impasse [sheibi]

04

[carolana's voice] oi pessoal!! 

voltei!! bem antes do que eu esperava, mas é isso aí hahaha

não esqueçam o favorito 

boa leitura xx

▽⚢✃▽

Os últimos jogos da fase de grupos foram fáceis demais para Gabriela, e logo ela estava recebendo uma atenção exagerada de todos os entrevistadores que estavam brigando entre si para poderem conversar com ela, mesmo que por alguns segundos. Ela sentia sua garganta fechar e o mundo ao seu redor se tornar mais lento quando ouvia os gritos das pessoas ao redor.

Ela sentia vontade de tampar seus ouvidos com o fone de ouvido mais potente do mundo, pois naquele momento ela estava muito próxima de afundar.

-Gabi! – Uma voz com um sotaque estranho, que ela não soube identificar, a chamou.

-Gabi! Come here!

-Gabi!

-Gabi!

Ela forçou um sorriso na direção dos jornalistas e se afastou, sentindo sua visão se tornar cada vez mais turva. Ela tentou respirar fundo, realizando exercícios de respiração que a sua psicóloga orientou quando ela era mais nova, mas o seu peito parecia apertar ainda mais.

Gabriela, apesar de transmitir uma impressão de estabilidade amigável, sólida, extrovertida e feliz, possuía na verdade uma personalidade tímida e introspectiva. Numerosas razões explicavam isso, mas em primeiro lugar vinha sua completa incapacidade de comunicação. Ela navegava pelo mundo guiada apenas pelas luzes do impulso e do hábito, torcendo para que não encontrasse obstáculos tão difíceis no caminho. Então ali, numa situação onde ela nunca poderia ter previsto, ela derivava sem rumo, em direção ao acaso, de modo bizarro.

Para o observador distraído, ela era sempre a mesma pessoa que fazia piada com as suas amigas mais próximas, mas por trás dessa fachada ilusória, mero blefe, ocorriam mudanças notáveis, pavorosas até, transformações que sua família e suas amigas mais próximas percebiam e se preocupavam.

Ela sentiu uma mão grossa levando-a para perto dos jornalistas. Ela só conseguiu ver que era alguém da comissão técnica, não conseguindo distinguir quem era.

-Gabi, como você se sente após a partida de hoje? Principalmente após ser considerada uma das melhores jogadoras de toda a competição! – Um homem careca, com um microfone bem na sua cara perguntou em um inglês arrastado. Ela conseguia sentir o cheiro de cigarros e de colônia barata, o que a deixou mais enjoada ainda.

Sua visão agora estava preenchida pelos flashs de câmeras e olhares ansiosos, e ela não compreendia como seus pés ainda a seguravam no chão.

Gabriela sentia que oscilava tanto que as laterais do seu sapato estavam rasgando a pele abaixo do tornozelo. O ar estava abafado, as vozes estavam animadas, e um zumbido insistente soava no seu ouvido.

-E o que você acha, Gabi? – Outro jornalista perguntou. – Alguma expectativa para as Olímpiadas?

Ela balbuciou uma resposta quase inaudível, recebendo um olhar confuso de homem.

-A nossa Gabi foi essencial para esse jogo – O homem da comissão técnica disse, mudando de assunto quando percebeu a distração da jogadora.

Ela agora sentiu mãos macias nos seus ombros e outro par puxando-a para longe. Ali, ela conseguiu ver que Macrís e Carolana estavam tirando-a daquele caos, e por estar com a garganta fechada, não conseguiu vocalizar um agradecimento para as colegas de time.