Capítulo 31: Desentendimento Entre Jovens Amigos (2)

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No dia seguinte, depois que os homens saíram, Anna conversou com Maria enquanto Lúcia e André estudavam em silêncio no canto oposto da sala. Ela se viu olhando para as crianças repetidas vezes, mas não conseguia vê-las muito claramente à distância.

Por volta das dez horas, um adorável garotinho chegou. Anna percebeu que o garotinho de cabelos loiros brilhantes era amigo de André enquanto via Maria e Lúcia olhando para André tendo certeza que o mesmo não reagiria mal.

Maria o apresentou a Anna e sua suspeita foi confirmada.

“Anna, esse é Charles. Charles, esta é a Sra. Karenin, tia de André.”

Maria pediu licença e saiu da sala, deixando Anna com a criança.

“Bom dia, Sra. Karenin. Prazer em conhecê-la.” Charlie cumprimentou Anna muito educadamente.

Ele parecia um anjinho, vestindo um paletó elegante e sapatos de couro de bezerro, com cabelo penteado cuidadosamente para o lado. Ela pensou em como parecia diferente de André.

“Prazer em conhecê-lo, pequeno Charlie.” Anna disse com um sorriso.

O menino ergueu as sobrancelhas e disse em um tom inesperado e arrogante: “Embora eu já ache você e sua voz lindas, por favor, não me chame de ‘pequeno’, para que eu possa te amar mais.”

Anna ficou surpresa e riu livremente.

“Bem, posso ver por que você e André são bons amigos.”

“Somos melhores amigos, Sra. Karenin.” Charlie respondeu, mas seus olhos verdes ficaram tristes enquanto ele continuava: “Oh, se ele me perdoar, continuaremos sendo melhores amigos.”

“Você não pode reclamar na frente dos outros, como se fosse eu quem estivesse deixando seu melhor amigo para trás.”

Uma voz sarcástica veio do outro lado da sala. Anna e Charlie olharam para André, que havia colocado sua pena para baixo e estava olhando para o amigo.

“Não é culpa minha que meu pai foi transferido para Rússia. eu sou apenas uma criança. Não tenho escolha a não ser ir com eles, André.” Charlie corou ao explicar sua situação ao amigo mais uma vez.

“Mas você deveria ter sido o primeiro a me dizer!” André disse, sua voz ficando mais alta a cada palavra.

“Não sei o que dizer. Papai disse que estava apenas pensando na possibilidade. Eu não sabia que isso aconteceria tão rápido. Achei que ainda houvesse tempo para lhe contar.” Charlie disse, com seus braços balançando ao redor dele.

Anna observou os dois meninos gritarem um com o outro, separados por ela, o sofá e uma longa distância de cerca de 30 passos. Quando André pareceu prestes a explodir de descontentamento, ela se intrometeu.

“Meninos, vocês não podem sentar e lidar com isso com calma? Vocês estão se comportando como duas crianças de seis anos, para ser honesta, e um pouco ingênuos.” ela adicionou.

“Não somos ingênuos!”

Os meninos rejeitaram o comentário de Anna por unanimidade e então se encararam quando perceberam que haviam concordado em algo.

“Oh, tudo bem.” Anna riu: “Então lidem com isso como adultos. Vocês dois não podem sentar e conversar sobre isso?”

Depois de pensar um pouco, André foi até o meio da sala em silêncio, indicando que aceitava essa opção. Lúcia sorriu para Anna e saiu com a certeza de que agora as coisas iriam dar certo. Charlie apenas ficou enraizado em seu lugar, com um pouco de medo de caminhar em direção ao seu amigo zangado, pois a última vez que ele tinha feito isso ainda estava fresco em sua mente.

“Então vou deixar vocês dois conversando sobre isso.” Anna disse e, quando estava prestes a se levantar de sua cadeira, André protestou.

“Por favor, fique.” ele continuou, quando Anna apenas o olhou perplexa com seu pedido repentino. “Já conversamos antes, mas não foi muito bom.”

“Tudo bem, irei ficar.” Ela balançou a cabeça e disse a eles para se sentarem também.

Anna se sentia como Themis, a deusa da justiça na mitologia grega, sentada entre as crianças de cada lado dela. Esperou que ambos falassem, mas ficaram apenas em silêncio por um longo tempo. Ela limpou a garganta levemente e estava prestes a iniciar a conversa quando, felizmente, Charlie falou, pois não tinha ideia do que teria dito se ele não o tivesse feito primeiro.

“André, você tem que aceitar que não posso ficar aqui sem minha família. Não está sob meu controle.”

Anna ficou um pouco chocada com a declaração prática vinda da criança que havia fingido ser mais velha e a havia encantado. Ele parecia mais jovem que André, pois era o mais baixo dos dois, mas acabou sendo mais estável e sensato que seu amigo.

“Eu sei.” André respondeu. “Mas você tem que entender que é meu melhor amigo, e me enganou escondendo isso de mim por tanto tempo.”

“Prometo que nunca vou esconder nada de você novamente.” Charlie acenou com a cabeça seriamente e sorriu timidamente, “Sinto muito, André.”

Assim que o menino se desculpou, Anna viu André relaxar completamente.

“Eu também sinto muito. Sei que não é sua culpa e não deveria culpá-lo. Mas posso culpar Petersburgo por sua neve. Se não nevasse lá, eles não reclamariam e falariam sobre projetos de conservação de água ou iriam querer que pessoas da França os ajudassem, e então a França não decidiria enviar seu pai. De qualquer forma não posso culpar você.”

Andre quase exauriu sua raiva em uma respiração. Anna tentou conter o riso, mas desta vez não conseguiu e começou a rir. A risada dela desencadeou os dois, e logo os três estavam rindo alto, enquanto os meninos faziam uma careta boba um para o outro para garantir que finalmente se reconciliaram.

A Noble Marriage (Novel)Onde histórias criam vida. Descubra agora