[02] Uma noite em Hogsmeade I

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Uma semana depois, Draco não havia esquecido nem um pouco sua conversa com Pansy. Ele refletia sobre isso enquanto caminhava pelos corredores; ele ouvia isso murmurado pelas vozes de seus professores quando se distraía; ele estaria a um segundo de dormir quando o olhar desafiador de Pansy ressurgisse em sua mente e ele daria um pulo. Não, ele não tinha esquecido, porque nunca foi da natureza de Draco abrir mão das coisas - principalmente quando se tratava de Harry Potter.

Ele não tinha esquecido, mas se convenceu de que talvez tudo ficaria bem - que a própria Pansy poderia, em meio ao turbilhão de sua vida, não ter pensado duas vezes. Aquela sexta-feira seria tão tranquila como sempre, e ele se retiraria para a sala comunal da Sonserina ao anoitecer para não ouvir as risadas animadas de todos os alunos que pegariam o trem noturno para Hogsmeade. Sem distrações, sem fantasias patéticas: ele ficaria em casa e terminaria o dever de casa de Transfiguração antes de ir para a cama.

Ele não pensaria em Potter. Ele não iria para Hogsmeade. Draco pertencia ao fundo desbotado e modesto, uma laje de pedra que compunha a paisagem.

Isso é o que ele pensou. Isso é o que ele esperava. E Pansy, a atrevida cruel, não se preocupou em corrigi-lo - ou em dar-lhe qualquer porra de impressão infinitesimal de que ela se lembrava da conversa deles - até que o sol começou a se pôr, a escola ficou calma e deserta, e Draco tinha acabado de se retirar para a sala comunal.

— O que você vai vestir? — A voz de Pansy o assustou. Ela estava recostada em uma das poltronas perto da lareira, vestida com um vestido preto curto. Seus olhos eram delineados de preto brilhante, um brilho verde sobre as pálpebras; suas pernas nuas brilhavam em um tom laranja quente por causa das chamas.

Perfeitamente vestida para sair à noite. Draco estava vestido com suas antigas vestes escolares, todas amarrotadas de quando adormeceu enquanto lia na estufa.

— O que você quer dizer? — ele fingiu ignorância, embora seu rosto estivesse tenso e ele permanecesse rígido onde sua mão ainda descansava na maçaneta.

Pansy lançou-lhe um olhar claro de reprovação.

— Aquela camisa de seda preta, eu acho. Você fica muito elegante com ele.

Draco suspirou, ainda enraizado em seu lugar.

— Suas pernas vão congelar.

— Sim, mas elas parecem fantásticas — Pansy cantarolou sem compromisso, — agora se apresse, Draco. É terrivelmente chato esperar por você.

Assim, Draco acabou apertado naquela maldita camiseta, sufocando dentro de um jeans skinny preto, com o cabelo platinado penteado para trás, um longo casaco cinza passando pelos joelhos, e ele estava bonito, ele sabia que estava, mas não importava, porque ninguém notaria, ou talvez ninguém notasse como se nota uma flor agradável, e ninguém desviaria o olhar rapidamente - porque como Malfoy poderia manter o interesse de ninguém? - e esse ninguém, em vez disso, daria atenção a algum imbecil sem originalidade de um Grifinória com as roupas mais comuns dos trouxas, porque, pelo que Draco observara, esse era o estilo preferido desse ninguém, e não o monocromático que Pansy sugerira que ele usasse.

Além disso, nenhuma elegância poderia desviar a atenção da erupção vermelha em seu pescoço, do desconforto absoluto de seu comportamento enquanto estava sentado no vagão de trás, com a mão de Pansy firme em seu antebraço, tremendo a cada solavanco do trem enquanto ele passava pelos trilhos e Draco tentava não pensar no fato de que Potter estava sentado a alguns vagões de distância.

Ele estava indo para Hogsmeade. Ele estava indo para Hogsmeade ao mesmo tempo que Harry. Ele estava indo falar com ele.

— Nós vamos beber uma quantidade extraordinária de álcool hoje à noite — ele murmurou levemente.

Nyctophilia | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora