pôde conhecer cada um deles, aprendendo sua língua, o que cada um comia, o que gostavam ou não gostam. O tempo no domínio de Rowena era imutável e a cada dia ela ampliava ainda mais o domínio e sua infinita beleza, se inspirando em diversos lugares do mundo pra isso. Elas liam durante o dia, e conversavam durante a noite. Ali não precisavam dormir nem descansar, embora o fizessem por puro hábito as vezes, e todas as necessidades do corpo não existiam, embora também comessem pelo simples prazer de comer. 

Quando a leitura se tornava massante demais caminhavam pelo domínio observando e falando sobre tudo o que Rowena criou ali. A cada século mais e mais vida surgia naquele lugar, e mais elas aprendiam sobre a vida e a existência do universo, e sobre elas mesmas. Se tornaram tão íntimas quanto possível quando se passa tanto tempo juntos, e aprendaram tanto sobre si mesmas que podiam se comunicar apenas com o olhar.  

Ficaram ali por quase cinco mil anos, enquanto lá fora o tempo estava congelado no mesmo segundo em que elas entraram no domínio. Ane aprendeu os conceitos de magia primordial, e Rowena aprender a lutar como ela lutava. Inventaram mais pratos para comer do que imaginaram ser possível. Beberam os melhores vinhos e conversaram até não haver mais nada a ser dito.

- Cinco mil anos, milhares de livros, e ainda assim nem um único deles faz qualquer menção ao que procuramos - Ane sabia que elas ja haviam tido essa mesma conversa uma centena de vezes, mas vez ou outra, uma das duas sempre acabava por desabafar sobre isso.

- O que sabemos até agora? - Rowena estava encostada em uma árvore, sentada sobre um canteiro de flores que se estendiam por todos os cantos. Usava um vestido lilas, o cabelo estava preso de um rabo de cavalo simples e estava descalsa.

- Bom, acho que podemos dizer que existe um consenso entre a maioria das civilizações que já passaram por aqui - Ane fechou o livro que estava com ela e se espreguiçou enquanto Rowena teve que conter o ímpeto de ir até ela - o mundo dos mortos existe, é como uma dimensão paralela a nossa, ou como esse domínio pelo que entendi.

- Também sabemos que em todas as culturas ele é guardado por alguém, embora o guardião possa divergir de uma para outra - Rowena acariciou um lobo que veio até ela e o alimentou com algo criado em sua própria mão.

- Embora existam aquelas que contam histórias sobre heróis que foram fisicamente até lá resgatar ou matar alguém,  é unânime que ao entrar naquele lugar não se pode mais sair.

- Sim, mas nós sabemos que você trouxe Liliane de volta, então isso meio que refuta essas teorias de que não se pode voltar, além de sabemos que existe alguém tentando sair de lá enquanto estamos aqui conversando.

- Toda regra tem exceções, mastambém sabemos que Liliane não saiu de lá por vontade própria, foi o emissário do portão que a trouxe.

- Sim, voce tem razão, e se buscarmos mais a fundo, toda cultura fala de um grande mal aprisionado naquele lugar, o que nos leva a crer que talvez o nosso cara não esteja necessariamente morto.

Ane se levantou muito rápido olhando para Rowena, mas seu olhar estava distante - Rowena é isso, essa é a resposta que estávamos buscando.

- Ane - Rowena se levantou olhando em volta para procurar algo que Ane pudesse estar vendo, mas não havia nada de diferente - Ane do que está falando?

As Crônicas de Luz e Sombra - AneOnde histórias criam vida. Descubra agora