PRÓLOGO - DESPERTAR

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     Quando abri os olhos, estava escuro. O cheiro de terra e decomposição me cercava. O ar ao meu redor estava viciado. Tentei me mover, mas não havia espaço. Aos poucos, percebi onde estava. Pânico e raiva apareciam em medidas iguais. 

     Eu não deveria estar aqui. Algum engano foi cometido. Ao acordar do mais profundo sono de minha vida, o lugar era escuro e com cheiro de morte. 

     Meu primeiro instinto foi tentar empurrar uma porta que estava muito próxima de meu rosto, comecei a entrar em pânico, entendi que fui enterrado vivo. Meu corpo, agora preso em um caixão, estava intacto, porém meu rosto que outrora fora jovial e sorridente, agora está opaco e rude como uma rocha.

     As laterais do caixão foram as primeiras a ceder, possibilitando a entrada de terra e me sufocando rapidamente. Quando finalmente consegui quebrar a porta do caixão, uma enxurrada de terra caiu sobre meu corpo antes que eu pudesse me levantar. 

     Aos poucos, pedaços voltavam de trás para frente. Há muitos anos, eu morri, embora não recordasse como. A sensação em meu peito avisava que não deveria recordar nada. Mas o fazia. Não recordo como foi minha morte, se alguém me matou ou se fui acometido por uma doença.

     Percebi que o tempo passa mais rápido quando estamos dentro de um caixão. Apesar de muito embaixo da terra, ouvia sons ininterruptos acima de mim. 

     Uma parte longe em meu cérebro declarava que aquilo era o progresso, embora não conseguisse entender exatamente a que ele se referia. Por alguns instantes pensei em ficar ali para morrer, mas a morte era uma realidade distante.

     Não entendo porque isso aconteceu comigo, eu poderia simplesmente ter morrido, daria de bom grado toda a minha carne para os vermes. 

     Sabia que isso estava errado, não é natural, não é assim que funciona a lei das coisas, a gente morre e pronto, vai pra debaixo da terra e fica lá até apodrecer. Bem, foi isso o que eu pensei até acordar dentro de um caixão envelhecido e coberto de terra. 

     O mais horrível de tudo é que pensei estar acordando no dia seguinte a minha última noite de vida, mas estava enganado. 

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