Até a Morte

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(Narradora)

             Em um bar isolado da cidade por volta das 2:20 da manhã, Nessa gasta todo o dinheiro de sua carteira com o barman do local. Diversos copos de cerveja são enchidos e esvaziados na mesma velocidade. A música continua mais alta que a voz de qualquer um daquele lugar, mas mesmo assim não conseguia ser mais alta que a voz de Sarah batucando em sua cabeça a todo minuto.

              A ideia era que as bebidas apagassem esses pensamentos, que esquecesse até seu nome, mas que seu objetivo de esquecê-la fosse cumprido. A cerveja é ingerida rapidamente, deixando sua garganta ardida cada vez mais. O líquido parece raspar nas paredes de seu corpo, o álcool fazia de tudo...menos levar a dor embora.

              O olhar preocupado do barman de ver a moça naquele estado é visível, mas não podia negar que o dinheiro dela era válido pra ele depois de uma noite longa de trabalho. O homem perde as contas de quantas vezes disse "tem certeza?" a cada bebida á mais que a menina lhe pede. Seu expediente já está quase chegando ao fim, ele ficaria responsável por fechar o local por ser o último turno da madrugada.

              Nessa permanece imóvel debruçada no balcão, acompanhada de seu copo vazio. Seu cabelo escuro cobria metade do seu rosto. Seu olhar, ainda aberto, se concentra em contar quantas linhas possui a madeira onde continua encostada. Nem percebeu o momento exato em que o homem do local desligou o som alto que tanto machucava seus tímpanos.

—Licença...estamos fechando, moça. — O homem dizia tranquilo, se aproximando calmamente para que não assustasse a menina. Ele aguardou alguns segundos pela resposta dela, mas a mesma não teve forças nem pra se levantar do banco.

—Posso...perguntar o que houve pra estar aqui até essa hora e beber tanto assim? — Disse simpático, com toda paciência do mundo e interessado no ocorrido, se sentou no banco ao lado de Nessa.

          A menina finalmente eleva a cabeça aos poucos, se mantendo firme no lugar. Seu braço permanecia no balcão, mas sua visão já se ajustava ao homem. Ele não lhe transmitia maldade e muito menos perigo, seu olhar a acalmava, expressando que só queria ouvi-la e nada mais.

           O barman parece ter a mesma idade de Nessa, talvez até novo demais pro trabalho que faz. Seu fios de cabelo úmido pelo serviço cansativo, sobressai em seu rosto, seus olhos possuem um castanho bem claro, como se fosse mel. A sensação boa que seu olhar transmite, é de um dia chuvoso com a companhia de um chocolate quente aliviando o gélido dos lábios.

—Me suicidei da maneira mais bonita... — Enquanto o olhar do menino transmite paz, o de Nessa claramente mostra cansaço e tristeza, como se o brilho estivesse ido embora.

—Como? — Ele a observa confuso, talvez a bebida desconcertou sua cabeça.

—Me apaixonei por alguém que eu não posso ter, e essa porra dói demais! — Nessa diz expressando a dor em suas palavras, pressionando a mão contra o peito.

—Ei! Você tem cara de quem é forte e que vai conseguir passar por isso. — Ele não encosta um dedo na menina, mas se aproxima de seu olhar, parece que eles dizem por si só.

—Se fosse verdade eu não estaria aqui. — Nessa respirou fundo, e ao adquirir todo o ar que pôde sentiu uma fisgada de leve em seu peito.

—Se não estivesse aqui, não ouviria minhas palavras, certas coisas acontecem pra nos deixarmos mais fortes! Acredite, eu sei bem disso. — Pela primeira vez daquela noite seu olhar expressou uma pitada de angústia. É estranho e ao mesmo tempo incrível o jeito que seus olhos mostram tudo que está sentindo.

—Vamos, já são 2:36! Passou do horário de fechar o estabelecimento. — O homem levanta do banco, e por ser um pouco alto seu assento, ele deposita um pequeno pulinho até atingir o chão.

365 dias na Ilha - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora