Capítulo 20.

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- Meus deuses, se ela morrer eu te mato, Di Angelo! - Will exclama, com os olhos cheios de lágrimas.

 Eu até riria, se não estivesse igualmente abalada. Estamos na casa de Nico, assistindo Arcane, uma série inspirada no jogo favorito dele: League of Legends. Começamos a assistir semana passada, porque Leo e Nico estavam insuportáveis de tanto insistir, alegando que a série era incrível. 

 Devo confessar que, de início, não coloquei muita fé. Mas agora já estamos no último episódio e eu já senti tantas emoções que não consigo desviar os olhos da tela. A série é muito boa.  

- E por que eu teria culpa de alguma coisa? - Nico indaga, rindo do namorado.

- Porque você me fez assistir esse desenho depressivo! - o loiro responde, jogando uma almofada em Di Angelo.

- Dá pro casal parar de briguinha? Estamos chegando na parte mais emocionante do episódio! - Leo reclama.

Jason e eu trocamos um olhar e seguramos nossas risadas. Ele tenta dar um beijo em Leo, que desvia e retruca: 

- Sem sapecagens, superman! O assunto aqui é sério! Presta atenção! 

Eu solto um riso baixo e volto meu olhar para a tevê. 

- Não! - deixo escapar uma exclamação indignada assim que o episódio acaba. - Tá de brincadeira que vai acabar assim?! 

Jason, Thalia, Will e eu passamos um tempo reclamando com Leo e Nico por eles terem nos feito assistir esse desenho que agora estamos completamente viciados. Depois descemos para a cozinha e preparamos algo para comer.

- Sério, princesa, a gente precisa fazer um cosplay de Caitlyn e Vi. - Thalia diz para mim.

- Pelos deuses eu super concordo! - Nico exclama. - Elas são totalmente vocês duas no universo de League of Legends. 

Dou risada, concordando. 

Nós seis ficamos conversando sobre a série por um tempo e fazendo especulações para a próxima temporada. Jason e Will ainda vão ficar aqui mais um tempo, porque Leo e Nico insistiram para que eles jogassem uma partida de LOL. Will é péssimo jogando - assim como eu -, então admiro ele fazer isso pelo namorado. 

Ainda bem que Thalia não é tão ligada em jogos. Se fosse, eu estaria perdida. 

Começa a escurecer lá fora e eu digo a todos que preciso ir, porque senão Belona vai me matar. Lia me acompanha até a esquina de casa, como tem feito nos últimos dias desde que nos acertamos. A única coisa ruim é que tenho que conter minha vontade enorme de segurar sua mão enquanto caminhamos, porque alguém poderia ver.

Hoje, em específico, minha mente não está aqui, tentando conversar com Lia e aproveitar o último minuto antes de estar em casa. Na verdade, passei o dia inteiro pensando na mesma coisa: a apresentação de balé. Minha mãe está me pressionando mais do que nunca, Lupa praticamente me tira das aulas para treinar. Tudo que me falam é sobre isso, eu sinto meu ar faltando e parece que vou sufocar.

Como se ouvisse tudo que se passa dentro da minha cabeça, Thalia coloca a mão sob meu ombro e paramos de caminhar.

- Está tudo bem, Arellano? - ele pergunta. - Você está muito quieta.

Solto um suspiro pesado e fecho os olhos com força.

- A apresentação de balé é daqui três dias. Lupa e minha mãe estão me deixando doida. É pressão demais.

- Ei, olha pra mim. - Thalia toca meu rosto com a ponta dos dedos. Seu olhar está firme. - Você vai conseguir, okay? Vai dar tudo certo, você não está sozinha.

Sua voz e seu toque me tranquilizam. Consigo respirar fundo algumas vezes e dou um sorriso fraco.

- Obrigada. - falo, baixo. - Pelos deuses, eu queria muito te beijar agora.

Isso faz Lia rir. Elu olha para os lados e, com uma expressão soturna, me puxa para trás de uma árvore alta que fica há uns dois quarteirões de casa.

- O que você está fazendo? - indago, rindo.

- Te beijando em segredo, ué. - ela faz graça e me puxa para um beijo.

Sua boca na minha me faz esquecer de qualquer outra realidade. Sinto meu corpo amolecer por inteiro, anestesiado por todas as sensações que Thalia me faz sentir.

Quando nos separamos, ambas estamos sorrindo. Gostaria que esses momentos durassem por mais tempo.

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- Onde você estava? - Belona pergunta, séria, assim que entro em casa.

- Com Jason. - digo, o que não é totalmente mentira. - Estávamos estudando.

É isso que eu venho dizendo para ela nas últimas semanas, quando encontro com meus amigos ou apenas com Lia. Até porque um dos nossos pontos de encontro é a casa dos Grace, já que Hera e Zeus passam o dia todo na Prefeitura.

Um sorriso mínimo surge nos lábios de minha mãe. Não é um sorriso caloroso, pelo contrário: é frio como metal.

- Todos na cidade estão comentando que vocês finalmente começaram a namorar. - Belona diz, enquanto caminha pela sala, em direção ao calendário que fica pendurado na parede. - É verdade?

- Não, senhora. - respondo.

- Lupa me disse que você anda muito distraída nos últimos dias. - seu olhar retorna para mim e eu sinto meu estômago se revirar de ansiedade. Sei que ela vai brigar comigo, daquele jeito sutil e desapontado que sempre faz. - Venha até mim.

Engulo seco e caminho até estar ao seu lado.

- Você sabe que não podemos nos distrair agora, não sabe? - Belona continua; sua voz é baixa, perigosa e gélida. Ela coloca a mão no meu ombro, no mesmo lugar que minutos atrás estava a mão de Thalia. Não posso deixar de notar a nítida diferença entre minhas reações com esses toques: um me conforta, o outro me amedronta. - Sua apresentação é daqui a três dias, Reyna.

- Eu sei. - deixo escapar, com certa frustação. Minha mãe ergue uma sobrancelha.

- Sabe? - indaga e me direciona a encarar o calendário. - Não é o que parece. Essa apresentação não vai ser como as outras, ela vai decidir o seu futuro. Nós estamos nos preparando há anos para isso, filha. A sua última apresentação no ensino médio, que abrirá portas para sua carreira promissora.

Sua mão em meu ombro parece pesar toneladas. Sinto o ar faltando, um peso pressionando meu peito. Aquela antiga sensação volta, me dizendo ser inadequada, imperfeita, insuficiente. Tento não transparecer tudo isso e simplesmente assinto, concordando com o que Belona diz.

Subitamente, ela se afasta, com uma careta de dor e se apoia firme na bengala. Me sinto preocupada, apesar de tudo, porque nem imagino o quanto a lesão em sua perna dói.

Ajudo ela a se sentar no sofá e, assim que o momento passa, ela volta a me encarar da forma como estava antes. Acaricia meus cabelos, porém seu gesto não transborda carinho.

- Haverá uma olheira amanhã na plateia. - Belona avisa. - Ela vai avaliar você e, dependendo do resultado, pode te chamar para Bolshoi. É a chance que nós tanto esperamos, filha. Para você ter uma vida melhor que a que eu tive.

Com aquela informação, sinto que vou vomitar a qualquer segundo. Haverá uma olheira. De Bolshoi.

Eu deveria estar feliz com aquilo, mas só consigo desejar a hora em que esse pesado vai ter fim.

Little Miss PerfectOnde histórias criam vida. Descubra agora