Capítulo 24.

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 Hylla me mandou mensagem.

 Depois de anos ela simplesmente me manda uma mensagem como se tudo estivesse normal. Como se a gente tivesse se visto ontem.

 Eu não sei bem o que esperava que ela me escrevesse. Um pedido de desculpas? Um texto emocionante dando uma boa razão dela ter me abandonado aqui? Sei lá. Acho que só estou com raiva. Afinal, o que ela espera que eu responda? Que minha vida está às mil maravilhas? Que merda, Hylla. 

 Recebo alta do hospital depois de um dia do ocorrido. Não era nada tão grave, na verdade. O médico da ala psiquiátrica me encaminha para passar com o psicólogo do hospital uma vez por semana e prescreve um remédio para a ansiedade. 

Obviamente, Belona não quer seguir nenhuma das recomendações. Para minha mãe, psicólogo é besteira e a verdadeira "cura" consiste com que eu pare de ver meus amigos - em principal, Thalia -, estude mais e vá para igreja como fazia quando era criança. Ela diz isso enquanto rasga a receita médica em pedacinhos e a joga no lixo. 

 Minha mãe decidiu que parte do castigo é me levar e me buscar na escola, se certificando que não irei mesmo sair com nenhum dos meus amigos "impuros" - segundo ela. Mesmo assim trocamos algumas palavras entre uma aula e outra e eu certifico eles de que está tudo bem. Ou pelo menos vai ficar. 

 Pelo menos ainda posso falar com eles pelo celular, já que mamãe não o tirou de mim. Não é a mesma coisa, mas impede que eu enlouqueça. 

 Lia me enche de mensagens no fim de semana. Na escola, ela deixa bilhetes no meu armário. À tarde enquanto eu estudo, me manda links de postagens engraçadas no Twitter. Essa é sua maneira de estar comigo mesmo estando longe. Sinto que estou me apaixonando ainda mais por conta disso. Estou morrendo de saudade dos beijos delu.

 Agora está de noite e eu estou trancada no meu quarto. Não aguento mais estudar, até porque minha cabeça está em outro lugar. Pego o celular e encaro mais uma vez a mensagem de Hylla. 

Já tem um tempo que estou digitando um monte de coisa mas nunca consigo enviar. Meu dedo para a centímetros da tela e eu penso em todas as coisas que quero dizer e não consigo. Por fim, digito algo simples e envio, aguardando ansiosamente para que ela responda.

A ideia de poder falar com minha irmã de novo me deixa animada, a ponto de fazer um pouco da raiva passar. 

"Oi. 

Já estive melhor, na vdd. 

E vc?"

Enquanto espero, me deito na cama e encaro o teto. Está tudo silencioso e tenho quase certeza que minha mãe já foi deitar. Fecho os olhos, tentando me imaginar em um lugar bem longe daqui, fazendo a faculdade que eu quero. Um lugar como Nova York. Ou São Francisco. 

 Um barulho à minha janela me tira dos meus devaneios. 

Primeiro acho que é só coisa da minha cabeça, mas o barulho se repete. Levanto da cama em um sobressalto. 

Quando olho para a janela, quase caio no chão em um misto de susto e alegria. 

Porque, batendo de leve no vidro, está Lia. 

Eu corro até a janela e a abro, deixando ela entrar no quarto. Ela sorri. 

- E aí, princesa? - diz, com a voz ofegante. 

Eu rio e a abraço. 

- Como você conseguiu...? - minha pergunta morre enquanto indico a janela. Como Lia conseguiu subir até o segundo andar da minha casa sem ninguém ouvir. 

Little Miss PerfectOnde histórias criam vida. Descubra agora