SOMBRIO

52| Donzela Errante

- Não mamãe! – implorou Shaya, pela centésima vez.

Ignis optou por ignorar a donzela errante, foi assim que a filha ficou conhecida após o incidente na grande celebração ao príncipe nórdico. Porém, para o desespero de Shaya, sua pequena travessura apenas serviu para fazer o príncipe decidir mudar-se para Blizzard. Ao saberem da novidade, todo o povoado pareceu acordar para a vida. Suas casas tornaram-se mais convidativas, principalmente onde moravam donzelas desesperadas por um príncipe, e o fluxo do comércio tornou-se mais intenso com a chegada dos nórdicos. A donzela errante estava sobre um pequeno banco de madeira, seus pés já doíam de tanto tentar equilibrar-se diante do enorme espelho ornamentado em ouro. A costureira trabalhava horas a fio no corpo da donzela, o vestido estava quase pronto. O casamento aproximava-se.

Ela pensou com amargura no que fizera, acabou concluindo que era tola por ter feito aquilo. A imagem de Micah lhe veio à cabeça, ficou profundamente mais irritada. Aquele idiota! Esqueceu de pegar nossas máscaras. Culpa dele! Se Will não tivesse visto meu rosto eu não estaria tão ferrada. Ora só, ele mesmo deveria estar em meu lugar, ele deveria casar com o nórdico.

- Ai! – pigarreou, a costureira voltou a alfinetar seu corpo. – Pare com isso Sowi!

- Então fique quieta, não estou te furando porque quero. Você está muito nervosa e acaba me atrapalhando – Sowi continuou a costurar o vestido dourado.

Ela continuou quieta e aguardou Sowi tecer o vestido. Quando finalmente se viu livre da costureira, a donzela vestiu sua calça de tecido grosso e uma tira de couro em volta dos seios, aquilo definitivamente não era adequado para uma moça. Ignis viu como a filha havia se vestido e tentou agarrá-la mais uma vez para colocar uma roupa adequada, mas Shaya foi mais rápida e correu para fora do enorme quarto e acabou esbarrando em sua irmã. Solária resmungou algo e voltou a seguir para o quarto. Shaya correu mais depressa para o outro lado do castelo, onde ficava a cozinha e o arsenal de armas do seu clã. Vou me tornar um rei, sim, um rei! Não quero que meu povo me veja como uma donzela frágil, pornão tenho nada disso. Não vou casar com aquele nórdico, nem morta. Isso só me faria parecer mais uma donzela nas mãos de um homem. A errante percorreu o pátio central e passou para a outra torre do castelo, pensou em ir à casa do amigo, mas tinha que resolver o seu maior problema, o casamento. Como se não bastasse isso, Solária não falava com ela há dias.

Chegando ao terceiro corredor, onde ficava seu quarto, ela respirou aliviada ao ver que ninguém a incomodaria ali. Faltava apenas atravessar o corredor e depois estaria em sua cama confortável. A donzela prendeu a respiração quando Will apareceu do outro lado do corredor e sorriu para ela. Uma bata de couro pendia de seus ombros até a cintura, presa ao cinto de ferro na calça de tecido grosso. O príncipe parecia estar armado dos pés à cabeça, em seu cinto pendia um machado de aparência intimidadora, e em suas costas estava uma longa espada guardada na bainha. Shaya engoliu seco e olhou para o elmo dele, que continha dois enormes chifres enrolados. Seu eu correr agora posso chegar primeiro e entrar no quarto. Ponderou um pouco, analisou a situação, iria esperar que nórdico desse o primeiro passo.

Quando Will deu o primeiro passo, a donzela já estava correndo velozmente para a porta de seu quarto. O príncipe percebeu suas intenções e também correu para tentar alcança-la, eles não haviam trocado uma palavra desde o incidente, precisavam muito conversar. Shaya conseguiu abrir a porta e fechá-la atrás de si antes que o príncipe conseguisse seu objetivo. Ela fechou a porta com um grande estardalhaço e desceu a tranca. Will bateu insistentemente na porta, mas Shaya não fez menção de abrir.

- Ei, precisamos conversar – ele falou com calma.

- Vá embora – resmungou.

- Você nem ao menos sabe o meu nome direito, vamos nos casar...