[19] Sonserinos e Fantasmas II

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As sinfonias se misturavam sem pausa, longos crescendos e o zumbido das cordas em seus ouvidos embalando-os em um ritmo sem palavras. Foi Harry quem, depois de um tempo, quebrou o estranho feitiço com uma leve queixa de dor nos pés. Eles caminharam até a beira da pista de dança, os dedos ainda entrelaçados. Luna os seguiu.

— Harry! Harry — ela chamou. — Aqui, você poderia segurar minha bolsa, por favor? Ela continua escorregando — ela esboçou um sorriso de desculpas, uma coisinha emocionada demais para ser devidamente humilde, entregou a Harry a pequena bolsa e deslizou de volta para a confusão de fantasmas com agilidade em seus passos, um farfalhar de vermelho no ritmo da música.

— Você realmente não suspeitava que aquelas duas estivessem juntas? — Harry perguntou, olhando para a bolsinha vermelha em suas mãos.

— Absolutamente não. — Draco suspirou. — Pansy insinuou que ela gostava de alguém, mas ela não me disse quem era. Elas formam um casal estranho, não?

Harry bufou.

— Não acho que temos permissão para julgar os outros. Basta olhar para nós.

— É justo. — Draco sorriu. Ele olhou para Luna e Pansy na pista de dança. Luna estava girando sob o braço de Pansy, cabelos platinados chicoteando o ar, lábios vermelhos brilhantes divididos em um sorriso animado. Harry alguma vez pareceu tão feliz quando estava com ele? Seus próprios lábios se esticaram tanto, como se ele não pudesse controlá-los, como se sua alegria ignorasse sua mente, então ele não poderia escondê-la?

Talvez sim, e Draco não percebeu - os lábios de Harry, apesar de todo o seu tom rosado anormal, como se ele os mordesse e mastigasse o tempo todo, como se o sangue estivesse borbulhando logo abaixo da pele, não estavam nem perto do vermelho neon do batom de Luna. Sim, se os lábios de Harry fossem tão vermelhos, então todos os seus sorrisos brilhariam mais, sempre indiscretos, assim como o brilho da fênix, que tinha feito seus olhos saltarem tão impossivelmente vulneráveis, e Draco poderia catalogá-los todos em sua mente, memorizá-los, esforçar-se para torná-los tão frequentes que seu rosto doesse.

— Harry?

— Hum?

— Você poderia me entregar a bolsa de Luna?

Harry ergueu uma sobrancelha, seus dedos apertaram a pequena coisa contra seu peito, instintivamente protetor. Draco não podia culpá-lo - era uma coisa muito estranha de se perguntar.

— Por que diabos você iria querer a bolsa dela?

Draco cantarolou.

— Ela deve manter o batom aí.

— Tudo bem. — Harry pronunciou a palavra arrastadamente, olhando para Draco como se ele fosse uma criatura estranha e incompreensível. — E por que diabos você quer o batom da Luna?

A sinfonia parou ao fim, os murmúrios dos fantasmas agora audíveis sobre a afinação silenciosa de alguns instrumentos. Isso fez com que as palavras de Draco parecessem muito altas quando ele respondeu:

— Você ficaria bem nele.

Os olhos de Harry ficaram muito redondos. A música recomeçou - com ela ele riu.

— Você está louco.

— Por que?

— É o batom da Luna!

Draco encolheu os ombros, olhando para onde os dedos de Harry relaxaram um pouco ao redor da pequena bolsa vermelha.

— Você ainda ficaria bem nele.

— Draco.

— Harry.

E Harry parecia inseguro, beirando o lado dele que amava a emoção de um desafio, a imprevisibilidade dele. Ah, e ele tinha que dizer sim, ele tinha que dizer, pois Draco nunca seria capaz de se livrar da imagem dele com os lábios manchados de vermelho de qualquer maneira, e seria muito melhor para seu foco no dia a dia se ele pudesse realmente ver isso em vez de sonhar acordado o tempo todo. As fantasias sempre demoravam muito para darem certo.

Nyctophilia | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora