Capítulo 05: Uma Marca Profunda (1)

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A carta de visita de Karenin havia afirmado que ele chegaria às dez em ponto da manhã, o que deixava Anna ansiosa. Ela acordou mais cedo que o normal e fez uma série de exercícios no seu quarto aconchegante para se livrar da apreensão. Isso a fazia sentir-se muito melhor e a mantinha em forma.

Durante o café da manhã naquele dia, a tia de Anna, a Madame Tellier, falou sobre a visita do Sr. Karenin. Os detalhes compartilhados não foram nada além de mandá-la se vestir com roupa apropriada.

“Okay, tia”, disse Anna em afirmação.

Anna esperava que tivesse soado genuína e gentil. Os gêmeos levados piscaram para ela, e a mãe deles, a prima de Anna, direcionou-a um olhar de pena. Mas Anna não se importava.

Ela estava, de fato, grata pela indiferença que Madame Tellier lhe mostrava. Além do mais, ela realmente queria casar-se com esse cavalheiro que não era muito popular, ainda. Pessoas nascidas nesse círculo da sociedade em que a única perspectiva de uma vida melhor era o casamento, não tinham o direito de dizer “não”.

Anna voltou para seu quarto e pensou no que vestir. Embora o tempo ainda estivesse frio, ela se decidiu por um vestido que era de um tom mais leve de azul. Adicionou um xale branco, que ela amava, com bordados dourados ao longo das bordas. Pensou por um momento em estilizar o cabelo e escolheu prender uma camélia para manter seus cachos no lugar, deliberadamente deixando um fio de cabelo encaracolado solto perto da orelha.

Seus cílios não precisavam ser curvados. Já eram longos, grossos e curvos o bastante. Ela só precisava parecer bonita o suficiente para seduzir o cavalheiro que vinha visitar. Anna pensou que havia feito um bom trabalho e parabenizou seu reflexo no espelho.

Ao badalar das dez em ponto, o mordomo anunciou a chegada do Sr. Karenin.

Hmm, pensou Anna, muito pontual. À Anna ainda não era permitido tomar a iniciativa. Ela ainda não havia se casado, e não estava autorizada a permanecer na companhia de um cavalheiro sem a presença de uma dama de companhia. Contudo isso não significava que ela iria deixar passar a possibilidade de ter o primeiro vislumbre de seu noivo em potencial! Então ela se escondeu atrás da cortina da varanda que dava vista à sala de estar e tentou vê-lo.

Ela sabia que se alguém descobrisse, seria o seu funeral. Mas isso era assunto de Anna e não dos outros se ela quisesse, ao menos, ter certeza de que ela conhecia a pessoa com quem iria se casar!

O coração de Anna festejou quando finalmente o viu entrar na casa e caminhar para a sala de estar com suas longas e esguias pernas. Ela estava no peitoril da janela e não pôde evitar afastar mais as cortinas para dar uma boa olhada em Karenin. Não lhe importava se ela iria ser pega, não naquele momento.

“Ele me verá também?”, pensou Anna. Ela fantasiava sobre como ele miraria na direção dela, e a olhasse nos olhos. Como ele ficaria encantado com apenas um olhar.

Nada disso aconteceu. Suspiro. Sr. Karenin não sabia que sua noiva atrevida estava, naquele instante, olhando para ele através das cortinas da varanda. Ele se sentia nervoso ali, olhando para todo lugar. Mesmo que estivesse acostumado com a tempestade política na qual sempre se envolvia, esse era o primeiro pedido de casamento que iria fazer!

Anna voltou e se sentou em sua cama. Esperou e esperou. Já fazia quase vinte minutos quando a criada veio sob as ordens da tia para buscá-la.

Não se importando em dar um rápido retoque na aparência, ela pulou da cama — um pouco deselegante — e foi em direção à porta. Ela andava com passos graciosos e firmes, o que não era nada difícil. O servo abriu a porta para a sala de estar, e ela entrou.

Os olhos de todos estavam focados nela, todavia Anna não se deixava abalar por situações assim. Ela viveu boa parte de sua vida sendo escrutinada pelas mínimas falhas. Seu tutor costumava falar que o mundo inteiro era o seu palco, e que ela estava lá como a personagem principal. Ela precisava se preocupar apenas com o que importava para ela. Então ela ergueu o olhar e encontrou o do cavalheiro no meio do caminho. Ela sorriu levemente, olhou em direção à tia e sentou-se ao lado dela, graciosamente.

Madame Tellier estava, obviamente, satisfeita. Sua tia considerava o Sr. Karenin bom o suficiente para a família Oblonsky, embora um pouco inferior em termos de prestígio e linhagem. Ele também era bonito — muito bonito — não que isso importasse em casamentos. Todavia, um homem lindo casado naquela família significava menos escárnio e bela descendência em longo prazo.

Madame Tellier era implacável em face da honra. Ela preferia já estar morta ou morrer se quaisquer uns dos Oblonsky causasse até mesmo a menor das vergonhas para a família.

A Noble Marriage (Novel)Onde histórias criam vida. Descubra agora