62| Lilium

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A boca do justo
Meditará sobre a sabedoria
E a sua língua
Falará a descoberta

Bem-aventurado homem que
Suporta a tentação
Uma vez que quando aprovado
Receberá a coroa da vida

- Lilium, Elfen Lied

SORA

"Não posso fazer isso... não é assim que funciona a lei das coisas Sora. Ele já está morto." – disse Grendel, enquanto tentava não olhar em meus olhos.

"Olhe para mim! Você sabe que pode fazer isso..."

"Você também poderia, mas não fez. O que aconteceu com o treinamento que eu te dei?" – ele virou-se de costas.

"Não mude de assunto! Por favor me ajude. Você é minha única esperança, não tive tempo para tentar salvá-los..." – a dor da perda estava me deixando tonta – "Eu sei que você pode fazer isso. Por mim."

Abracei Grendel e chorei em seu peito. Minhas esperanças estavam perdidas. Tentei recordar de Lieff em nossos melhores tempos. Fechei os olhos, forçando-me a lembrar de seu sorriso torto, e não de seu olhar vazio. Em minha mente, revivi sua risada provocadora. Não os sons gorgolejantes, em busca de ar, emitidos pouco antes de morrer. Abracei Grendel com mais força ao recordar do calor do toque de Lieff, os socos que ele me dava no ombro. E seu beijo. Todas aquelas lembranças agora pareciam distantes, ele estava distante de mim. Estava morto. Mordi o lábio para parar de chorar, mas as lágrimas jorravam sem o meu consentimento. Me afastei de Grendel e sentei em sua cama. O ódio veio quando percebi que a culpa era toda minha, fui fraca e perdi duas pessoas importantes para mim. As lembranças de Charlie também me atacaram, fui arrebatada por uma onda de sofrimentos.

"A culpa é toda minha." – guinchei, cobrindo o rosto com as mãos.

"Escute Sora, nada disso foi culpa sua. Entenda que pessoas morrem todos os dias e que essa dor vai passar..."

"Me deixe em paz Grendel." – ele só estava piorando as coisas.

"Eu quero ajudá-la, nunca suportei te ver chorando..."

"Então me ajude de verdade. Não preciso de abraços e muito menos de palavras reconfortantes... eu quero meus amigos de volta."

"Não posso fazer isso..."

"Você salvou meu gatinho quando ele morreu, lembra de Haru? Ele está vivo até hoje por sua causa. Lembro como se fosse hoje, o nosso primeiro encontro. Você apareceu e salvou ele... então salve meus amigos, por favor."

Ele me olhou confuso e passou a mão nos cabelos negros. Olhei para meus próprios pés, sabendo que não conseguiria encará-lo. Estava pedindo algo grande demais para ele, sabia que haveria consequências se ele aceitasse fazer aquilo.

"Fiz isso somente uma vez, faz muito tempo." – murmurou.

"Quem salvou?" – indaguei, mas estava apenas jogando conversa fora. Estava detonada.

"Shaya. No dia de nosso casamento, quando ela foi assassinada por Solária... não posso salvar os dois."

Olhei confusa para ele. Shaya? Casados?

"Escolha um, e rápido!" - ele me puxou da cama e me sacudiu com violência.

Me senti horrível. Teria de escolher somente um. Aquilo foi pior do que a dor da perda, era como se eu fosse o Trono. A vida de um deles dependia de mim. Pensei em Charlie. Pensei em Lieff. Todos os momentos bons que passamos juntos ainda não estavam totalmente escritos.

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