46| Que Chegue a Você

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SORA

- Papai! – corri apressada até o pequeno templo. – Papai!

- Estou aqui querida.

Ele usava seu quimono branco e estava sentado no chão, escrevendo alguns pergaminhos. Papai me olhou por cima de seus óculos e inclinou a cabeça para o lado, me instigando a sentar.

- O que faz por aqui?

- Tenho tanta coisa para lhe contar. Eu conheci o Sr.Morte! Ele é horrível e me deu cascudos... argh! Eu odeio o jeito que ele me olha e quando resmunga quando ameaço chorar. Aquele cara é terrível...

- Está falando como uma autêntica apaixonada – ele riu quando engasguei com chá oolong.

- Não! Ele é terrível! O senhor sabe quem eu amo – guinchei.

- Sei. É Lieff não é? Como ele está?

- Papai! O senhor sabe que eu amo Charlie – ele fez uma careta de surpresa e dúvida. – Não lembra dele? O policial!

- Ah... ele. Desculpe, pensei que tinha bom gosto para homens – ele riu quando bufei. – Me fale mais desse garoto. O Sr. Morte. Ele é bonito?

- Sim... quer dizer, não! – papai riu até ficar vermelho.

- Calma, não precisa ficar nervosa. Mas uma coisa é certa, você gosta dele, e muito. Vejo isso apenas no modo como fala dele. Esse Sr. Morte, ele não me parece tão ruim – ele fez alguns rabiscos no pergaminho, que logo deu origem ao símbolo do yin yang. – O que você foi fazer no mundo inferior?

- Eles dizem que eu sou uma divindade. Estou tão confusa. Quero a sua ajuda – murmurei.

- Agora não, você está acordando...

- Mas eu não quero acordar...

Os sonhos não vieram, achei que talvez o motivo fosse meu extremo cansaço. Mas isso não foi algo ruim, porque depois de cinco dias presa no mundo inferior ninguém teria sonhos com unicórnios e borboletas. Acordei com o som do Coldplay invadindo meus pensamentos, tateei a cama para encontrar o celular. Estava com muita preguiça para abrir os olhos e continuei minha procura preguiçosamente até minha mão ir parar em algo quente e macio. Era o peito de Lieff, de repente recordei de tudo que havia acontecido e recuei rapidamente. Criei coragem e sentei, queria sair o mais rápido possível daquele quarto. Olhei para lado e lá estava ele com o meu celular nas mãos, o visor clareava o olhar sombrio que ele lançava para o aparelho. Ele desviou o olhar para mim como se pela primeira vez tivesse notado minha presença.

- Tome – ele estendeu o celular. – Charlie não para de ligar, é melhor você atender logo. Quer comer alguma coisa?

- Ah – fiquei com cara de babaca. Por que isso só acontecia nas piores horas?

- Vou descer e comer algo. Quer alguma coisa? – ele passou a mão em frente a meu rosto e sorriu. – Ei, você está bem?

- Estou – só agora percebi que estava faminta, no mundo inferior raramente senti vontade de comer alguma coisa.– Que tal uma pizza?

- Você que manda.

Ele aproximou-se de mim, senti meu corpo esquentar e tive vontade de recuar, mas não o fiz. Lieff apenas beijou minha testa e depois pulou da cama para vestir uma blusa. Fiquei aliviada por ele não forçar a barra, não era nada fácil lidar com dois garotos ao mesmo tempo. Não consegui lembrar o que tanto me incomodava no momento, mas para a minha grande vergonha consegui lembrar o que era. Amanda tinha presenciado aquela cena de quase amor entre mim e seu filho. Senti meu rosto esquentar ao saber que teria que encará-la.

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