A sala de jantar estava localizada no meio do trem. Os corredores não eram largos o suficiente para duas pessoas caminharem juntas lado a lado, então Karenin andou a sua frente. Alguns pais segurariam as mãos de seus filhos para que eles não corressem por aí.
Anna não era mais uma criança pequena, e Karenin, naturalmente, não era do tipo que voluntariamente seguraria a mão de alguém. Mas quando se levantou, ele disse:
“Me siga”.
A sensação era como mel, Anna pensou, o seguindo por trás.
Karenin era alto, e seus ombros eram bem largos, então quando andou na frente dela, Anna não conseguia ver tudo que estava em sua frente.
Em seu passado, algumas de suas experiências a deixariam ansiosa diante desse tipo de incerteza. Mas agora isso era diferente. Agora tinha alguém em que confiava andando na sua frente, a guiando através disso. Ela achou que essa incerteza já não era mais assustadora.
Eles eventualmente chegaram ao centro do trem. Anna tirou um momento para olhar o cenário. Naquele momento, não haviam ainda tantas pessoas na área de jantar. Deveriam ter chegado antes do horário de pico.
Anna sabia que Karenin não era alguém que aleatoriamente sugeriria que fossem comer. Talvez ele tenha crescido com o costume de comer em um determinado horário do dia.
“O que você quer comer?”, Karenin perguntou.
Não havia muitas opções em lugar como aquele, mas com a conduta de Karenin, uma refeição poderia ignorar esse fato.
Anna pediu algo que gostava, e cuidadosamente checou o que Karenin pediu, fazendo uma nota mental sobre isso. Apenas para uma referência futura.
E então, fizeram os pedidos e esperaram. A comida chegou em um tempo aceitável, e ambos se preparam para comer. Assim que Anna deu a primeira mordida na sua comida, sentiu o seu sorriso desaparecer por conta do sabor.
Não é apetitoso, ela pensou sobre isso. Olhando para Karenin, pode ver seus próprios pensamentos refletidos em sua expressão. Suas sobrancelhas estavam franzidas. De fato, ela não estava errada então. Contudo, gostaria de pensar que não era culpa de alguém. Eles não poderiam culpar os ingredientes, também não poderiam culpar o chefe e os cozinheiros.
Anna pensou que Karenin jogaria fora esse almoço insatisfatório como as outras pessoas ricas, mas não o fez.
Ele suavizou suas sobrancelhas, e continuou a cortar calmamente sua comida, elevando seu olhar para Anna, perguntando: “Isso não se adequa ao seu paladar?”.
Anna ficou repentinamente comovida.
Essa emoção surgiu por conta da humildade de Karenin. Como sua esposa, sentiu um tipo de orgulho. Havia um ditado: “Se a pessoa que amo fosse um criminoso, então talvez eu não saberia o que fazer. Mas se a pessoa que amo fosse uma pessoa de caráter nobre, certamente ficaria orgulhosa dele”.
“Não”, Anna disse, sorrindo enquanto continuava a comer.
Ela estava mentindo, claro. Esse almoço não lhe era saboroso, mas as emoções que sentia a compensaria por tudo. E assim não teve mais conversas sobre a comida, ou seu gosto insatisfatório. Apenas quando retornaram para o vagão após comer, Anna finalmente lhe admitiu a verdade.
“O que quer comer agora?”
Karenin não perguntou sobre outras coisas, focando em perguntas mais realistas.
“Não precisa, já estou cheia”, Anna disse alegremente.
Karenin assentiu, então disse: “Você sabe que não precisa se forçar a terminar de comer se não gostar, Anna”. Ele salientou. Estava preocupado por ela ter comido um prato cheio de comida que não a agradava.
“Mas você não desperdiçou a comida, Alexei”. Anna também salientou, usando um tom gentil para ressaltar esse fato, “Isso foi bastante nobre da sua parte”.
“O sabor da comida é importante, mas para mim, o uso prático da comida em si é o bastante para me satisfazer. Para mim, continuar a comer não mudaria nada, mas para você, quando teima em terminar de comer mesmo não gostando, então se tornará algo que irá afetar o seu humor”. O argumento sério de Karenin fez com que Anna fechasse seus olhos com risos saindo dela. “Por que está rindo?” Karenin franziu sua testa, confuso.
“Nada”. Os olhos dela brilhavam enquanto falava. “Seja como for, nada poderia mudar minha convicção de que o que ocorreu não foi algo ruim, mas sim bom”, ela cantarolou satisfeita.
“Se você pensa assim, então tudo bem”. Karenin assentiu novamente e então pegou os seus documentos. Internamente, Anna suspirou mais uma vez.
Anna não continuou assistindo Karenin durante a tarde. Ela pegou um livro e começou a ler. Por volta das três, um trabalhador do restaurante apareceu e bateu na porta do vagão deles.
Após a mesa limpa ser coberta com deliciosos comes e bebes, Karenin empurrou o bolo na direção de Anna.
Essa era a sua própria pequena forma de compensar pelo incidente no almoço. Ela aceitou-o agradecida, antes de se dar conta de que o próprio não havia pego sequer um pedaço.
“Você não quer?” Anna perguntou, suas covinhas emergindo de suas bochechas.
“Não”. Karenin falou brevemente. Ele levantou sua xícara de café preto, indicando que tinha tudo o que precisava. Anna deu uma olhada, então desviou.
“Preciso comer um pouco de bolo para superar o meu choque”. A amargura do café preto e a doçura do bolo formaram um contraste drástico em sua boca.
“Está bom?” Karenin perguntou após tomar um gole do café.
“Sim”. Anna assentiu sinceramente, “Não estou lhe enganando dessa vez”. Ela acrescentou improvisadamente enquanto ele olhava a fitava por um pouco mais de tempo.
Karenin assentiu em confirmação. Ele deveria ter julgado a sua afirmação como verdadeira. Em meio a fragrância do café preto e da dominadora doçura do creme, Anna decidiu que era hora de ser um pouco mais direta.
“Por que você não quer me tocar?” ela perguntou, quebrando o silêncio, e os movimentos de Karenin congelaram com o questionamento.
Ele colocou a xícara de volta no pires, levantando-se para se inclinar sobre a mesa e adentrar no espaço pessoal de Anna. Quando seus dedos suavemente a tocaram no rosto, ele parou e perguntou: “Posso?”
“Você pode.”
Os cílios de Anna agitaram-se rapidamente, mas sua voz estava bastante convicta. Ela queria isso.
E então, ele aproximou seu rosto, os dedos suavemente pegando em seu queixo e quebrando a distância entre seus lábios.
Esse beijo foi um pouco amargo, mas também foi um pouco doce. Anna salvou esse momento em seu coração, onde havia um lugar especialmente reservado para ele.
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A Noble Marriage (Novel)
RomanceAo contrário de outras mulheres de sua idade, Anna conseguiu escolher um marido para si mesma. O homem que ela escolheu era sério, rígido em sua moral, mas também honesto até demais. Essas características eram o que o tornavam querido para ela. "Nos...