Capítulo 6.

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 Não consegui dormir direito na noite passada, porque as memórias do que acontecera entre mim e Thalia invadiam meus pensamentos como ondas inundando cidades - e as conclusões que eu chegava com eles eram tão avassaladoras quanto. 

 Há duas músicas que não param de tocar dentro da minha mente, como se tudo que eu fizesse, girasse em torno desse baile musicado e clichê. A primeira estava tocando quando... Não quero falar sobre isso agora, embora baste um fechar os olhos para que eu volte àquele momento, com Thalia passando a mão pelo meu rosto. Não, Reyna, não! Pare de pensar nisso! A segunda música era duas vezes pior, porque eu tinha tido a brilhante ideia de escutá-la até pegar no sono. Parte daquela letra se encaixa em tudo que eu gostaria de externar para Thalia: todas as palavras que travavam na minha garganta, formando o nó que me sufocava. 

Tentei me arrumar, mas a jaqueta de Lia ainda está apoiada na minha cama, ao lado dos meus travesseiros. Tentei tomar um banho gelado, mas o cheiro dela ainda está impregnado nos meus braços. Tentei meditar, mas seus olhos azuis foram tudo o que eu vi quando tentei me concentrar no universo. 

 E ainda não são nem 10h da manhã. 

 Estou impaciente, enérgica, angustiada. Seguro a vontade de colocar a jaqueta de novo, naquele movimento vicioso que eu me pus a fazer durante a madrugada.

Preciso sair daqui, me distrair. 

Eu poderia ir treinar balé. Na verdade, eu deveria fazer isso, porque na última aula haviam movimentos errados na minha coreografia. Lupa tinha até ameaçado falar com minha mãe se isso se repetisse. 

Encaro minhas sapatilhas do outro lado do cômodo. No entanto não sinto vontade de ir até elas.

Mas eu poderia correr. Poderia ir até Jason e chamá-lo para correr até a saída da cidade, para sentarmos no alto da placa que dizia "Até logo, volte sempre!" e lá conversaríamos sobre tudo. Eu poderia contar para ele o que aconteceu. Ele me entenderia. 

Quando essa ideia começa a me parecer ideal, me lembro de um detalhe: Jason é irmão de Thalia. Consequentemente, passar na casa dele seria encontrar com Lia. Apenas essa ideia faz meu estômago dar cambalhotas em todos as direções. 

Eu posso correr sozinha, então. Sempre gostei de fazer as coisas assim, porque isso me dá tempo para pensar. No entanto, pensar sozinha me leva ao mesmo caminho que estou desde ontem: Thalia Grace. 

 Em último instante, decido que recorrer à Nico me parece a melhor solução. 

 Estou prestes a sair do quarto quando ouço passos no corredor. Sinto aquele arrepio gélido e sombrio que sobe para minha nuca quando estou com medo e tudo que consigo fazer é jogar a jaqueta de Lia embaixo da cama, porque não sei o que minha mãe faria se a visse. 

Na verdade eu sei, e pensar nisso me faz ficar enjoada. 

- Aonde pensa que está indo? - Belona pergunta, ficando na minha frente no batente da porta. 

- Correr. - minto. - Preciso me exercitar. É domingo. 

Ela me olha de cima abaixo. 

- Você chegou tarde ontem. - observa e anda pelo quarto. Quando ela se senta na cama, tenho pavor ao imaginar o que pode acontecer se ela apenas se abaixar um pouco e ver a jaqueta. - A festa estava boa? 

Engulo em seco. 

- Sim, mãe. 

- Lupa me disse que você foi vista com Octavian. - Belona comenta e é assustador como ela sempre sabe de tudo que acontece. Aguardo, receosa, esperando que ela também tenha descoberto sobre Thalia e minha ida ao Argo II. É isso, meu castelo vai cair. Posso ouvir os tijolos se despedaçando contra mim. Posso sentir a decepção no ar. 

Little Miss PerfectOnde histórias criam vida. Descubra agora