Enterro

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(Narradora)


            A chuva escorre sobre o tecido escuro dos guarda-chuvas, diversas gotas pingam de seus ferrinhos, respingando um pouco nos sapatos da maioria. O cheiro de terra molhada sobe até as narinas daquelas pessoas presente, para alguns é um aroma gostoso de se sentir, já que lembram da época em que brincavam na chuva sem se importar com a molhadela.

            Todos seguram uma rosa branca em suas mãos, demonstrando a paz que desejam. Ellie observa a flor que a acompanha, uma gota que escorre direto do guarda-chuva em que se protege, cai sobre suas pétalas. A menina tenta focar toda a sua angústia naquela gota, a permitindo ir embora. O que não esperava, é que a partícula de água ficasse presa entre o estigma da planta, deixando ali a sua dor parada, sem chance de ir embora.

             Gonzalez, pai de Ellie, a acompanha no funeral de sua amiga, com o seu pessoal ficando responsável por segurar o objeto protetor da chuva sobre sua cabeça e a de sua filha.

             Em outro canto, Nessa consola Sarah, que se derrama em lágrimas sobre a flor branca. Não imaginava ficar tanto tempo longe da irmã, e quando finalmente volta, a perde pro maldito câncer. Sarah sempre foi forte em relação aos seus sentimentos, se mantendo firme em situações ruins, mas perder alguém que ama não é apenas uma situação ruim em que consegue lidar rapidamente.

              Clean compareceu ao enterro também, de gravata apertada e terno preto. As trocas de olhares entre ele e James são agonizantes, o desejo que ambos tem de se falar, abraçar, tocar um ao outro é enorme. James se sente mal vendo o Clean outra vez depois do que aconteceu, ser usado e traído pela pessoa que ele mais amou, o mata por dentro.

              Em um canto isolada de tudo e de todos, há uma menina, encapuzada e completamente de preto de acordo com a ocasião. Ela apenas observa de longe, sentindo um aperto em seu peito. Lágrimas escorrem de seus olhos escuros, molhando seus bochechas. As gotas de chuva percorrem todo o seu casaco de couro, já que a menina não segurava um objeto que a protegesse dos respingos, e enquanto isso, suas mãos permaneciam aquecidas em seus bolsos.

 
               Bryce e Layla dividiam um guarda-chuva, o menino foi apenas em apoio a sua meia irmã Ellie, já que nem conhecia direito a menina no caixão.

               Pela hipocrisia de muitos, Kio está presente no enterro da menina. Se sente culpado pelo acidente da cachoeira, e com razão, já que a empurrou mesmo que não quisesse. Algo conforta o menino, sabendo que a culpa de sua morte não foi por conta do acidente, e sim pela doença que muito antes Moli já possuía, isso "conforta" sua culpa de certo modo, mas a angústia de perder uma pessoa o consome também.

                Ellie ergueu sua cabeça por alguns segundos na procura de alguém, olhou toda a volta observando as feições tristes das pessoas, mas não achou quem queria. Vinnie não compareceu ao enterro, o que soa estranho, pois mesmo Moli sendo ex do loiro, ela faz parte de uma história de sua vida, ele deveria estar lá.

—Queridos irmãos e irmãs aqui presente nesta tarde agradável proporcionada a nós.

"Tarde agradável"???? Só se for pra ele! Quem em um pleno enterro diz que está a porra de uma tarde agradável?! Vai se fu-

—Ellie...

          Seus pensamentos gritantes são apenas ouvidos pelas vozes da sua cabeça, o ódio que sente pela fala do padre, conduz Ellie a fazer pressão com suas unhas na palma da mão, se machucando, deixando as formas arredondadas da unha marcada em sua pele. Seu pai percebe o que faz, por isso a chama, fazendo com que Ellie solte suas mãos e pare de se machucar.

365 dias na Ilha - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora