Paraplegic |ZM|

1.5

Dezoito de outubro de dois mil e vinte. Londres.

Isabella Campbell Point Of View

- Eu já disse que não estou interessada em cursos onlines. – atendi o telefone, falei e desliguei.

Voltei a caminhar para a minha faculdade.

Minhas noites estavam sendo horríveis. Conturbadas. Eu já dormia sozinha, mas o medo ainda estava presente em todas as noites. Todas as noites eram caóticas e sempre por algum motivo eu acordava chorando.

Até que um dia sonhei com um avião caindo. E todas as noites esse mesmo avião me atormenta. Às vezes parece que eu não durmo direito por que sempre acordo cansada e mais nervosa do que antes e o que me faz quase esquecer disso tudo é a faculdade que ainda não acabou.

Assim que entrei na faculdade fui direto pra biblioteca. Hoje eu não teria prova nem trabalho então poderia estudar o dia inteiro na sala de livros.

Eu tinha pego três livros de ginecologia, que é minha matéria favorita, e estava na mesa bem em frente a reitora da biblioteca.

Não sei por que mas em dado momento meus olhos foram pesando e eu acabei encostando minha cabeça nos livros. Foi impossível controlar o sono e logo eu estava dormindo.

E foi o pior sono da minha vida.

Em flashes eu lembrava de tudo o que aconteceu no dia do acidente.

A nuvem escura.

O avião balançando.

As luzes piscando.

As malas caindo.

Os gritos.

O desespero dos passageiros.

O homem ao meu lado sem cinto.

Era Zayn.

Zayn estava ao meu lado sem cinto.

O barulho dos motores falhando.

O sorriso nervoso das aeromoças.

Os gritos e choros dentro daquele transporte aéreo.

Os diversos pedidos de calma dados pelas aeromoças.

A fumaça do lado de fora do avião.

O desespero.

A aflição.

O medo.

E então a queda.

O vento entrando no avião de modo rápido e cortante.

O impacto com as árvores e o chão.

A barulho da água.

As dores e os gritos na floresta fria e escura.

Uma tempestade que se aproximava.

Os corpos ao redor de onde eles caíram.

O sangue que se misturava com o verde da selva.

Membros sem donos.

Dor.

Muita dor.

O osso exposto de Zayn e logo meu casaco cobrindo o ferimento.

O medo da noite.

A busca por água.