Little Miss Perfect

Capítulo 4.

 AVISO: esse capítulo pode conter gatilhos de assédio, homofobia e transfobia (deixei isso avisado na sinopse, mas é bom reforçar). Se você se sentir desconfortável lendo, pule o capítulo! Vai dar pra entender o que aconteceu no próximo, juro. 

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 O ginásio está enfeitado com fitas coloridas pendendo do teto. Há uma faixa enorme e brilhante com uma paleta de cores horrível e que carrega escrito a frase: "Nova Roma deseja a todos os seus alunos uma ótima volta às aulas!". Caixas de som foram postas em cada canto e há algumas mesas perto das portas de entrada. Um pop genérico soa alto e a maioria dos alunos do ensino médio está dançando com seus amigos ou se pegando com alguém em algum lugar escuro dos corredores vazios - supostamente, Término, nosso chefe da segurança, teria de percorrer pela escola durante as festas e parar todas as atividades consideradas ilícitas pela diretoria, mas ele costumava fazer vista grossa para os seus favoritos.

Eu estou apoiada em uma das paredes perto da mesa de bebidas, mas o copo em minhas mãos está vazio. O vestido rosa que minha mãe me deu é de alças e vai até mais ou menos a altura do joelhos. O modelo é justo no busto, realçando o volume dos seios; eu nunca me senti tão desconfortável em uma roupa como estou me sentindo agora. Para completar, mamãe insistiu para que eu usasse sandálias de salto, mesmo que meus pés doessem por conta do treino de dança. Uma das outras regras dela é: ser bonita e desejável para os caras do colégio, mas não de um jeito "promíscuo" como as líderes de torcida.

Um grupo de pessoas passa por mim, me cumprimenta e depois volta para a pista de dança. Eu nem sei os nomes deles. 

Era para Nico estar aqui comigo, porque mesmo que ele odeie essas festas, Will sempre insiste em vir por pelo menos uma hora. Só que hoje o Solace acordou um pouco gripado e, como o bom namorado que é, Nico decidiu ficar com ele. 

"Não tem sentido ir sem o Will, desculpe." meu amigo havia dito no telefone, algumas horas atrás. "Mas, olha, você pode vir e ficar aqui com a gente. Vamos maratonar a trilogia original Star Wars - de novo, porque nunca vi alguém tão viciado nesses filmes como o Will - e depois vamos ver algum desenho, se ele não capotar de sono antes disso..." 

A proposta era tentadora, mas não é como se eu pudesse simplesmente aceitar. 

Então Jason - tão obrigado a estar aqui quanto eu - estava me fazendo companhia até que o pessoal do time o "roubou" de mim. E agora eu estou aqui, sozinha, observando melancolicamente o quanto Percy, Annabeth, Piper e Leo parecem felizes: dançando e rindo como se a festa estivesse realmente boa. 

Meu olhar percorre o ginásio procurando por uma pessoa que sei que não vai estar em nenhum lugar por aqui. Aliás, ela não estava em nenhum lugar hoje. Tenho medo de que a tarde de ontem não tenha passado de um sonho, de um delírio alucinado. Ou, pior ainda, que ela não queira me ver e, por alguma razão, isso me faz ficar tonta momentaneamente. 

No caminho para cá, Jason me disse que Zeus não quis deixar Thalia sair de casa porque "haviam assuntos mais importantes a se tratar", embora ninguém tenha dito ao meu amigo quais assuntos eram esses. 

Estou tão imersa nos meus pensamentos que só percebo que alguém se aproxima quando é tarde demais. 

- Boa noite, Reyna. - ao reconhecer a voz esganiçada, tenho vontade de fingir ser outra pessoa. 

 Me viro para encarar o rosto pálido e fino de Octavian, o vice-presidente do grêmio estudantil. Palavras rápidas sobre ele? Um mimadinho, filho de fazendeiro, machista e egocêntrico. Ele quer meu cargo de presidente desde o primeiro ano. 

- Boa noite. - sorrio por educação. 

Ele devolve o sorriso, mas percebo algo a mais em seu olhar.