Capítulo 21: Luzes do Porto (2)

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Parece que após ver como ela estava e sabendo que havia melhorado, seu marido iria retornar tarde esta noite. Ainda não se sabia que horas o trabalho dele terminaria.

Verdade seja dita, Anna podia sentir seu coração apertando após ler essa mensagem.

Quando era hora do jantar, Anna saiu para ter a sua refeição sozinha. Era bastante óbvio que esperar não iria ajudar ou mudar a situação. Mesmo que ela entendesse, Anna não conseguia evitar o seu desejo de que durante o jantar Karenin retornaria. Infelizmente, a realidade era que ele não retornou.

Depois do jantar, Anna foi caminhar pelo jardim para ajudar na sua digestão. Após sentir a brisa da noite acariciando sua pele, seu mau humor foi se dissipando. Ela recobrou sua energia e começou a criar novos planos. Se tivesse que passar diversas horas sozinha, teria que arranjar algumas atividades individuais para si.

No momento em que Anna estava prestes a listar a terceira atividade que ela poderia fazer, Karenin havia finalmente retornado.

Anna olhou para o relógio… 8 horas da noite.

A primeira coisa que Karenin fez foi verificar se Anna havia melhorado completamente. Apenas após confirmar isso que ele assentiu em alívio.

“Você já jantou?” Anna abaixou a caneta e andou em direção a Karenin. Ela pegou o grosso casaco que estava apoiado nos braços dele e pendurou-o apropriadamente perto da entrada.


“Eu já comi. O que você está fazendo?” Karenin perguntou. Como ele havia acabado de retornar e lá fora estava muito frio, ele queria manter uma distância de Anna por um momento.

“Fazendo planos para passear.” Anna respondeu.

Karenin andou até a mesa e deu uma olhada na lista. Ele direcionou um olhar sugestivo para ela, “Você está planejando passear sozinha?”

“Ao que parece, tendo em vista esses dois últimos dias, eu não tenho escolha senão passear sozinha.”


Karenin se sentiu desconfortável. Ele não tinha certeza se ela estava o culpando por conta disso. Anna podia sentir o seu desconforto e encerrou o tópico, “Está tudo bem.”

As sobrancelhas de Karenin franziram ainda mais. Em sua mente, ele rapidamente organizou as viagens restantes que deveria fazer. Por conta da sua secretária ter machucado a perna e estar incapacitada de se juntar a eles, a sua substituta estaria chegando a Paris amanhã de noite.

Karenin se virou e deu uma olhada nas horas antes de perguntar, “Você vai dormir agora?”

“Eu dormi demais durante esses dois dias.” Anna riu e respondeu suavemente, tentando dissolver a tensão.

“Vamos sair então. Ao menos nós podemos visitar um lugar juntos.” Karenin falou, e pegou o cronograma planejado de Anna.

“Deveríamos visitar o Canal Saint-Martin? É o mais próximo e considerando que haverá um jantar e evento de dança amanhã, e que seu corpo acabou de melhorar, seria melhor não ir tão longe.”

“Sim!” Anna exclamou e seus olhos se iluminaram com entusiasmo. Imediatamente, ela hesitou e disse, “Mas você deve estar bastante cansado por conta de hoje.”

“É apenas uma caminhada, Anna.” Karenin tranquilizou ela e pegou seu casaco novamente.

“Você deveria se vestir mais,” ele aconselhou. Sob os seus olhos de águia, Anna retirou do guarda-roupa um casaco grande. Isso parecia mais uma ordem do que uma sugestão. 

Por fim, Anna vestiu um longo vestido feito com penas de cisnes, coberta por um casaco de pele grosso, e usava um chapéu.

Um par de caros brincos de diamante estava sobreposto a gola do casaco de pele. Estava lindo, mas não muito exagerado ou roubando o centro das atenções.

“Você ainda poderia ter me dado algum tempo para me vestir.” Anna colocou suas luvas de couro. Era como se ela estivesse vestindo seu “equipamento completo de batalha”, a beleza dela era deslumbrante.

“Eu estou incerta se consigo andar 100 metros.” Anna estava tentada a fazer uma expressão engraçada, mas se segurou. Ela estava preocupada que se fizesse um gesto tão inapresentável, Karenin ficaria chocado e sem palavras.

“Claro que você consegue.” Karenin respondeu sem humor.

Anna encolheu os ombros e seguiu em frente. Ela não sabia que apesar dele não ter um bom senso de humor, ele possuía uma habilidade natural de apreciar a beleza.

Como eles não haviam informado com antecedência, dessa vez, não iriam na carruagem de Binoche. Em vez disso, eles chamaram uma das diversas carruagens a cavalo que haviam na entrada do hotel.

Após vinte minutos, eles chegaram ao seu destino.

Karenin desceu primeiro, antes de estender a mão para ajudar Anna a descer. Anna deixou-se levar e continuou segurando o braço dele. 

Anna acariciou o braço de Karenin e deu leves tapinhas em seguida. O que fez com que ele desse um olhar questionador a ela.

Anna riu e provocou, “Esse braço pertence a mim de agora em diante.”

Karenin ficou em silêncio por um tempo antes de dizer, “Tecnicamente, como esse braço está no meu corpo, ele pertence a mim.”

“Não se esqueça dos nossos votos de casamento.” Anna recordou.

“Eu não esqueceria.” Karenin respondeu, e seu tom ficou mais gentil.

Na realidade estava escuro demais para ver qualquer parte do famoso cenário do Canal Saint-Martin naquela hora, apesar da suave luz da lua. As redondezas não estavam completamente silenciosas; havia o som do vento suavemente assobiando entre as árvores, o gentil tamborilar enquanto a água do rio era agitada pelo vento, e também havia mais duas vozes.

Anna e Karenin caminharam ao longo do rio. “Você está desapontada? Já que não é possível ver nada claramente agora.” Karenin perguntou.

Os passos de Anna pararam enquanto ela sorria sobre a luz da lua, “Por que eu ficaria desapontada? Já é uma surpresa a partir do momento em que decidimos sair de casa.” Como se estivesse pensando em algo, Anna piscou alegremente e perguntou, “Você poderia cantar para mim aqui por favor ?”

Esse pedido realmente pegou Karenin de surpresa. Ele respondeu rigidamente, “Eu não sou um bom cantor.”

“Então eu irei cantar para você, mas terá que me retribuir depois.” Anna riu alegremente. Após Karenin assentir, ela segurou o seu braço novamente e eles continuaram a caminhada. Pouco tempo depois, o caminho estreito foi preenchido por uma encantadora voz.

A melodia da música era melódica; isso fez com que a lua aparenta-se estar dançando acima das folhas. Até mesmo Karenin que não entendia muito bem sobre música, podia sentir a sua beleza extraordinária.

Ao fim da canção, Karenin perguntou, “Como se chama essa música?”

“Luzes portuárias.” Anna respondeu antes de refutar-se apressadamente. Ela riu suavemente e disse, “Não, a música deveria se chamar As Luzes do Canal Saint-Martin em vez disso.”

“Você deve se lembrar de retribuir uma canção para mim depois.”

Após um tempo considerável, enquanto a brisa da noite soprava, acompanhada pela tranquila luz da lua, Anna escutou a promessa de Karenin.

“Certo.”

A Noble Marriage (Novel)Onde histórias criam vida. Descubra agora