Capítulo 7.

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 Não consegui encontrar com Thalia pelos próximos dois dias. 

Porque, como se não bastasse apenas pressionar Quíron, minha mãe também conseguiu convencer o Sr.D à mudar completamente meus horários de aula, nunca fazendo possível que eu e Thalia ficássemos no mesmo ambiente. Exceto, é claro, pelo almoço - mas os irmãos Grace tiveram que resolver assuntos pessoais nesses horários (tanto na segunda, quanto na terça).

Então cá estou eu: em mais um treino de balé. Lupa não cansa de lembrar a todas nós que a apresentação se aproxima - agora estando apenas um mês distante. Hoje ela está especialmente pegando no pé de Hazel, porque a garota faltou duas vezes seguidas.

 Hazel é forte mas Lupa está sendo tão rígida que vejo a Levesque ficar a beira do choro. Não aguento ver isso, então erro um passo importante de propósito e toda a ira da nossa professora se volta contra mim. Tudo bem, eu consigo carregar isso. Eu estou bem. Está tudo bem.

Fingir, até que se torne verdade.

Quando a música para, Lupa coloca ela para tocar de novo. E de novo. E mais uma vez, até que o tempo de nossa aula acabe - e ela ainda ultrapassa 10 minutos. Vejo o cansaço no rosto do resto da equipe e forço um sorriso confiante. 

- Nós estamos indo bem.  - digo a elas quando já estamos no vestiário. -  Tenho certeza que vamos arrasar na competição, vocês são todas muito talentosas. 

- Obrigada, Reyna. - uma das garotas, Lavínia, me diz. - Não sei o que seríamos sem você.

 Sorrio, agradecida. 

- Ainda bem que você existe, Rey. - Hazel suspira. - As vezes, parece que a Lupa odeia a gente. 

Faço uma careta que gera risadas delas. 

- É... Realmente. - falo. - Mas vai dar tudo certo, okay? 

Nos abraçamos e nos despedimos agora com o clima mais leve. Eu desacelero meus passos, percebendo que nem sequer troquei de roupa. 

A verdade é que não sinto vontade de ir para casa agora. Preciso extravasar o que sinto, de uma forma ou de outra. 

- Rey, você não vem? - Hazel se vira pra mim, franzindo o cenho.

- Agora não, Haz. - respondo. - Acho que vou treinar mais. 

Ela me encara como se um chifre de unicórnio tivesse surgido no centro da minha testa. 

- Deixo a porta aberta, então? 

Eu concordo e a observo ir embora, me deixando completamente sozinha. 

Encaro as cadeiras vazias do auditório. As cortinas velhas e empoeiradas. O palco com madeiras que rangem a cada passo. 

Coloco meus fones de ouvido e deixo uma única música para tocar no repeat. Então me levanto e suspiro, fechando os olhos antes dos meus pés seguirem as batidas agitadas de Oh No! da Marina And The Diamonds

A dança costumava ser meu porto-seguro. Me balançar no ritmo das notas e acompanhar a harmonia dos instrumentos era meu passatempo preferido. Eu inventava passos e coreografias, me trancava no quarto por horas seguidas e simplesmente seguia meu coração. 

 Até que, bem, dançar se tornou uma obrigação: a única coisa que faria meu esforço fazer sentido.

A música que eu escolhi é libertadora em diversos sentidos: sua poesia expressa o que eu sinto. 

Sinto meus pés doerem e meus músculos protestarem contra o esforço exaustivo. Ignoro as reações do meu corpo e continuo: girando e saltando nas pontas dos pés, como se o mundo fosse pequeno e insignificante. 

Little Miss PerfectOnde histórias criam vida. Descubra agora