Às dez em ponto, da manhã seguinte, a carta de visita de Karenin foi entregue na Mansão Oblonsky.
"Alexei Alexandrovich Karenin?"
A tia de Anna, a duquesa de Tellier, era uma mulher austera. Ela era ligeiramente curvilínea, e seu lindo rosto era sempre frio e duro. Anna pensou que sua frieza era diferente da de Karenin. A Duquesa de Tellier era como uma máquina, e sua função era a de manter a honra da família. Então, ela arranjou o casamento de Stiva com a filha mais velha do duque Shcherbatsky. Ainda estava planejando o casamento de Anna, porém agora algo parecia ter mudado. Enquanto houver uma garota ainda para casar na família, a resposta para qualquer cavalheiro respeitável que viesse visitar era clara e evidente.
"Anna, você conhece esse Sr. Karenin?"
A Duquesa Tellier conhecia Karenin. Embora ela fosse apenas uma viúva que perdera o marido ainda jovem, sempre conheceu todas as pessoas politicamente renomadas.
"Conversamos no baile ontem à noite." Anna respondeu nervosa.
Não havia nada mais que pudesse dizer. A senhora não era a pessoa mais fácil de lidar, e Anna não queria se envolver numa série de explicações.
A Duquesa pediu a um servo que trouxesse seu monóculo, e então leu cuidadosamente o convite. Meia hora depois, ela pediu ao servo que enviasse uma resposta à Karenin. Durante esse período, ela não falou com Anna, mesmo que as conversas fossem predominantemente dominadas por ela. Não era hábito da Duquesa discutir suas decisões com terceiros. E já que os pais de Anna e Stiva morreram cedo, era ela quem tomava todas as decisões, e não tinha intenção alguma de informar Stiva sobre o assunto, mas seus próprios neto e neta deixaram escapar.
"Tia Anna vai se casar!" As duas crianças travessas clamaram em voz alta, e as bochechas de Anna enrubeceram imediatamente.
"Parem de dizer tolices, crianças." Dolly disse. Tendo conseguido algumas reações dos adultos, as duas crianças perceberam que suas provocações surtiram efeito, então repetiram mais uma e outra vez.
"Calem a boca!" Stiva repreendeu as crianças em alta e estrondosa voz.
Isso cessou o clamor instantaneamente, mas o silêncio restaurado durou apenas pouquíssimos instantes, dado que as crianças começaram a chorar logo depois. Correram para suas mães uma a uma para reclamar e se esconderem atrás de suas saias.
Stiva ignorou as duas crianças e olhou para Anna. "O que diabos está acontecendo?" Ele não estava irado com ela, mas ainda estava chateado.
"Eu não sei, talvez você deva perguntar à nossa tia." Disse ela suavemente.
"É claro, vou perguntar." Stiva murmurou, e então foi direto ao escritório, deixando Dolly e Anna sozinhas.
Dolly, sendo mulher, foi mais cuidadosa em abordar Anna. "Se eu não estiver enganada, talvez o Sr. Karenin venha para pedi-la em casamento."
"Talvez." Anna disse deliberadamente e reservadamente.
Dolly sabia que não deveria perguntar, mas não pôde evitar e disse: "Se é verdade, o que acha disso?"
"Não será tão ruim. Ele é um raro cavalheiro."
Ao ouvir a resposta de Anna, Dolly nada mais disse. Ela não analisou se as palavras de Anna vieram do coração ou eram relutantes. Afinal, julgando o histórico do casal, esse era um casamento adequado. Era só a diferença de quatorze anos de idade entre Anna e o cavalheiro que a faziam sentir-se melhor acerca do próprio casamento.
Stiva saiu do escritório pouco tempo depois, parecendo um pouco chateado. Talvez ele tenha sido repreendido. Ele olhou para sua irmãzinha.
Anna deu um passo adiante e sorriu: "Não faça careta, Stiva."
"Anna, você está feliz com isso?" Ele disse incrédulo. Sua preocupação com a irmã crescendo a cada segundo.
"Stiva!" Dolly sussurrou, tentando impedir que seu marido falasse tão francamente.
Uma vez que a mulher estivesse casada, não importava se o marido era bom ou mau, ela sempre tentaria protegê-lo, e até mesmo ignoraria o fato de que ele talvez não fosse bom. Nesse contexto, Dolly era um pouco diferente. Ela repreenderia Stiva se necessário.
"Vamos esperar até amanhã, tudo bem, Stiva?" Anna disse sinceramente.
Stiva nunca conseguia retrucar a sua irmã, então ele podia apenas queixar-se em silêncio.
***
Trabalhando a noite inteira sobre sua mesa, o homem pressionou a mão direita contra o papel. Seus olhos semicerrados olharam para o pedaço de pergaminho e, chegando ao final, ele sorriu. Tomou em mãos a caneta e voltou novamente a escrever. O som da caneta riscando o papel parecia preenchido de embriaguez, nesta noite, tudo se tornou mais intoxicante...
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A Noble Marriage (Novel)
RomansaAo contrário de outras mulheres de sua idade, Anna conseguiu escolher um marido para si mesma. O homem que ela escolheu era sério, rígido em sua moral, mas também honesto até demais. Essas características eram o que o tornavam querido para ela. "Nos...