Ane acordou com Irina ainda ao lado dela. Ela estava deitada sobre o braço e com o outro fazia carinho na cicatriz deixada pela adaga em sua barriga e sorriu ao vê-la abrir os olhos - É estranho ver uma marca em você, mas te deixa ainda mais bonita.
Ane corou com o elogio e encostou a cabeça no peito de Irina, mas não pôde deixar de sorrir - Eu gostaria de dizer que entendo o que isso quer dizer, mas de verdade ainda é estranho pra mim compreender que eu fui - ela deu um suspiro e levantou o rosto encostando levemente os lábios nos de Irina - Nós duas, antes de tudo isso acontecer, estávamos juntas? - Irina sorriu de forma triste e se virou na cama, fitando o teto pensativa, enquanto Ane se aconchegava nela - não precisa responder se isso for um assunto delicado.
- Não é um assunto delicado, apenas me traz lembranças demais - Irina fechou os olhos e sorriu - Por um tempo sim, estivemos juntas. Houve uma época em que naveguei pelo mundo e você estava comigo, desbravando lugares nunca antes conhecidos. Mas a Ane que eu amo nunca me amou - Ane se encolheu de forma triste - Não se preocupe, ela jamais me magoou e sempre deixou claro o que nós éramos. A Ane que você foi era uma mulher intensa demais, livre demais, sexy demais, ela era dona de si e poderia ser dona do mundo se quisesse, mas o mundo não era o suficiente pra ela, pelo menos não até ele aparecer.
- Abraham? Você o conhecia?
- Sim, Abraham - Irina se virou, ficando de frente para Ane, enquanto acariciava seu rosto e colocava uma mexa de seu cabelo atrás da orelha que a fez corar - Eu não o conheci. É claro que eu sabia quem era, todos na Corte sabiam, visto que ele venceu a maioria de nós até chegar em você, mas eu não o enfrente durante a guerra, visto que a minha parte dela estava concentrada nas batalhas que ocorriam no mar. No dia que ela apareceu na Cidade dos Piratas eu sabia que algo havia mudado. Ela me entregou Ebony e Ivory e pela primeira vez, ao olhar nos olhos dela, eu soube que ela havia encontrado a felicidade que eu nunca pude dar a ela. Pode parecer estranho, mas ver a mulher que eu amava finalmente em paz e pronta pra parar de lutar foi o dia mais feliz da minha vida.
- Não doeu?
- É claro que doeu vê-la partir e saber que talvez eu nunca mais fosse vê-la ou que nunca mais pudesse fazer amor com ela deixou uma ferida que jamais cicatrizou. Mas tudo sempre foi pesado demais pra ela, e mesmo nos dias mais felizes, quando estávamos longe de Viktor e da Corte, eu podia ver nos olhos dela que havia algo errado. Ane sempre estava falando sobre uma batalha que ainda estava por vir e que não sabia como vencê-la, e no fim, nem eu, nem ninguém conseguiu compreendê-la. Ninguém podia vencer a Corte com ela e Viktor juntos, então não fazia sentido sabe. Mas quando ela desistiu de tudo pra fugir, havia um brilho nos olhos dela que eu nunca tinha visto. Sim, é claro que doeu me despedir dela, mas eu sabia que era o certo a se fazer - uma lágrima brotou nos olhos de Irina e Ane a limpou carinhosamente com a mão, o que a fez sorrir - e então, sem que eu estivesse esperando, você apareceu e eu soube que algo havia mudado novamente - Irina a olhava profundamente nos olhos - no momento em que você entrou naquela sala Ane, eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, e não, você não é ela e eu sei disso, e pode parecer loucura mas quando te vi parada na minha frente eu compreendi o tipo de amor que ela deve ter sentido quando encontrou Abraham.
Ane a beijou e sentiu que não havia mais nada a dizer naquele momento. Elas fizeram amor novamente enquanto o dia amanhecia e ficaram na cama por um tempo sem dizer nada. Depois Irina, se levantou e as duas se vestiram, voltando ao cômodo principal onde Altair, Calaham e um envergonhado Padre faziam o desjejum com peixes e frutas frescas.
- Bom dia - Altair exagerou no tom de propósito e mordeu os lábios para envergonhá-la - você está radiante hoje Ane. Até a pele está mais bonita.
Ane riu e jogou uma almofada nele - Você não vai estragar meu dia hoje.
- Ane eu devo desculpas pelo meu comportamento ontem - o Padre dizia envergonhado, mas Ane pediu que parasse com um movimento de mão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas de Luz e Sombra - Ane
FantasiAs Crônicas de Luz e Sombra narram a jornada de Ane em meio a uma guerra entre Vampiros, Lobos, Bruxas e a Igreja. Mas o que fazer quando foi você quem começou a guerra? Desperta sem lembranças de quem é, o que fez ou o porque, Ane será movida pelo...