58| O Chamado Soturno da Deusa

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NERO

Estou correndo até um redemoinho de sombras dançantes. A lua horrenda paira no céu e sorri para mim de uma forma esquisita. Tento achar uma saída do vale cercado de lírios negros, mas para onde vou só encontro mais espinhos. O tempo em meu relógio de bolso está parado, assim como aquele lugar morto. Mas era a minha mente, minha profunda escuridão. As sombras voltam a rodopiar em volta do grande redemoinho negro que parece ganhar força a cada rotação. Uma silhueta surge ao lado dele, é uma garota. Minhas correntes começam a arder fortemente e caio inutilmente no chão, olho para a lua e me pergunto porque uma criatura como aquela habita minha mente, seria alguma divindade?

- Você fala? Quem é você? – esganicei.

A imensa lua olhou para mim e fez um movimento estranho, como se estivesse concordando. Aquele sorriso macabro era perturbador.

- Fale comigo! Por que estou aqui? – gritei, sentindo a dor tornar-se lancinante.

- Uma pergunta de cada vez...

- Ahhhhh – ao som daquela voz gutural, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento, tapei os ouvidos enquanto recebia mais uma onda de dor.

- Ei vampiro...

- Faça parar! Aaaaah!

Um vento soturno varreu o campo de lírios negros, e a dor foi cessando, dando lugar ao um fraco zunido em meus ouvidos. Olhei para cima e a lua ainda continuava a me fitar.

- O que é você? – indaguei.

- Quer mesmo saber vampiro? – sua boca não fazia qualquer movimento, o sorriso ainda continuava estampado em seu rosto.

- É alguma divindade?

- Não... eu sou você vampiro...

- Não! Cale essa maldita boca, faça parar!

A dor voltou quando a lua soltou uma gargalhada que reverberou para todos os lugares. De repente o redemoinho já estava muito próximo de mim, foi quando pude ver o rosto da silhueta. Era Sora, mas ela estava diferente, parecia poderosa e impiedosa. Uma confusão de cores varreu meus pensamentos, me transportando para outro lugar. Ouvi uma suave voz vinda do escuro, uma voz que outrora me trazia tranquilidade.

- Ei Nero! Acorde... – acordei abruptamente ao sentir a mão de Lili em meu peito. – Está chorando?

Fiquei em silêncio, tentei ao máximo ignorá-la, mas foi impossível quando ela segurou um de meus braços e roçou o dedo sobre a lua negra tatuada na palma das minhas mãos. Me encolhi rapidamente e sentei, ela estava usando uma camisola idêntica ao de nosso último encontro.

- Está todo molhado – ela aproximou-se e passou a mão por minha testa. – Por que estava gritando tanto?

- Saia daqui! – pigarreei.

- Não, quero saber se você está bem. O que te atormenta tanto em seus sonhos? – ela voltou a se aproximar, dessa vez quase sentando em meu colo.

- Saia daqui...

- Não! – gritou, me fazendo pular.

- Por que não volta para Oorland e me deixa em paz?

- Por que você tem um trato comigo, e eu gosto de você Nero! – ela passou o edredom em meu peito suado. – Nunca mais me deixe sozinha.

- Ainda não entendeu? Não tenho mais nada com você, fique longe – grunhi.

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