[17] Uma manhã de arrependimento

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No momento em que Draco acordou, ele estava livre de todas as coisas físicas, e nele reinava uma doce lembrança de coisas gentis.

Então veio seu corpo e com ele o tormento.

— Draco.

— Hum?

— Trouxe um chá para você.

— Cai fora — Draco murmurou, semicerrando os olhos tonto para o borrão que era Pansy sentada ao lado de sua cama. — Coloque-o sobre a mesa, por favor? Obrigado.

A risada de Pansy foi injustamente nivelada para alguém que havia bebido tanto na noite anterior. Talvez ela não tivesse bebido. Não, ela provavelmente não tinha feito isso - como poderia, quando Draco tinha bebido todo o álcool de toda a maldita vila?

— Você deveria ter começado com isso, querido. Estar de ressaca não é desculpa para grosseria.

— Não é? — Draco bufou, ficando meio sentado contra a cabeceira da cama. Sua cabeça latejava, contraindo, sufocando como se seu crânio tivesse encolhido muito pouco para seu cérebro. Até a luz fraca das velas espalhadas pelo dormitório machucava seus olhos.

— Comigo, nada é. Você vai beber antes que esfrie?

— Acho que não posso — ele suspirou.

Não, era preciso muita coisa para levar a xícara aos lábios. Como ele era lamentável. Então, de ressaca, ele saiu mais cedo: quanto tempo mais os outros ficaram - Harry ficou - dançando e bebendo em Hogsmeade? Eles deveriam ter passado uma noite feliz sem ele. Honestamente, era simplesmente indecente que eles pudessem beber tanto, que pudessem beber aquele absinto vil e não cair para o lado.

Ele se mexeu novamente, coçando os olhos com as costas da mão para ter uma visão mais clara de Pansy. Ela parecia bem descansada.

— Quando você saiu?

— Quando eu fui sai?

— Quando Harry saiu?

Pansy sorriu. A mão dela estava no joelho dele, sobre as cobertas, uma pressão suave lembrando-lhe pernas incômodas e entranhas doentias, todas retorcidas e secas como desertos. Não, ele definitivamente não beberia o chá. Ele não era nada além de uma mente murcha no momento.

— Todos nós partimos depois que o sol nasceu. Parece muito lindo visto da Casa dos Gritos, você sabia? Uma pena que você não tenha visto.

Draco bufou. Ele não se importou muito, na verdade. Ele viu o apelo das noites fora, claro. O álcool, o frenesi, a espontaneidade de tudo: atraente, viciante, e isso o conquistou, Harry. Mas ele se arrastou para o silêncio de sua cama enquanto a lua ainda estava alta e gostou disso também. Preferiu, ele pensou. Ele teria gostado ainda mais se Harry estivesse deitado com ele.

— Ele estava bem, então?

— Dançou muito. Riu muito. — Pansy revirou os olhos. — Bebeu muito também. Ainda assim, lidei com isso melhor do que você.

— Você veio aqui para me provocar?

Pansy cantarolou.

— E para lhe dar chá.

Draco sorriu com isso, olhando para a caneca fumegante na mesa de cabeceira. Talvez, quando recuperasse o sentido do corpo, ele se aventurasse a bebê-lo.

— Você pegou no Salão Principal?

— De onde mais eu poderia conseguir isso? — Pansy levantou uma sobrancelha. Ela parecia expectante, como se algo interessante pudesse realmente sair dos lábios de Draco, e Draco sabia que iria decepcioná-la. Havia pouca coisa em sua mente além de Harry, tamanha era a maldição do amor, e suas palavras não podiam refletir mais nada.

Nyctophilia | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora