A mordida de olhos verdes ainda ardia em meu braço, mas o sangue já estava coagulado, formando pequenas camadas negras acima da pele ferida. Lili bateu a porta de seu aposento em minha cara, me mandando ir embora. Mas eu sabia que algo estava errado porque senti palpitações nervosas que vinham dela. Desde que provei seu sangue no ataque no quarto, conseguia sentir como Lili estava. Se estava bem ou mal, com raiva ou nervosa e feliz ou triste. Ela não sabia, pois decidi não contar. Aquilo poderia assustá-la e eu não queria que ela se afastasse de mim, pois era a única que havia me ajudado desde o primeiro instante.
Depois de persistir bastante, ela cedeu, me deixando entrar e perguntando se estava sozinho. Senti fortes ondas de raiva e tristeza, mas ela aparentava estar bem e me exibiu seu melhor sorriso. Sentei no parapeito da janela e esperei que ela saísse da sala de banho. Ondas de raiva emanavam lá fora, senti olhos verdes passando pelo aposento, caminhado em direção ao seu lugar. Olhei para meu braço e fiquei surpreso ao ver que não tinha mais feridas ali, mas senti o local totalmente dormente e gelado. Aos poucos comecei a descobrir as vantagens de se tornar a aberração que eu era.
Pensei em contar a Lili sobre a Besta que vivia dentro de mim, mas fiquei com medo que ela se afastasse. A Besta disse que ela era a filha do incesto, pecaminosa e um fruto indesejado. Algo aconteceu com a mãe dela, pois Lili foi concebida no pecado juntamente com seu irmão. Era sabido que ela merecia a verdade, mas seria preciso que eu ganhasse sua confiança e amizade. Lembrei que ela entrou na cripta e estava com alguns objetos em posse. Olhos verdes conseguiu mais uma vez escapar da verdade, mas agora ela não precisaria mais fugir, pois eu não iria mais importuná-la com nada.
O cheiro de lavanda invadiu o quarto quando Lili saiu da sala de banho. Seu cheiro mesclava-se com a brisa gelada que vinha da floresta. Ela soltou seus longos cabelos brancos, passando de sua cintura com curvas perfeitas. Usava um vestido negro, o que entrava em contraste com sua pele clara. As anciãs a julgariam por aquele vestido curto e sem mangas. Observei por alguns instantes enquanto ela penteava os cabelos com ternura. Sorri ao compará-la com a deusa Solária, rainha do sol e da primavera, tão branca e angelical quanto Lili. Ela me viu sorrindo ao observá-la pelo espelho, então largou sua escova na penteadeira e veio em minha direção. Seus cabelos cobriam-lhe os ombros, caindo em cascata até a cintura. Senti vontade de mordê-la, mas afastei aquele pensamento, pois não sentia fome no momento, me amaldiçoei por pensar naquilo.
- Do que você está rindo? – ela perguntou, sentando-se ao meu lado.
- Você me lembra uma deusa – falei.
- Ah, ela era tão estranha quanto eu? – perguntou, fazendo uma careta de dúvida.
- Não, ela era a mais bela – suspirei, ela pareceu corar, então virou o rosto para frente. – Era tão bela e bondosa, que despertou a ira e inveja de sua irmã Shaya, deusa da lua e do gelo.
- Me conte mais – falou, ainda observando a floresta.
- Quer mesmo saber? – perguntei. – É uma crença de meu povo sobre a história de Blizzard.
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SOMBRIO
VampireSora Bloom ainda carrega a culpa nos olhos. Reclusa em sua casa que um dia já foi um grande castelo, ela tenta viver longe de todos após o fatídico dia em que sua família a deixou. Quando as tempestades chegam em Blizzard, algo estranho surge entre...