[20] Eternidade sobre o Chá

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Na manhã seguinte, em meio à agitação de estudantes preguiçosos e sonolentos aproveitando o fim de semana para reabastecer seus materiais escolares na Loja de Penas de Scrivenshaft, Draco e Harry pegaram o trem para Hogsmeade. A neve balançava no ar, quase transparente com a luz clara da manhã, o barulho suave enchia as ruas, Madame Puddifoot descansava em seu rosa excêntrico e satisfeito, o edifício equivalente a um sorriso de Cheshire. Draco sempre se sentiu incomodado com isso, principalmente pela felicidade desagradável que isso endossava, todos pombinhos compartilhando xícaras de chá e doces em formato de coração. Agora, como um pombinho, ele não sentia nada além de uma sensação de orgulho quando entrou pela porta.

Eles se sentaram perto da janela, pediram um pouco de camomila, se inclinaram sobre a mesa, e Draco pôde olhar nos olhos de Harry - o verde mais opaco do início da manhã, mais lento, grudado em tudo - e saber tão simplesmente que nenhum outro casal naquele lugar, não importando seus sorrisos tímidos, dedos entrelaçados e pretensões de amor, eram tão fortes quanto os dois naquele momento. Não era nem egoísmo dizer não, mas um fato extraordinário: eles eram o cúmulo do amor.

— Devíamos começar.

Harry parou de observar a neve escassa e olhou para ele. Ele parecia muito preguiçosamente satisfeito.

Você deveria começar.

Draco bufou.

— Há uma ordem para isso, não é?

— Bem, você confessou primeiro. Durante o sexo, de todas as vezes — o sorriso de Harry era perverso. — Então, sim, você é o primeiro agora também.

— Tudo bem. — Draco cantarolou. Ele recostou-se na cadeira - para compensar a distância, estendeu a mão, que Harry prontamente pegou. Era uma intimidade muito simples, e esse fato o deixou tonto. — O que você quer saber?

Harry estreitou os olhos um pouco.

— Estamos sendo totalmente honestos, para que você saiba. E não há como recusar perguntas.

— Sim, querido. — Draco falou lentamente. — Cada detalhe embaraçoso. Certamente, satisfaça sua curiosidade.

Era uma coisa cara de se dizer - antinatural, o sempre cauteloso Lucius Malfoy estremeceria só de pensar. O próprio Draco sentiu o início desse desejo, o instinto de reter, sem sentido e exclusivamente por hábito. Mas morreu. O sorriso de Harry estava tão animado, como ele poderia se arrepender?

— Quando você soube que me amava?

Draco suspirou. Era terrivelmente fácil voltar à memória para aquele primeiro dia em que ele vira Harry - vira Potter -, todos os olhos ardentes, o charme relutante, o desconforto cativante. Ver sua própria mão espreitando para fora da capa, a de Harry permanecendo em punho ao seu lado. Sentir aquele puxão infantil, depois incompreensível, em seu coração... não era bem amor, mas o tipo de coisa que não tinha como precedê-lo.

— Você parecia ridículo em suas vestes escolares, mas não parecia saber disso. Ou se importava, eu acho. Você não se importava, e eu achava isso engraçado.

O chá veio em duas canecas azuis claras, com vapor carregado de uma fragrância quente de ervas. Foi uma boa distração: Os olhos de Harry ficaram muito arregalados por trás dos óculos, os lábios se contorceram em um sorriso que não chegou a se concretizar.

— Você quer dizer... a primeira vez que você me viu com as vestes da escola?

— Sim.

— Na porra do primeiro ano?

— Sim. — Draco repetiu. Harry deu uma risada incrédula. Isso fez Draco se mexer na cadeira. — Você já sabia que eu nunca te odiei e que te achei lindo. Quando você achou que comecei a gostar de você?

Nyctophilia | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora