— É tão cavalheiresco não beijar e contar?
Pansy olhou para ele do outro lado da mesa, onde ela estava passando manteiga em uma torrada.
— Você sabe que é. Diga-me de qualquer maneira.
Draco sorriu. Ele estava sorrindo desde que acordou, uma coisinha paradoxal entre a saciedade e a saudade, tão líquido e atordoado quanto a dor agradável em seus ossos. Ele deveria parecer um tolo, ele considerou. Draco Malfoy, o príncipe caído dos Comensais da Morte – por que ele poderia sorrir? Ah, mas ele se sentia leve, delirantemente com o persistente gotejamento de endorfinas da noite anterior, as hipnotizantes lembranças do calor e da pele, o pensamento emocionante de que, no final da aula de Herbologia, ele veria Harry novamente.
— Algo aconteceu. Com ele.
— Obviamente com ele. — Pansy revirou os olhos. — Caso contrário, você não pareceria tão satisfeito. Você transou com ele?
— Não.
— Bem, não acho que ele seja do tipo que fode com você.
Draco bufou um pedaço de clementina fresca.
— Ainda não chegamos lá.
— Ainda? — Pansy arqueou uma sobrancelha. — Você está muito otimista hoje, querido. Você tem uma aparência estranha.
E a maneira como ela olhou para ele confirmou isso – como se ele tivesse sido abalado por alguma doença, atingido por algum sintoma preocupante que só ela pudesse ver. Como se algo terrível pudesse acontecer se ela não o curasse logo. Draco entendeu: sempre foi difícil ver o amigo tomado pela esperança.
Ele encolheu os ombros.
— Eu sou realista. Acontece que a realidade tem sido boa ultimamente — disse ele – mas podia ouvir a leveza melancólica em seu tom. Não havia mais nada de realista nele: ele era todo anéis elegantes e capelas de casamento, maravilhas distantes de domesticidade, beijos casuais e promessas serenas de eternidade.
Ele estava com medo por si mesmo, realmente. Um pouco de pessimismo sempre prendeu a alma.
Pansy o poupou de seus pensamentos com um chamado brusco de seu nome.
— Você planeja me contar mais alguma coisa ou vai ficar aí sentado, desejando?
— Você sabe que não gosto de detalhes.
Pansy suspirou, tomando um gole de chá.
— Você pode ser tão dolorosamente chato, querido. Pelo menos me diga o que você fez, se não fodeu.
Draco realmente tentou não sorrir. Ele não queria parecer obsceno, queria preservar o calor e a doçura intermitente da noite - mas não tinha sido intermitente, não é? Durante toda a noite havia algo açucarado no ar. Ternura e uma noção devotada de fragilidade. Ele se agarraria a isso na inocência da manhã, e as visões mais sujas - Harry choramingando enquanto sacudia seus pequenos mamilos, a maneira como seus lábios brilhavam com seu gozo, a mancha úmida desesperada em sua cueca - seriam escavadas na privacidade de sua cama de dossel.
Ainda assim, não havia como fazer com que aquilo parecesse inocente. E, com esse pensamento, como Draco poderia não sorrir?
— Ele me chupou.
— Ele foi bom?
— Ele foi perfeito.
Pansy bufou, os olhos felinos brilhando de humor.
— Você realmente é chato. O amor tirou toda a diversão de você — disse ela, com o sorriso desaparecendo atrás da caneca enquanto tomava outro gole de chá. Quando terminou, ela bateu as unhas uma vez na cerâmica e perguntou, um pouco mais calma, mais interessada do que divertida: — Você acha que irá para Hogsmeade com eles de novo?
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Nyctophilia | Drarry
FanfictionLink: https://archiveofourown.org/works/24197854/chapters/58286104 Todos estão de volta para o oitavo ano, e Harry e seus amigos parecem determinados a passar o último ano na escola correndo à noite, drogados com café, álcool e doces da Honeydukes...